Primeira mulher a ocupar cargo de diretoria da Accesstage
MARIA FUNARI: BUSCA INCESSANTE PELA IGUALDADE DE GÊNERO NO MERCADO DE TRABALHO
Profissional, mulher, mãe de duas filhas e chefe de família. A trajetória em busca de igualdade para si mesma e para as outras
Que o dia a dia das mulheres não é fácil, não é novidade para ninguém. Conciliar os papéis de mãe, profissional e, muitas vezes, responsável pelo lar é a realidade enfrentada por várias brasileiras. Mas a grande questão é que além dessa realidade que já é desafiadora, as mulheres enfrentam dificuldades únicas, jamais enfrentadas por homens.
Mesmo sendo a maioria em cursos superiores, as mulheres enfrentam dificuldades em ingressar no mercado de trabalho e alçar cargos de chefia, principalmente em alta liderança como gerentes, diretoras e presidentes de empresas. Segundo um estudo realizado pela BR Rating apenas 3,5% das grandes empresas contam com mulheres em cargos de CEO.
Justamente por observar e, muitas vezes, presenciar situações que impactavam o dia a dia das mulheres no mercado de trabalho é que Maria Funari começou, logo cedo, a se empenhar tanto nessa causa.
Com mais de 20 anos de experiência na área de Recursos Humanos e atualmente ocupando o cargo de Chief Human Resources Office (CHRO), Maria quase sempre atuou em ambientes predominante masculinos e teve que aprender a se impor para conquistar espaço.
Nascida e criada na região do extremo Sul da capital paulista, Maria sempre estudou em escolas públicas e teve uma participação muito forte de seus pais em sua formação. “Aprendi com meu pai a amar e valorizar o trabalho. Ele, mesmo na sua simplicidade como um operador de máquina offset (que imprimia embalagens), sempre mostrava com empolgação os trabalhos que fazia. Se sentia orgulhoso e me explicava o detalhe de cada trabalho realizado”, relembra.
Para ela essa foi uma das principais lições sobre trabalho, fazer bem-feito e realizar com amor independente de, aos olhos dos outros, ser algo grande ou pequeno.
Começou a trabalhar cedo, até porque era a forma de conseguir arcar com os estudos. Sua primeira ocupação foi em uma financeira onde comercializava planos de previdência. Logo depois foi trabalhar como caixa e recepcionista na C&A. E, já no começo da faculdade, conseguiu o primeiro estágio na área de psicologia.
Com perfil nato para liderança e com muita vontade de fazer acontecer participou de um processo no qual concorria com estudantes de faculdades consideradas como “primeira linha”. Mas não se intimidou. Ao contrário disso. Sua determinação e trajetória simples criou um rapport com o CEO da empresa que também tinha uma origem simples.
E foi assim, que aos 20 anos, conquistou sua primeira posição de liderança. Sua principal missão era estruturar uma área de RH em uma empresa que estava pousando no Brasil.
Ao longo dessa experiência aprendeu muito, como pessoa e como profissional. Teve momentos de conflitos consigo mesma, pois com a pouca idade se viu tendo de enfrentar desafios muito novos, ser dura, se impor para conquistar o respeito, principalmente por estar em um ambiente masculino. E isso, muitas vezes, conflitava com sua essência doce, romântica e tímida. Aprendeu a ser estratégica e usar essas suas características a seu favor.
E isso ela traz consigo. “Hoje vejo que a maior dificuldade das mulheres é o conflito interno por acharem que precisam deixar de ser quem são para assumir papéis importantes no mercado de trabalho. Este é o erro! Precisamos respeitar nossa essência. Não é necessário deixar de ser feminina para se mostrar forte no trabalho e na vida”, afirma.
Para ela são essas características e particularidades de cada gênero que, atuando em conjunto, trazem benefícios e diferenciais para as equipes e para as empresas. “Confesso que não é fácil chegar a esse ponto de equilíbrio. Temos sempre muitas vozes nos dizendo o que devemos ser ou não. Poucas são as vozes que falam para as mulheres serem o que querem e se sentirem bem com isso. É preciso ter coragem e investir em autoconhecimento para se sentir forte e capaz”.
“Quando você se conhece e é fiel é isso, você ensina aos poucos as pessoas te entenderem e te respeitarem”, ressalta.
Essa lição, quando aprendida, é levada para toda a vida. E precisa ser colocada em prática todos os dias, seja no pessoal ou no corporativo.
“Para a mulher, essa postura reflete muito em como lidar com as situações, inclusive no momento da maternidade que é um divisor de águas e exige muito de nós”.
Determinada e com foco total no trabalho, Maria deixou a maternidade para depois. Quando acendeu essa luz, já se sentia totalmente preparada para encarar os desafios, mesmo sabendo que não seriam fáceis.
Nesta época já estava como head de Recursos Humanos na Accesstage e se sentiu totalmente acolhida quando as gêmeas nasceram.
Conciliar a maternidade com a carreira é desafiador para qualquer mulher e não foi diferente para a Maria. Tanto as fases da gestação quanto do pós-parto trazem uma overdose de hormônios no corpo feminino. A própria mulher se questiona sobre muitas coisas e acaba ouvindo perguntas, até mesmo da família e pior, normalmente de outras mulheres. “Você ouve se vai dar conta, se vai continuar exercendo a profissão. É claro que isso afeta. Mas eu tive total apoio da empresa e, mesmo quando as meninas ainda eram bebês pude participar de todos os momentos corporativos”.
E como todos falam que o universo conspira a favor de nossos propósitos, aqui não foi diferente. Sempre batalhando para mostrar que as mulheres merecem as mesmas oportunidades que homens no mercado de trabalho e na vida, Maria se tornou mãe de duas meninas. Hoje transmite esses ensinamentos para que elas também se tornem mulheres fortes, capazes de irem em busca de seus sonhos.
“Sempre pensei em deixar o legado para outras mulheres. E depois que me tornei mãe de meninas isso ficou ainda mais forte. Preciso ser referência para elas e vejo que é em cada pequeno detalhe do dia a dia que posso conseguir ou não”. Para Maria, até mesmo comentários simples como ‘mamãe gosta e quer trabalhar’ refletem extremamente diferentes de quando é dito ‘a mãe precisa trabalhar’. Mostrar que você faz o que gosta, se esforçou para estar ali e foi em busca dos seus sonhos é determinante para desenhar a postura e o mindset das crianças, que ainda está em formação.
deixou orgulhosa. “As meninas disseram que me enxergavam uma mulher muito forte, assim como as guerreiras daquele filme. Isso me mostrou que estou no caminho certo, que hoje sou referência para as minhas filhas. E quero ser também para outras mulheres que buscam ter sucesso em suas vidas profissionais”.
Sempre com este objetivo de ajudar outras mulheres a trilharem seus caminhos e de abrir portas para elas, Maria – que foi a primeira mulher a conquistar um cargo de diretora na Accesstage, instituiu metas como a de aumentar a quantidade de mulheres no quadro da empresa.
Por ser de setores naturalmente masculinos (tecnologia e financeiro), durante muito tempo os homens eram maioria em todas as áreas e cargos da empresa. Agora, com toda a estratégia traçada por ela as mulheres já ocupam 43% das posições da companhia, um número 19% maior do que em 2022.
“Eu cheguei até aqui com cicatrizes. Não quer dizer que outras mulheres tenham que passar pelos mesmos desafios para atingirem seus objetivos. Meu propósito é facilitar a jornada de quem está trilhando seu próprio caminho”, conclui.
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