No Rio Grande do Sul, turismo ajuda a desenvolver agricultura familiar
Cidades do campo gaúcho conseguem manter produção por causa de interesse dos turistas na região
Em Picada Café, a 80 km de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o agricultor Ricardo Fritsch lidera uma cooperativa que desenvolveu há 15 anos o roteiro Sabores e Cafés da Colônia, voltado para a produção local e artesanal de geleias, pães e cervejas. É um dos exemplos mais acabados de uma ideia que tem crescido no estado: fomentar o turismo para que ele, por sua vez, ajude a financiar a agricultura familiar.
"A aliança entre turismo e agricultura familiar permite que o agricultor melhore a propriedade. Ele vai evoluindo, aperfeiçoando a propriedade para receber o turista. O turismo ajuda a desenvolver, ajuda a sustentar", disse Fritsch.
"Hoje, o filho do agricultor não faz só Ensino Médio, ele vai para o ensino superior e tudo tem custo. O filho do agricultor também tem celular, notebook, tudo isso tem custos. Essas melhorias não são luxo, isso o agricultor também tem direito, isso ele só consegue com renda, e o turismo faz isso acontecer", completou em entrevista à Agência Brasil.
Além de financiar os custos de produção e de mantê-la sempre como um atrativo para pessoas de fora da região, Fritsch ainda acredita que a presença dos visitantes faz com que o negócio no campo sirva também mantenha os jovens - filhos dos agricultores mais antigos - no interior. O fenômeno de migração do campo para a capital nas últimas décadas fez com que a média imobiliária em Porto Alegre subisse significativamente de preço.
"Esse é o nosso grande desafio hoje, o envelhecimento na agricultura. Com o projeto, os jovens ficam, porque eles conseguem perceber que alguma coisa está acontecendo, porque o pai dele tem uma outra visão de mercado, tem uma outra visão de produção", analisou. "Hoje, os agricultores são levados a escolas para darem palestra ou somos visitados pelas escolas porque nós somos os inovadores, o que vem despertando em nossos filhos o interesse maior em ficar na propriedade", continuou.
Nos últimos anos, profissões ligadas à gestão ambiental e à sustentabilidade passaram a aparecer nas listas dos empregos do futuro. Como o mundo enfrenta uma série de problemas climáticos e ambientais discutidos em reuniões de cúpulas internacionais, organizações ligadas ao meio ambiente e de líderes mundiais, a área passou a ser explorada em cursos universitários, como engenharias ambiental e química.
Para o secretário especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) do governo federal, Jefferson Coriteac, o turismo no Brasil é um setor que tem muito ainda a ser explorado. Para ele, a agricultura familiar vai além do turismo como um lugar de visita, mas também é atrativo do ponto de vista da gastronomia.
“O Brasil tem um grande potencial para crescer, e nós, que trabalhamos com agricultura familiar, com os agricultores familiares, entendemos que o crescimento do Brasil passa pela agricultura familiar”, disse Coriteac durante um encontro de agricultores no final do mês passado.
“A agricultura familiar tem que ser muito divulgada. Hoje, 70% do alimento que vai para a mesa do trabalhador [brasileiro] vem da agricultura familiar. Tem tudo a ver a divulgação da agricultura familiar com a divulgação do turismo”, acrescentou.
“Nós precisamos divulgar nossos produtos, nossos agricultores familiares precisam abrir o mercado, precisam vender seus produtos, não adianta só o governo federal dar condições para ele produzir mais, facilitar a compra, facilitar a produção, se ele não tiver a comercialização, que é um dos gargalos da agricultura familiar. O turismo é mais um mercado que nós estamos abrindo, mais uma trincheira que nós estamos abrindo, e o nosso agricultor familiar tem um canal de venda para seu produto”, finalizou o secretário.
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