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Coronavírus: reflexões para o ecossistema de inovação

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  ACE Startups / Enviado por Nathalia Campero
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Como nós podemos responder à pandemia, mitigar os riscos e danos, e ainda transformá-la em crescimento? A inovação joga no ataque.

Esta carta aberta é um convite para o ecossistema brasileiro jogar no ataque, se tornar mais antifrágil e conseguir aproveitar o que pode ser uma oportunidade imensa de transformar o Brasil por meio da inovação.

De startups que podem ajudar a mitigar os impactos do COVID-19 na economia e nos negócios, a iniciativas a serem abordadas por demais investidores e corporações, apontamos algumas das alternativas para sobrevivência e prosperidade mesmo em um momento de ampla incerteza e crise.

Coronavírus e impactos na economia

O coronavírus se tornou uma pandemia e há progressão geométrica no número de pessoas infectadas e também nos impactos econômicos. Enquanto deixamos a parte biomédica a cargo de infectologistas, nos concentramos na repercussão no mundo dos negócios.

Mas o que pode acontecer com a economia por conta da pandemia?

Ninguém pode ter certeza.

Dos melhores futurólogos aos economistas-chefe dos principais bancos mundiais, ninguém pode prever os próximos passos. Os dados demonstram que medidas consideradas "drásticas", somadas a um forte senso cívico, podem conter o surto dentro de três meses.

Ray Dalio, guru das decisões orientadas a dados, já perdeu 20% do patrimônio de um dos seus principais fundos hedge. Warren Buffet, Luis Barsi e LAPB dizem estar com o carrinho lotado de boas compras. Em grupos de Whatsapp, não é incomum se deparar com relatos de investidores-anjo e VCs pausando deals em fase final e revisando seus apetites para 2020.

Depois de anos de bull market com uma década fabricando unicórnios, decacórnios, zebras e mega-fundos, os nascidos a partir de 1980 estão finalmente podendo viver na pele as angústias, ansiedades e os (de)sabores de uma crise.

Para a Sequoia, o fundo americano, o incerto trouxe o maior Cisne Negro da década. É também necessário discutir como uma crise sem precedentes para os empreendedores e investidores mais jovens pode criar Antifragilidade - isso, aliás, é o ponto chave da situação. Não só como sobreviver ao que estamos vivendo, mas como tirar o melhor proveito e crescimento sobre isso.

Se você tem skin in the game e aposta no ecossistema brasileiro de startups e inovação, esta mensagem é para você.

Em uma crise, a escalabilidade da incerteza é, paradoxalmente, a única certeza que Founders, VCs, Anjos, Executivos e demais agentes do ecossistema têm em mãos.

Empreendedores e investidores de startups são os maiores tomadores de risco da economia de qualquer país.

São nestes momentos que o propósito de impactar mercados através da inovação prevalece, onde os reais agentes de mudança florescem e que empresas estabelecidas passam a ser mais criativas na resolução de problemas complexos.

Aqueles que lideram a revolução, nascem nestes momentos.

O dinheiro disponível para startups via VC no mundo cresceu, desde 2010, na ordem de 21% ao ano, ou seja, o clichê de que toda crise traz oportunidades nunca foi tão factual no mundo da inovação.

O Brasil passou a década passada criando o seu ecossistema. Hoje temos tudo o que precisamos para viabilizar inovações escaláveis. Fundos, aceleradoras, anjos, incubadoras, iniciativas corporativas e governamentais, academia, programas de intercâmbio e associações. Tudo à serviço de mais de 13 mil startups.

Startups que estão atuando contra o Coronavírus

Nossos empreendedores não dormem no ponto. E já estão fazendo acontecer.

A Hi Technologies, de Curitiba, está desenvolvendo um teste rápido para Coronavirus com 10 minutos de duração com custo de R﹩ 130,00. O teste estará disponível em farmácias parceiras e empresas interessadas a partir da segunda quinzena de abril. Como efeito de comparação, um teste de H1N1 em um laboratório referência no Brasil custa entre R﹩ 1.500 e R﹩ 2.000, e demora até 24 horas para lançar o resultado.

A Gonew.co e a ABStartups lançaram a iniciativa #StartupsVsCodiv19. São quase 30 startups e grandes empresas que, juntas, já oferecem solução para diversos desafios de combate à pandemia: da prevenção ao Home Office, passando pelo diagnóstico e pela conscientização.

A Salvus, healthtech pernambucana, está acelerando o desenvolvimento do seu sistema de monitoramento de consumo de O2, para que hospitais e home cares sejam 20% a 30% mais econômicos neste insumo fundamental.

