Seguro de Vida no Fisiculturismo: como o uso de anabolizantes pode afetar a cobertura
Nos últimos anos, o fisiculturismo tem ganhado visibilidade dentro dos campeonatos e impressionantes transformações corporais. Segundo a cobertura do Portal Terra de Notícias, em uma palestra de Tamer El Guindy, CEO da Musclecontest, no Mr. Olympia Brasil Expo, o “Rei do Fisiculturismo” destacou que o Brasil é a segunda maior potência mundial no esporte, com uma base de mais de 20 mil atletas ativos, entre eles o atual vice-campeão Ramon Dino. No entanto, a combinação de treinos intensivos e o uso de substâncias, muitas vezes não prescritas por médicos, tem gerado preocupação, principalmente ao considerar um tema delicado: a contratação de seguros de vida para esses atletas.
No Brasil, o mercado de seguros de vida tem registrado crescimento significativo. Em 2023, o setor como um todo apresentou uma expansão de 10%, de acordo com dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). No entanto, quando se trata de atletas, especialmente fisiculturistas, esses profissionais enfrentam prêmios até 30% mais elevados devido aos riscos inerentes à prática esportiva, como lesões e problemas de saúde específicos. Além disso, o uso de substâncias como esteroides pode aumentar ainda mais os custos ou até levar a exclusões de cobertura. Em resposta a essa demanda, seguradoras estão desenvolvendo produtos personalizados, voltados para atender as necessidades específicas dos atletas.
Rogério Araújo, Corretor e sócio-proprietário da TLG Consultoria, conta que o uso de anabolizantes pode ser um fator determinante na aceitação de seguros de vida para fisiculturistas. “Assim como qualquer outro profissional, o fisiculturista deve informar toda e qualquer medicação que ele faça uso ao contratar uma proposta de seguro de vida. Algumas seguradoras restringem a aceitação desse profissional, outras irão avaliar a aceitação mediante as informações prestadas”, afirma. Ele ressalta que o seguro é baseado na boa-fé e omitir informações importantes pode levar à negativa de indenização futuramente.
Essa questão é corroborada por Maurinho Lovalho, diretor da SEGASP SPORT (corretora de seguros especializada em oferecer soluções de seguros personalizados, com foco em proteção de pessoas, empresas e eventos esportivos.), que destaca que a exclusão de cobertura pode ocorrer se for comprovado o agravamento do risco pelo uso de anabolizantes. “Em nossa apólice destinada a clubes esportivos, para coberturas a atletas, não há avaliação prévia para aceitação do risco. Contudo, existe uma cláusula de exclusão para o uso de drogas, produtos químicos e medicamentos, e, se comprovado o uso de anabolizantes, isso culminará na não cobertura”, explica.
Exclusões comuns e avaliações específicas
As seguradoras adotam diferentes abordagens para lidar com os riscos associados ao fisiculturismo. Rogério Araújo menciona que, em muitos casos, as coberturas relacionadas a doenças podem ser restritas ou não aceitas, restando a opção de contratação apenas de seguro de acidentes pessoais. Ele aponta que o histórico de saúde do fisiculturista também é um fator determinante para a aceitação ou não da proposta de seguro, especialmente se houver o uso de anabolizantes sem prescrição médica.
Complementando, Gilberto Ubirajara, diretor comercial da Diamante Consultoria e Corretagem de Seguros, destaca que a aceitação de fisiculturistas geralmente envolve uma análise rigorosa de informações, como idade, peso, altura, medicamentos em uso, histórico de competições e exames de saúde. “Se for possível a aceitação, poderá haver ajuste no prêmio, dependendo dos riscos apresentados pelos exames”, comenta.
O mercado de seguros e a adaptação ao fisiculturismo
Embora o mercado tenha evoluído para atender a atletas profissionais, Rogério Araújo acredita que ainda há uma certa resistência, principalmente quando se trata do uso de substâncias que não são prescritas por médicos. Ele enfatiza que as seguradoras estão preparadas para atender atletas, desde que sigam as recomendações médicas.
Yohan Wallace, corretor e membro do MDRT, compartilha uma visão diferente. Segundo ele, ainda há uma certa escassez de produtos específicos para fisiculturistas que abordem diretamente o uso de anabolizantes. “Em nove anos de trabalho, nunca atendi um cliente que declarasse o uso dessas substâncias em uma proposta de seguro. Acredito que muitas pessoas evitam falar sobre isso, o que torna o papel do corretor crucial na orientação sobre a transparência das informações”, reflete.
O papel do corretor na educação e aconselhamento
Para fisiculturistas, o processo de contratação pode envolver exames adicionais, dependendo do valor do capital segurado ou do risco identificado. “Não é comum o pedido de exames médicos, a não ser que os capitais segurados sejam de maiores valores”, explica Rogério Araújo.
Gilberto Ubirajara complementa que, em casos de avaliação rigorosa, exames como testes ergométricos, ecocardiogramas e exames de sangue detalhados podem ser exigidos.
A transparência nas informações e a orientação adequada sobre os riscos e benefícios do seguro de vida são fundamentais. Rogério Araújo destaca que corretores precisam reforçar a importância de não omitir dados durante a contratação, enquanto Yohan Wallace sugere que a educação sobre os riscos associados ao esporte pode ser uma estratégia importante para atrair esse nicho de clientes.
O mercado de seguros de vida está gradualmente se adaptando às particularidades dos atletas de diversas categorias de esportes, mas os desafios associados ao uso de anabolizantes ainda representam uma barreira significativa. A aceitação depende de avaliações rigorosas e transparência por parte dos atletas, e o papel do corretor é crucial para garantir que todas as informações sejam devidamente comunicadas. O mercado, embora flexível, ainda precisa evoluir para oferecer soluções mais específicas para esse segmento.
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