Brasil,

Governança É Fundamental em Tempos de Coronavírus

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*Thomas Lanz

Ainda está na lembrança de muitos empresários e executivos, as tantas crises que o país atravessou há algumas décadas em um cenário de constante inflação elevada. Enfrentamos os mais diversos planos e medidas governamentais que, em gera, l pegavam todos de surpresa. Os ex ministros Delfim Netto, Bresser e Mário Henrique Simonsen, na tentativa de debelar a espiral inflacionária, propunham e implantavem seus planos de ajuste. Os presidentes Sarney e Collor também e, finalmente, o plano do Real pilotado por Fernando Henrique Cardoso possibilitou colocar a economia brasileira numa rota de maior estabilidade. Naqueles tempos, empresários e executivos começavam seu dia de trabalho sem saber o que esperar.

A instabilidade e incerteza faziam parte do mundo dos negócios. Muitos ganhavam mais com a inflação do que com o resultado operacional de seus negócios. Como uma corrente sem fio, as medidas tomadas pelos executivos na eclosão das crises, se espalhavam rapidamente pelo mercado e eram adotadas. Após alguns dias tudo se acomodava de uma ou outra forma e a vida continuava.

Até o término do século passado, a governança ainda estava engatinhando em nosso país. Empresas de pequeno a médio portes e, principalmente, as empresas familiares não tinham Conselhos formados enquanto as grandes empresas de capital aberto já tinham seus Conselhos de Administração. Corria à língua solta que os conselheiros iam às reuniões apenas para buscar o seu “ jeton “.

De lá para cá, a governança amadureceu e progrediu muito. A cada dia que passa, mais e mais empresas de todos os portes e categorias vêm introduzindo as boas práticas de governança, tendo os conselhos como pivô central. Até pouco tempo atrás, os conselhos se reuniam para discutir e deliberar sobre todo tipo de assunto. As pautas iam do acompanhamento do desempenho das empresas, discussões sobre estratégias empresariais, questões de gestão, câmbio, auditoria, compliance e eventualmente dificuldades pontuais ou potenciais ameaças. A gestão de riscos, com raras exceções, não fazia da pauta das reuniões de conselho.

Esta é, talvez, a primeira vez que os Conselhos estão sendo chamados a discutir os rumos de suas empresas frente a uma crise inusitada e de proporções nunca antes vivenciada no Brasil. Variáveis da saúde pública, suprimentos, paralisação dos mercados e produção, queda das bolsas de valores, mobilidade urbana, transporte entre outros irão interferir simultaneamente no andamento dos negócios. No atual cenário não se sabe para onde os ventos irão soprar e que tempestades poderão ainda assolar os mercados.

Àqueles que ainda não têm Conselhos, deveriam formar comitês de crises, convidando pessoas de sua confiança para ajudar na discussão e tomada de decisões frente à crise que começa a abalar os mercados e que certamente se agravará nas próximas semanas.

Para empresas que já tem os seus conselhos constituídos, estes deveriam ser transformados em conselhos de crise, ou comitês de crise . Certamente alguns membros destes conselhos tiveram experiências em épocas passadas sobre gestão de crises. Grande parte dos atuais gestores apenas escutaram falar das crises anteriores. O Conselho terá por objetivo acompanhar muito de perto as medidas operacionais que as suas empresas estão tomando, seja em relação à redução de custos, administração do caixa, corte ou postergação de investimentos. O Conselho deverá saber dosar o quanto frear e o quanto acelerar e a partir de quando.

Além da responsabilidade em relação à sobrevivência econômica financeira dos negócios, os conselhos e seus conselheiros precisarão estar muito atentos aos aspectos sociais. O capital humano que tanto contribui para o desenvolvimento dos negócios deverá ser preservado ao máximo. A comunicação com os mais diversos stakeholders deverá ser feita com o máximo cuidado e civilidade. Será necessário aos conselhos pensar e fazer pesar a responsabilidade social das suas organizações. Os pilares da boa governança corporativa, ou seja, a prestação de contas, transparência, equidade e responsabilidade social deverão guiar e sustentar mais do que nunca as decisões e orientações dos conselhos em tempos de coronavírus.

Thomas Lanz, presidiu a Carbex Indústrias Reunidas e a Giroflex SA. Teve importantes cargos de gestão na Mangels Industrial e Lafer Industria e Comercio. É conselheiro de administração certificado pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), participando de conselhos tanto de empresas nacionais como estrangeiras. Formado em economia pela PUC – São Paulo e mestre em administração de empresas pelo INSEAD – França. É certificado pelo FFI (Family Firm Institute) de Boston – EUA. Tem inúmeros artigos publicados e foi co - autor dos livros Aspectos Relevantes da Empresa Familiar e Empresas Familiares – Uma Visão Interdisciplinar publicados pela Editora Saraiva e Editora Noeses respectivamente.


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