E uma boa surpresa com pitada de esperança emergiu nos últimos dias. O Governo Federal, através do Ministério da Saúde, lançou em tempo recorde um app para tirar dúvidas e realizar triagens remotas para suspeitos de COVID-19. O app funciona bem e está disponível para todas as plataformas.

A Telemedicina finalmente terá a sua oportunidade de demonstrar valor, caso as regulamentações sejam efetivamente implementadas. Mais um exemplo de possível agenda para ser articulada e acelerada entre Estado e Iniciativa Privada.

Startups que ajudam no trabalho remoto

Soluções como Netshow.me, Polichat ou até mesmo o gigante Google estão sendo fundamentais para reorganizar os compromissos presenciais suspensos por vários executivos de grandes e pequenas cidades, dando a agilidade necessária para que os danos econômico-financeiros sejam os menores possíveis.

Reduzir o impacto é a palavra de ordem, e buscar a normalidade (junto com todas as precauções, claro) deve ser o objetivo. Para isso, a tecnologia e a criatividade estão à nosso favor.

É fundamental pontuar também que o legado do ecossistema, construído a partir da década de 2010, já ecoa positivamente em nosso modo de vida e reduz impactos do COVID-19.

Gigantes como iFood, PagSeguro e Stone exercem um papel fundamental para a mobilidade das grandes metrópoles. Se esta crise ocorresse há cinco anos, provavelmente já teríamos um volume de rupturas no varejo (incluindo food services) muito maior.

Mas nossos hábitos se transformam pela tecnologia, e hoje milhões de refeições por dia já ocorrem sem aglomeração por conta da combinação de serviços quase essenciais para um segmento da sociedade.

O e-commerce também será um importante vetor de manutenção de consumo. O tráfego dos sites desde as primeiras contaminações vem aumentando, e players que atuam no back office da cadeia, como GoCache, Melhor Envio e VTEX estão sendo fundamentais ao dar o alicerce necessário para que plataformas, micro-empresários e consumidores finalizem suas transações com sucesso.

Os impactos na economia, agricultura e exportação

O comportamento de "estocagem" está pressionando os preços, bagunçando a logística e o câmbio, além de desafiar o comércio internacional. A previsão de crescimento do PIB das principais economias em 2020 é negativa. As revisões para o Brasil já estão apontando crescimentos abaixo do esperado, entre 0,5% e 1%.

Muita volatilidade, com muitas oportunidades.

Agronegócio

Nosso ecossistema está pronto para uma revolução positiva do setor mais pujante do Brasil. Startups como Agronow, Agrosmart e Arpac, quando usadas em conjunto em uma única fazenda, podem criar um sistema de altíssima produtividade, além de deixarem um legado necessário para o futuro do agronegócio brasileiro.

Logística

Porém, não temos sistemas logísticos multimodais dignos da imensidão de nossa nação. Startups como Logcomex, CargoX, Cheap2Ship e TruckPad estão (muitas vezes em conjunto) sanando as dores reais e de empreendedores e corporações do mais variados portes e setores, e criando uma massa de dados de valor incalculável para o planejamento logístico do país.

Finanças

E apesar do sistema bancário brasileiro ser muito modernizado, a fricção para que PMEs obtenham crédito de forma competitiva e serviços com experiência digna ainda são muito distantes. Casos como Nexoos, BizCapital e da novata Cora estão em uma busca incessante para resolver tais dores.

Em tempos de crise e baixo consumo, existe um risco enorme de vários pequenos empreendedores falirem por conta de baixa demanda e escassez de capital de giro. Precisamos ajudar os pequenos empreendedores. São eles que garantem boa parte dos empregos do país e fazem o PIB girar.

O que todo empreendedor pode fazer

Conversamos com vários empreendedores para entender o que estão fazendo para superar esta fase turbulenta sem deixar o crescimento de lado. A boa notícia é que vários deles possuem uma agenda comum.

Sobreviver aos primeiros impactos da crise é o primeiro elemento para prosperar. De maneira geral, as medidas preventivas para superar a turbulência com maior convergência são:

• Intensificar o esforço comercial, colocando todo mundo para vender;
• Esticar o runway com adiamento de contratações não-prioritárias;
• Dobrar ou triplicar o esforço de comunicação interna com colaboradores, clientes e investidores acerca de seus próximos passos;
• Revisitar o roadmap de produto para os próximos meses, como foco em retenção de clientes atuais;
• Atenção à contratação de ferramental com cotação em dólar, visto sua volatilidade no momento atual;
• Renegociar contratos, dívidas e prazos de pagamentos - aproveitando o novo acordo da Febraban.

A primeira recomendação é que os sócios e colaboradores discutam alguns pontos fundamentais. Para que as discussões sejam frutíferas, estamos sugerindo um checklist inicial com perguntas-chave que podem ser usadas com sua equipe.

