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País avança, mas é preciso deter o corporativismo

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Economistas e cientistas políticos reunidos no 22º Encontro de Líderes do Mercado Segurador veem grupos de pressão como possíveis entraves às reformas

O Brasil começa a trilhar um caminho que lhe permitirá superar sua grave crise econômica, mas é preciso evitar que interesses corporativos prejudiquem as reformas do governo Michel Temer e o avanço econômico e social. A opinião é de economistas e cientistas políticos reunidos no Costão do Santinho, em Florianópolis, para o 22º Encontro de Líderes do Mercado Segurador. O evento, encerrado hoje, é promovido pela CNseg (Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização).

“O corporativismo substituiu a ideia de sociedade civil e talvez seja a parte mais forte das nossas instituições”, afirmou o cientista político Carlos Melo, do Insper, em palestra sexta-feira no painel “Sociedade”. Para ele, porém, do ponto de vista institucional do Brasil é o país mais saudável dos BRICs e vive um relativo avanço institucional, inclusive pela pulverização dos meios de comunicação, que produz uma sociedade mais informada e inibe retrocessos. “O governo Temer está agindo, mas ainda não vamos ter todas as respostas.”

O economista Samuel Pessoa, da FGV, disse que a evolução do desenho institucional brasileiro é muito melhor que a melhoria da economia. Para ele, é preciso persistir no ajuste fiscal de modo a deter os grupos de pressão corporativistas contrários às reformas. “O inferno somos nós. Temos que abrir a economia e nos ligar ao mundo.” Para o mediador, o economista Sergio Besserman, “os imensos desafios que temos pela frente não são conjunturais”. “Nossa desigualdade não é só de renda. Somos uma sociedade profundamente hierárquica e patrimonialista”, afirmou.

No painel “Economia”, também na sexta-feira, Luiz Roberto Cunha, Sérgio Vale e Alexandre Schwartsman enfatizaram a necessidade de o governo persistir no rumo das reformas, já encaminhadas com a aprovação da PEC do Teto dos Gastos e com o projeto de reforma da Previdência, entre outras medidas. Para Vale, da MB Associados, a ação do governo permitiu o retorno a uma normalidade econômica. “A previsibilidade é extremamente positiva. Teremos um crescimento previsível, mas ainda medíocre”, disse ele, que aposta em uma expansão do PIB de 1% este ano, puxado pela boa previsão para a safra agrícola. Schwartsman, do Insper, aposta num crescimento mais próximo a 0,5%. Segundo ele, “o caminho para o retorno do crescimento não permite desvios”. “Mas há um senão: estamos implantando uma política econômica que não passou pelo teste das urnas. Nas eleições de 2018 e 2022 ela vai ser avaliada de novo”, alertou. Já para Cunha, da PUC-RJ, o governo Temer é caracterizado por “incertezas e oportunidades”.

O evento foi aberto na noite de quinta-feira pelo presidente da CNseg, Marcio Serôa de Araujo Coriolano. Segundo ele, o setor deve apresentar este ano um resultado melhor que o de 2016, quando cresceu acima de 9%. “A despeito das tarefas que ainda pendem para a reconstrução do país, o setor de seguros estará sempre preparado para reagir positivamente a políticas públicas na direção da recuperação do ambiente econômico e da confiança dos consumidores e investidores”, afirmou.

Também na abertura, o presidente da FenaPrevi, Edson Franco, disse que o Brasil passa por um processo de transformação profunda. “Ao mesmo tempo que se consegue corrigir as distorções econômicas, o país passa a limpo a corrupção sistêmica. Discordo que passemos por uma crise ética. Crise ética nós vivíamos antes, quando cínica e silenciosamente as pessoas acreditavam que era assim mesmo. Agora há uma reforma ética.”

Para o presidente da FenaCap, Marco Barros, “é através de lideranças que vamos sair deste momento. Lideranças é que transformam e melhoram a qualidade de vida de uma sociedade”. Também presente, o presidente da Susep, Joaquim Mendanha, afirmou que “é preciso construir a convergência para que possamos avançar. Vamos sair do discurso e partir para os atos”.

A presidente da FenaSaúde, Solange Beatriz Palheiro Mendes, criticou a visão de que a saúde suplementar é de natureza pública, o que afeta contratos e regras pré-estabelecidas. “O desafio do setor é garantir e ampliar o acesso aos planos de saúde.”

João Francisco Borges da Costa, presidente da FenSeg, destacou que seu segmento teve um ano de 2016 “bastante difícil”, com crescimento de até 0,5%, mas que iniciativas como o Auto Popular podem levar a uma expansão de até 3,5% este ano.

O 22º Encontro de Líderes terminou hoje de manhã, com palestras de Fernando Abrucio, cientista político da FGV, do ex-deputado federal Paulo Delgado e do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que debateram o tema “Reforma Política” sob a coordenação de Marcio Coriolano.


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