DPVAT: Deus Não Existe (Destaque)
Armando Luís Francisco
Nem todos acreditam em Deus – e para esses a falta de crença é um alento. Se Deus não existe, então o hoje é tudo que temos, e cabe a nós tomarmos as rédeas da própria vida, moldando-a conforme nossos desejos e intenções íntimas. Afinal, se sou eu quem dita as regras, por que não viver intensamente e fazer planos para mim mesmo?
É uma filosofia tentadora: se não há Deus, tampouco há quem nos responsabilize. Sem Deus, somos livres para seguir nosso caminho de ambições e ilegalidades humanas, sem obediência às leis morais, e nossa única preocupação se resume a assegurar o próprio bem-estar. Sob essa ótica, é lógico pensar: se posso me elevar, ganhando bonificações, lucros e mais um tanto de vantagens, por que hesitar? E se para isso for necessário tirar proveito das necessidades de outros, por que divagar ainda mais?
Se Deus Não Existe, Justiça Tampouco?
Você, leitor, pode estar pensando: Mas e a justiça? Onde ela fica, se não há Deus para sustentá-la em última instância, acima dos tribunais humanos. Este é um ponto crucial. Sem uma ordem superior, sem um código moral - novamente -definitivo, a justiça se dissolve em uma questão de perspectiva. O que vale, então, é a liberdade de fazer o que bem entender, sem considerar que algo nos obrigue a pensar no próximo.
E, em nossa sociedade, parece que essa mentalidade prospera. Observamos nossas indústrias e governos tomarem decisões em que a justiça é uma questão vaga, maleável, talvez arquitetada, quase invisível. Nos discursos de poderosos, a lógica é a de quem vê no próximo uma ferramenta de uso e não uma pessoa.
O DPVAT: O Reflexo de Uma Indiferença
Tomemos como exemplo o recente DPVAT. Este seguro existia para garantir que, em caso de acidente, os mais afetados pudessem receber um suporte financeiro. O DPVAT era, para muitos, um sinal horrível e de baixo valor de amparo em uma situação vulnerável. Contudo, esse recurso reflete uma lógica pragmática e fria: se o benefício não rende lucro, então que seja deixado de lado, não importa quantas famílias dependessem dele para uma vida minimamente digna. Deus não existe, então o sofrimento de uma pessoa ou de centenas de milhares delas é insignificante.
Talvez seja simples ver o DPVAT como uma indenização reduzida, uma despesa evitável. Talvez seja fácil esquecer que a cada acidente grave há uma família que perde, e que essa perda não é só financeira, mas emocional e física, que poderia ser amenizada. A questão é: se Deus não existe, a nossa lógica do lucro sobre a vida faz sentido, afinal! E, se Ele existir?
E Se Ele Existir?
Aqui vem a dúvida mais desconcertante. Muitos insistem que não acreditam em Deus, que não há responsabilidade última que lhes pese. Mas o que diriam aqueles que veem, dia após dia, a injustiça pairando sobre suas vidas, sentindo na pele a desilusão de um sistema que os deixa desamparados? Quantos, por mais que não creiam, ainda carregam a esperança de que a justiça exista, de alguma forma, de alguma maneira?
E se, no fim das contas, houver um sentido maior? Se essa justiça perdida entre o DPVAT e o olhar frio da indiferença for apenas uma parcela do que se sabe?
Conclusão
O mundo sem Deus pode parecer libertador para alguns, uma rota livre de pressões morais. Mas, para muitos, esse vazio traz apenas indiferença e sofrimento. No DPVAT e na impassividade diante da necessidade alheia e humana, vemos o retrato dessa indiferença. A verdadeira pergunta permanece: estamos tão livres assim, ou nos tornamos prisioneiros de nossas próprias injustiças, se Deus não existe?
Armando Luís Francisco
Jornalista e Corretor de Seguros
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