• Pre-Mortem: O que pode dar errado a ponto da minha startup/squad/fundo/empresa simplesmente morrer durante a crise? E quais medidas práticas estamos tomando para mitigar tal catástrofe? Temos prazo e responsáveis?

• Data-First & Pareto Lover: Para as esferas de vendas, despesas, produto e operações, quais são 20% das coisas que eu estou fazendo que vão gerar 80% do impacto positivo no crescimento do meu empreendimento, mesmo na crise? Estou usando as melhores fontes de dados para avaliar os impactos?

• Dono do próprio caminho: Que ações estou protagonizando junto a clientes, parceiros, time, concorrentes, governo e academia para criar reais alianças em prol do crescimento? Qual o nível de ataque estou jogando, alto ou baixo?

• Franqueza: Estou agindo eticamente? Estou deixando claras as expectativas para as pessoas e para meus principais stakeholders?

• Hospitalidade: Estou exercendo a empatia com a sociedade civil ao adotar práticas preventivas de combate ao vírus, e colocando o bem-estar geral da Saúde Pública em primeiro lugar?

Acreditamos que iniciativas como as medidas tomadas pela Loft, o fechamento temporário do Cubo e o manual de boas práticas da Darwin são ótimas fontes de inspiração para apoiar o ecossistema na criação de medidas preventivas efetivas.

Sobre corte de custos e eventuais layoffs, vários empreendedores mencionaram que estão revisando suas matrizes de despesas, porém foram praticamente unânimes ao dizer que os cortes não podem impactar na visão de longo prazo.

A ACE acredita que ser dono do próprio caminho, ser obcecado por dados, focar no essencial e ter excelência na execução são ingredientes fundamentais para passar por esta crise. Claro que ninguém passará incólume, mas alguns arranhões fortalecem e são necessários.

Em tempos de crise que os founders e CEOs de alta performance são realmente forjados. Os reais empreendedores de startup pensam na longa jornada. Tal qual os reais investidores do ecossistema.

A oportunidade está dada. Estamos otimistas, e sabemos que muitas empresas gigantes e inovadoras serão fundadas nos próximos meses.

Nós também temos a obrigação

Na ACE, adotamos as medidas orientadas pelos órgãos de saúde competentes (como home office sempre que possível, cancelamento de eventos com mais de 50 pessoas, entre outras) e debatemos abertamente com nossos colaboradores, startups residentes e squads corporativos.

Nossa decisão, por medidas cautelares, teve um caráter mais básico do que ultra-estratégico. Todos temos amigos e entes queridos que já passaram dos 60 anos, ou que possuem alguma pré-existência de patologia cardiorrespiratória.

Mesmo que você não tenha este perfil no círculo social, existe a necessidade de se colocar no lugar destas pessoas e deixar um eventual egoísmo de lado. A empatia e a hospitalidade são atitudes-chave na prevenção e contenção do Coronavírus.

Nós, que temos a possibilidade da flexibilidade e do home office, devemos ajudar também aqueles que não têm o mesmo privilégio. Mas, como?

Apoiando empresas e comércios locais, mesmo que com a compra a distância ou de serviços que possam ser utilizados quando a pandemia passar. E ela vai passar. Por ora, precisamos proteger os pequenos empreendimentos e empreendedores do nosso país, pois são a base da nossa sociedade e economia.

Jogar no ataque é a regra número um para quem quer sair mais forte da crise.

Somos viciados em crescimento

A ACE reforça o seu compromisso e incentiva todo o ecossistema neste momento de crise a jogar no ataque, a transformar o Brasil por meio da inovação e a manter os investimentos para apoiar o ecossistema de startups com o maior impacto possível.

Não iremos tirar o pé dos seus investimentos em 2020, convidamos todos os VCs e investidores-anjo a fazerem o mesmo. Inclusive estamos abertos a co-investir para mitigar o risco e aumentar o volume de startups investidas, em especial no Seed Stage, maior taxa de mortalidade de bons projetos da jornada empreendedora.

Não nos confortamos com o status quo e com as cartilhas prontas. Estamos provocando nosso portfólio, nosso time, nossos amigos, clientes, parceiros e todos os agentes do ecossistema, a discutirem com as suas redes os impactos da crise.

E, principalmente, como sairemos mais fortes.

Queremos todos #jogandonoataque.

Se você entende que este material gera reflexões importantes, fique à vontade para compartilhar. A nossa intenção é que este material seja uma discussão viva de todo o ecossistema.

Esta é a hora de transformar o Brasil por meio da Inovação. Este é o nosso propósito e o nosso compromisso com o ecossistema.


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