Cinco tendências que podem definir o rumo da América Latina nos próximos anos
Crédito: pixabay.com_CC0 Creative Commons
A América Latina está enfrentando novos eventos disruptivos que terão um grande impacto em seu território, veja quais são cada um deles de acordo com o último estudo da Suramericana
As tendências sociais no mundo foram afetadas inúmeras vezes por fatores que fazem parte do cotidiano da população mundial. A pandemia de covid-19, a crise econômica e a recessão —além de diversas ações regulatórias— alteram permanentemente o rumo político, social e econômico de regiões como a América Latina, traçando um novo panorama que deve ser levado em conta por seus cidadãos para fortalecer a busca de bem-estar tanto para eles quanto para suas famílias.
Diante dessa realidade, a Suramericana, ou Seguros SURA, por meio de seu Observatório de Tendências e Riscos, analisa constantemente o ambiente latino-americano para oferecer ferramentas que permitam conhecer os eventos disruptivos de maior impacto na região, com o objetivo de antecipar e tornar visíveis as novas oportunidades e riscos que podem surgir nos próximos anos. No último relatório Tendências 2022 para a América Latina, a empresa identificou cinco:
1) Redução da classe média e aumento da pobreza na América Latina e no Caribe
Segundo dados do Banco Mundial, em 2020, a pandemia de covid-19 fez com que 4,7 milhões de pessoas que pertenciam à classe média da América Latina e do Caribe entrassem em situação de vulnerabilidade ou pobreza. A propagação do vírus gerou uma diminuição considerável do poder aquisitivo dos habitantes nos últimos dois anos, aprofundando uma série de desigualdades estruturais que se refletem nos altos níveis de informalidade e falta de proteção social.
De acordo com um relatório elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), na América Latina, a crise causada pela pandemia representará um retrocesso de 12 anos em termos de pobreza e 20 anos em termos de pobreza extrema. De forma complementar, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) destaca como a recuperação parcial do emprego tem sido liderada pelo crescimento do emprego informal, onde este tipo de ocupação representa 70% ou mais da criação líquida de empregos em vários países da região.
Além disso, o consumo interno é um dos principais determinantes do crescimento econômico e, estando exposto a diversos eventos disruptivos, ocorridos entre 2020 e 2022, espera-se que se evidenciem desafios importantes a nível de seu dinamismo, principalmente devido à diminuição do poder de compra na região.
Para mitigar esse fenômeno, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), são urgentemente necessárias políticas que promovam a formalização da economia, massifiquem e melhorem a equidade dos sistemas social e previdenciário, gerem sustentabilidade financeira para a educação e a saúde, e transformem as instituições para torná-las mais eficientes.
2) Transição para uma economia verde
Esta tendência é e será uma das principais protagonistas nos próximos anos. Alinhados ao Pacto Global das Nações Unidas e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os países latino-americanos e seus setores empresariais vêm acelerando sua transição para uma economia verde e sustentável, com foco na proteção do meio ambiente e das comunidades que o compõem.
Estudos da Comissão Global sobre Economia e Clima indicam que uma ação climática ousada e eficaz pode gerar pelo menos US$ 26 trilhões em benefícios econômicos cumulativos até 2030. Dados do BID e da OIT mostram que, até 2030, a descarbonização da economia pode gerar 15 milhões de empregos líquidos e impulsionar o crescimento econômico de mais de 1% ao ano.
É claro que esta visão traz importantes desafios para o setor empresarial que estão associados à transformação dos seus processos. As medidas podem implicar mudanças substanciais em suas estratégias de negócios, mas se tornam oportunidades para o desenvolvimento de novas tecnologias que contribuam para a continuidade e sustentabilidade das empresas.
Sendo assim, a emissão de títulos verdes e a participação nos mercados de compensação de carbono aumentarão exponencialmente nos próximos anos. O BID espera que a América Latina e o Caribe tenham uma participação quatro vezes maior no mercado global de títulos verdes até 2024, passando dos atuais 2% para 8%.
3) Transformação de interesses geopolíticos
Eventos globais, como a pandemia de covid-19, o conflito entre Ucrânia e Rússia e, em geral, as mudanças nas condições ambientais, os desenvolvimentos tecnológicos e a globalização econômica, social, cultural e política, transformaram o meio ambiente, propiciando o surgimento de novos ativos estratégicos para as nações, consequentemente modificando o sistema de alianças internacionais.
Para Juanita Gomez Loaiza, Gerente de Modelagem de Tendências e Riscos Corporativos da Seguros SURA, o crescimento global da mobilidade elétrica e a necessidade constante de informação e conectividade “implica uma maior demanda por celulares, tablets e veículos elétricos, cujas baterias são feitas com lítio, matéria-prima abundante na América Latina, especialmente no Chile, Argentina e Bolívia (o chamado “triângulo do lítio”), além do México”. De acordo com o Instituto Geológico dos Estados Unidos, estas regiões concentram 67% das reservas mundiais deste valioso mineral. A Agência Internacional de Energia estima que até 2040 a demanda por lítio aumentará 42 vezes.
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) estima que, em decorrência da pandemia de covid-19, as organizações se concentrarão mais na continuidade e resiliência de suas cadeias logísticas, estudando e acelerando os processos de reshoring e nearshoring, também impulsionados pelo aumento dos custos de produção na China, ainda maiores do que os de alguns países latino-americanos, como o México. A proximidade com os grandes mercados dos Estados Unidos e da Europa, juntamente com custos de produção competitivos e pessoal qualificado, tornam a região mais atrativa para investimentos. No entanto, para Gomez Loaiza, “ainda existem lacunas importantes na capacidade da infraestrutura regional que devem ser abordadas para melhorar a competitividade”.
