Depois da França, húngaros vão às ruas contra primeiro-ministro Viktor Orbán
Reeleito em abril para um novo mandato, líder de extrema-direita enfrenta sua primeira grande manifestação pública de oposição
Opositores de Viktor Orbán, primeiro-ministro de extrema-direita da Hungria, foram às ruas por cinco cinco dias consecutivos no mês de dezembro no que se tornou a maior demonstração popular de insatisfação ao governo de Orban desde sua chegada ao cargo, oito anos atrás.
Os protestos começaram na quarta-feira (12), como reação a duas novas leis: uma que força os trabalhadores a uma jornada de 400 horas de horas-extras por ano, e uma segunda que cria um sistema judicial paralelo que vai minar severamente a independência da Justiça.
No domingo (16), as manifestações se tornaram um grande ato contra muitos aspectos do governo de Orban, considerado autoritário por muitos países da Europa. Os manifestantes, cujo número mais alto se estima em 15 mil pessoas, organizaram eventos relativamente pequenos, dado que Orban foi reeleito em abril com cerca de 50% dos votos em uma eleição que observadores internacionais consideram "livres", mas não "seguras".
Os analistas, no entanto, ficaram impressionados com a rara unidade dos manifestantes, que incluiu vários partidos do fragmentado espectro político húngaro, e também pela persistência. Eles foram às ruas mesmo com as baixas temperaturas e foram considerados "traidores" e agentes de George Soros, o filantropo húngaro-americano, pela maioria dos veículos de imprensa privados e do Estado, que são controlados por aliados de Orban.
Cerca de 2 mil pessoas marcharam quilômetros pela neve de Budapeste no domingo à noite até o portão fora do quarteirão da mídia estatal, que se tornou símbolo do governo Orbán por causa do seu constante apoio à agenda do primeiro-ministro. "Fábrica de mentiras", cantava a multidão fora do edifício, antes de ser dispersa pelos policiais com gás de pimenta e uso de pistola airsoft.
Peter Kreko, diretor-executivo do grupo de pesquisa Political Capital, sediado em Budapeste, observou o ato à distância. "Quanto tempo isso vai durar, nós não sabemos", disse ao jornal britânico The Guardian. "Mas é uma massa significativa -- no sentido de que parece que há um comitê de oposição contra o governo, e eu acho que pode ser o início de um movimento mais amplo", completou.
Um porta-voz do governo, Zoltan Kovacs, minimizou as manifestações. "Nós todos sabemos que não há apoio popular por trás do que está acontecendo". Akos Hadhazy, advogado da oposição, tentou liderar o protesto durante o ato em frente ao prédio do jornal estatal, mas foi detido pelos policiais. "Isso é um bastião do poder deles", disse em uma entrevista após ser liberado. "80% das pessoas são informadas pelos meios do governo", completou.
Desde que chegou ao gabinete, em 2010, Viktor Orban proveu uma moldura democrática para um governo autoritário que foi imitada nos anos seguintes pela Polônia e inspirou líderes de extrema-direita na Itália, na França, na Holanda e, mais recentemente, no Brasil. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, conversou com Orbán em novembro, por telefone, quando soube do homólogo húngaro que ele deve estar na sua posse, em Brasília, em janeiro. "Ele está muito feliz com a nossa eleição", disse Bolsonaro, na portaria do condomínio onde mora na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
O presidente eleito falou sobre a possibilidade de firmar futuras parcerias com a Hungria. Ao descrever o país do Leste Europeu, ele ressaltou os impactos do regime socialista e destacou que o brasileiro “não sabe” o que é ditadura por que não houve ditadura no Brasil. "A Hungria é um país que sofreu muito com o comunismo no passado, tem um povo que sabe o que é ditadura. O povo brasileiro não sabe o que é ditadura aqui ainda. Não sabe o que é sofrer nas mãos dessas pessoas."
Orban erodiu as instituições democráticas, incluindo um redesenho do sistema eleitoral em favor do seu partido e a cooptação dos meios de comunicação para minar que as ideias da oposição sejam veiculadas. Em setembro, o Parlamento Europeu acionou pela primeira vez o Artigo 7º do Tratado da União Europeia e recomendou a instauração de um procedimento disciplinar contra a Hungria por violações graves a direitos de imigrantes e por ignorar regras democráticas. O artigo prevê, como sanção máxima, a suspensão dos direitos de voto do Estado-membro.
Les gilets jaunes
Os atos na Hungria acontecem semanas depois que os franceses foram às ruas protestar contra o aumento de impostos do combustível aprovado pelo governo de Emmanuel Macron.
O movimento foi nomeado de "gilet jaunes" ("coletes amarelos") porque os manifestantes vestem os coletes fluorescentes que todos os motoristas precisam, por lei, carregar em seus veículos. Mas o que começou como um protesto contra o aumento do combustível agora se transformou em um movimento antigovernista que se expandiu pela sociedade francesa.
Ao contrário de movimentos de protestos franceses anteriores, este se espalhou por meio das redes sociais por meio de petições e foi organizado por pessoas comuns postando vídeos em seus perfis, sem um líder, uma associação ou um partido político no controle. O primeiro dia nacional de protestos se difundiu pela França no sábado de 17 de novembro, mas diminuíram desde que Macron anunciou um aumento de 100 euros no salário mínimo e a revisão do aumento.
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