Brasil,

No único bote emprestado do DPVATJ, no navio cheio de jabutis, onde o capitão se salvou ileso

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Armando L Francisco
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Armando L Francisco Armando L Francisco

"Era uma vez um barco que levava jabutis, nos oceanos do TERRÍVEL Imposto, que pagava funerais dos acidentados causados por veículos automotores, no país chamado Descontrole. Depois de muitas décadas, o navio naufragou em meio a escândalos e roubalheiras; em um verdadeiro caso de polícia, em que nem mesmo os próprios jabutis foram presos, apesar da pilhagem que fizeram em todo o trajeto de sua existência.

Após o choque do navio em um iceberg, ainda que não estivesse em perigo imediato de afundar, pasmem, o capitão foi a primeira pessoa a sair do navio, depois do caviar e champagne, usando o único bote comprado como relíquia do próprio DPVATJ (Dinheiro Pilhado pelo Vício Autorizado em Tratativas Jabotizadas). Felizmente, a pequena parcela que sobrou do dinheiro do DPVATJ, ainda não pilhado, dentro da embarcação, deu para pagar os funerais dos acidentes de trânsito do país chamado Descontrole, por vários anos."

Ulysses Guimarães dizia: "jabuti não sobe em árvore. Se está lá, ou foi enchente ou foi mão de gente". Porém, o que ele mais ou menos queria dizer é que o contrabando ou transplante de uma lei havia sido introduzido por interesses difusos em outros projetos de leis, que aqui é chamado de Jabuti.

No mundo corporativo de Descontrole, imagino, tudo acontece antes da discussão. Primeiro, se decide que a Lei poderá beneficiar uma "parcela ou a totalidade" dos interesses de alguns. Feito isto, há a necessidade de se introduzir a legalidade. Depois, se criam os grupos de debate, as comissões, os fóruns, as apresentações, com convidados a relatar e escolhidos a dedo para oratória; as visitas ao Legislativo, ao governo, com jabutis diretos ou jabutis por lobby indiretos. E "quando todo mundo diz: yes, nós somos bananas!, se aprovam as medidas e os jabutis encantados desaparecem e restam apenas o pagar e o chorar.

Ontem, estava em um dos maiores supermercados do Brasil e parei para observar uma promoção, que pode muito bem ilustrar o que estou escrevendo aqui:

Um homem forte e com voz de galã apregoava uma grande oferta. Primeiro, subiu em uma espécie de palanque (que era uma escada) e com o microfone nas mãos chamava os consumidores para uma oferta imperdível, fantástica e do outro mundo. Antes, um ajudante distribuía senhas para o público, e para um sorteio. Percebi que todos os que receberam senhas foram chamados a se aproximarem, inclusive eu.

Em seguida, com certo encantamento e técnica, aquele homem entrou na mente de todos os presentes com uma força "angelical". Ele pedia para levantar a mão e todos levantavam. Ele lá em cima e nós aqui embaixo. Ele sorria e todos nós sorrimos também. Alguns cruzavam os dedos das mãos em aparência de oração. Ainda tenho em mente a imagem da mulher de cabelos longos com olhos vidrados, parecia estar em uma igreja e praticando seu culto. Mas, como um elogio, um grande vendedor! Ele sabia o que estava fazendo, porque era realmente um vendedor especial.

Depois de provar que faria uma promoção de arrebentar o coração da galera e que cada pessoa poderia comprar apenas dois produtos, limitando-se o interesse, que ele ainda não tinha falado do produto... o povo de boca aberta estava disposto até a brigar pela coisa que ninguém sabia o que era, menos ele e sua equipe. Todos olhavam para aquele homem como se fosse um deus. Eu fiquei assustado e só queria saber o que ele tinha de tão interessante na promoção, que fazia o povo quase flutuar nas nuvens com suas palavras.

Foi aí que ele falou da promoção: um relógio parecido com o verdadeiro, que ele dizia que custava R$ 990,00, que saia por apenas... R$ 29,00 - eu observei... ele só falou R$ 29,00! Eu esperei ele falar mais, contar tudo! Aí eu perguntei: quantas vezes de R$ 29,00?. Ele não gostou, pareceu recuar, mas disse baixinho, desviando-se dos demais olhares do público: 12 x. Eu já havia visto o preço daquele relógio por R$ 49,90, sem promoção. Nos sites chineses deve custar uns R$ 20,00 e com fretes grátis!

Mas a minha visão se deteve na fila que se formou. Eu mesmo tentei dizer ou alertar para duas moças que ali estavam, bem baixinho na voz, que já puxaram o cartão e iam comprar dois relógios: com licença, moças, esse relógio não vale isso, você compra cinco ou seis desses produtos por esse preço; mas não adiantou nada! Realmente, me tornei fã número um daquele rapaz... como ele conseguia fazer aquilo... ele era bom no que fazia... eu o admirei, eu o respeitei, mas certamente aquele relógio não era para mim; portanto, não comprei.

Ontem, ainda, sobre um assunto qualquer da vida, uma pessoa muito famosa de uma outra atividade qualquer, me disse: estou parado... sabe... nunca ouviu dizer que ao ficar parado as coisas se alinham? Eu disse, em gargalhadas: só conseguimos parar quando estamos mortos! Aí, ele gargalhou também!

Estamos mortos? Estamos? Me diz aí, pequeno segurador! Estamos mortos? Por gentileza, você que me lê, me diz?! E você, um corretor de seguros que não tem poder, me diz? Você concorda que estar parado é estar morto? Você ainda vai cair no conto do palco?

O assunto deste meu texto é o Jabuti no barco do seguro obrigatório lá de Descontrole, em que os pequenos seguradores, os corretores de seguros, os consumidores de seguros, a população em geral podem sair prejudicados.

Será que não há uma percepção do que está por vir aí? Será que se receber uma senha para uma participação acionária com “Zero vírgula qualquer coisa de porcentagem” é o mesmo que "fique calado que eu gosto"...? Será que não se consegue fazer pressão suficiente para que essas "promoções" se encerrem? Será que não se consegue perceber que a promoção não é promoção nenhuma? Ou, que pode ser que se saia bem no prejuízo? Será que as vozes do passado apagaram o momento de lucidez, que todos deveriam ter ao menos em algum momento da vida? Talvez, aquela pessoa que estava no supermercado ontem seja você... talvez no púlpito... talvez comprando... talvez apenas observando... ou talvez você seja o dono do supermercado, que permite vendas no microfone da loja, por um galã de novelas, muito bem apresentado, fala mansa e inteligentíssimo. Aliás, todo o respeito por ele, pois fez exatamente o que se propôs a fazer e merece todo sucesso que venha a conquistar, mas somos nós que pagamos a promoção.

Termino assim: ainda bem que esse é apenas um conto de fadas, onde nada disso acontece aqui no Brasil e os personagens são fictícios, e qualquer semelhança com a realidade não deve passar de uma mera coincidência, porque seria de admirar que um mal desses viesse a acontecer aqui algumas vezes; mas que eu vou continuar com esse assunto nos próximos capítulos, isso vou mesmo!

Armando L Francisco
Jornalista e Corretor de Seguros


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