Após oito anos de indecisão, família García Márquez vende direitos de Cem anos de solidão para a Netflix
Plataforma estadunidense começará a rodar na Colômbia o roteiro adaptado do livro publicado em 1967 pelo escritor Gabriel García Márquez
A Netflix anunciou no começo deste mês que adquiriu os direitos para produzir o romance Cem anos de solidão, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, publicado em 1967. É a primeira vez que o livro será adaptado para o cinema, ainda que não tenha sido a primeira tentativa.
Ao jornal New York Times, Rodrigo García Márquez, filho do escritor, contou que será o produtor executivo do projeto ao lado do seu irmão, Gonzalo García Márquez. Ele afirmou que o pai havia recebido muitas ofertas para a adaptação, mas que "Gabo" (como era conhecido) sempre se preocupou com a incapacidade de traduzir seu romance para as telas. Uma das conclusões dele era que um único filme seria impossibilitado de contar toda a trama envolvendo a família Buendía -- protagonista do livro.
García Márquez também queria que qualquer adaptação feita para o cinema mantivesse o espanhol como língua principal, o que impossibilitou várias outras ofertas, disse Rodrigo. Ele, no entanto, apontou os motivos para a realização do projeto agora. "Nos últimos três ou quatro anos o nível, o prestígio e o êxito das séries cresceram muito. A Netflix foi uma das primeiras a comprovar que as pessoas estão mais dispostas a ver séries produzidas em outros idiomas [que não o inglês] com legendas. O que parecia um problema não o é mais", comemorou.
Francisco Ramos, vice-presidente de conteúdo original para a América Latina e a Espanha da Netflix, disse que a empresa já tinha tentado comprar os direitos da obra antes, mas que encontrou resistências por parte dos filhos. No entanto, os êxitos recentes de Narcos -- série produzida pela plataforma em espanhol -- e Roma, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no mês passado, fizeram com que eles repensarem. "A Netflix pode produzir conteúdo em espanhol para o mundo inteiro".
Cem anos de solidão conta a história de um século da família Buendía, cujo patriarca, José Arcadio Buendía, funda o povoado fictício de Macondo. O romance é considerado uma obra central do chamado boom da literatura latino-americana, nos anos 1960, e um dos grandes trabalhos do realismo mágico. Desde que foi publicado, o livro vendeu cerca de 50 milhões de cópias e foi traduzido para 46 idiomas. A fama dele ajudou seu autor a ganhar o prêmio Nobel de Literatura em 1982.
Até hoje há um imenso debate sobre qual história Gabo tentou contar na obra: a da sua cidade natal, Aracataca, no interior da província de Magdalena, cujas descrições com Macondo são semelhantes, a da Colômbia, pelos registros históricos, ou a da própria América Latina. Seu povoado de origem, aliás, participa de campanhas de passagens aéreas em promoção há alguns anos para promover o turismo por conta do livro (o aeroporto mais próximo fica na cidade de Santa Marta, no Caribe colombiano).
Não é a primeira vez que um livro de Gabo vai às telas do cinema: o diretor Mike Newell e o produtor scott Steindorff passaram três anos tentando convencer o escritor a lhes vender os direitos de O amor nos tempos do cólera, obra publicada em 1985, já no México. Eles tiveram êxito quando apresentaram um projeto em que a cantora colombiana Shakira topou compor duas canções originais para o filme. A película estreou nos Estados Unidos -- em inglês -- em 2007, estrelando o ator espanhol Javier Bardem e a italiana Giovanna Mezzogiorno, e chegou a ser nominada para o Globo de Ouro do ano seguinte.
Em 2011, o dinamarquês Henning Carlsen levou Memórias de minhas putas tristes (2004) ao cinema com o lendário ator mexicano Emilio Echevarría e a filha de Charles Chaplin, a atriz estadunidense Geraldine Chaplin. O filme, ao contrário do outro, foi gravado em espanhol, ganhando dois prêmios no Festival de Cinema de Málaga, em 2012.
Ainda que seja muito cedo para saber quem fará parte do elenco, Ramos contou ao NY Times que a série terá os melhores talentos latino-americanos e que ela será rodada na Colômbia. Os irmãos García não ficarão responsáveis pela produção, porque admitiram que podem influenciar na adaptação do roteiro -- o que não querem fazer. Nem a Netflix nem eles divulgaram os valores envolvidos na compra.
Ramos disse que, para a América Latina e, especialmente para a Colômbia, a história do romance é a do século que "deu forma ao continente por meio de ditaduras, o nascimento de novos países e o colonialismo". Ainda deu ênfase ao fato da história ter atrativos mais gerais. "Sabemos que será mágico e muito importante para os colombianos e para a região, mas o livro de Gabo é universal".
Rodrigo García revelou que a discussão sobre vender ou não os direitos de Cem anos de solidão já durava oito anos. "Não foi uma decisão sem complicações, tanto para mim quanto para meu irmão e minha mãe. Sentimos que abriu-se um grande capítulo, mas que um outro, muito grande, foi encerrado".
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