4) Diluição de fronteiras na era digital
A quarta revolução industrial, a velocidade das mudanças e as novas expectativas levam as empresas a se transformarem permanentemente e se arriscarem a entrar em campos que transcendem sua atuação tradicional, atravessando as barreiras de seu setor econômico por meio do desenvolvimento de novos modelos de negócio.
Na América Latina, essa transformação tem sido lenta em comparação com outros competidores internacionais, mas espera-se que ela se intensifique nos próximos anos para que possamos manter a competitividade da região. Alguns exemplos que demonstram essa tendência são a crescente relação entre indústrias como: saúde e alimentação; geração/transmissão de energia com eletrodomésticos; o mundo do esporte com seguros; entre outros.
Segundo um relatório da empresa EY, 57% das empresas da América Latina aumentaram seus investimentos em transformação digital. Os setores que mais fizeram isso foram: pesca, saúde, manufatura, logística e transporte, educação, consumo e varejo, bancos e seguros, e automotivo.
Em 2020, apesar do surgimento da pandemia, a América Latina foi uma das regiões que mais cresceu em número de usuários de banda larga e, se somarmos o fato de que nos últimos 2 anos a região também foi protagonista nas rodadas de financiamento de capital para startups com participação de aproximadamente 40%, é possível concluir que ainda há muito potencial na região. “Esse potencial está inicialmente concentrado em grandes economias, como a Argentina, Brasil e México, mas alguns países pequenos, como o Uruguai, se destacam como um dos países que mais exportam serviços de software por pessoa”, explica a Gerente de Modelagem de Tendências e Riscos Corporativos.
A atratividade da região é indiscutível e ainda recentemente foi foco do primeiro investimento feito por Jeff Bezos na América do Sul por meio da NotCo, um unicórnio chileno que usa um algoritmo para encontrar combinações de plantas que permitem replicar alimentos de origem animal, estimulando a sustentabilidade.
Paralelamente, o estudo Recovery Insights: Small Business Reset, recente publicado pelo Mastercard Economics Institute, sugere que, durante a pandemia, o número de pequenas e grandes empresas que se digitalizaram pela primeira vez na América Latina ultrapassou 200% em 2020, e a consolidação dessa tendência continuou em 2021.
5) Globalização e seus riscos associados
Tendo em vista que os efeitos do comportamento econômico de um país ou empresa multinacional, os ataques cibernéticos, os efeitos das mudanças climáticas, a desigualdade social e os movimentos de protesto atravessam fronteiras, torna-se cada vez mais importante compreender os sinais do ambiente internacional.
Nesta ocasião, Gomez Loaiza partilha que, com as disrupções globais dos últimos anos, principalmente as que estão associadas à pandemia e ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, "a interdependência entre os países continua evidente no que diz respeito ao comércio internacional e às diferentes repercussões que isso pode ter em outras variáveis econômicas”.
A crise da cadeia de suprimentos, causada principalmente pela recuperação assimétrica em nível global já vinha causando desvios no desempenho econômico esperado da região para 2022. “O fenômeno da pressão inflacionária passou a ser um denominador comum em todo o mundo e, na América Latina, países como Brasil, Chile, Colômbia e México apresentaram variações anuais de preços acima de 7% a partir de fevereiro de 2022. Níveis bem acima dos objetivos de política monetária dos bancos centrais”, detalha a gerente.
Adicionalmente, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia traz consequências económicas e financeiras que poderão ser refletidas na deterioração da percepção de risco e numa maior pressão inflacionista que conduz a uma possível desaceleração econômica devido às medidas que devem ser tomadas para mitigar essa aceleração.
Apesar de a Rússia não ser um ator relevante como parceiro comercial da região (segundo dados do Trade Map, em 2020, em geral, as exportações ou importações com esse país representaram menos de 2% do valor total), os efeitos colaterais da guerra gerará impactos nas economias regionais, uma vez que as sanções contra a Rússia afetarão os preços internacionais das matérias-primas e as cadeias de abastecimento, o que se traduz num aumento do custo dos bens e serviços associados ao setor alimentar e energético.
Nesse sentido, a Suramericana destaca o risco de perda de poder aquisitivo da região nos próximos anos, o que pode se transformar em aumento do descontentamento social. De acordo com a FocusEconomics e a JP Morgan, as expectativas de inflação para o final de 2022 aumentaram para alguns países como Chile e Colômbia em mais de 100 pontos base, em relação às projeções feitas em janeiro.
Outro aspecto que a Suramericana destacou para levar em consideração nos próximos anos está relacionado aos altos fluxos migratórios que ocorrem na região, desde os migrantes europeus que buscam uma qualidade de vida mais elevada e acessível até os migrantes que, por desconfiança do governo e falta de oportunidades, se mudam para outras nações latino-americanas ou para os EUA e Canadá.
Um estudo realizado pela agência de comunicação Edelman no Edelman Trust Barometer 2021 relatou uma queda na confiança que os cidadãos latinos têm nas ações de ONGs, empresas, governos e meios de comunicação. Segundo a pesquisa, nenhum dos países em estudo, incluindo o México, Argentina, Colômbia e Brasil, obteve índice de confiança (com mais de 60 pontos) ou registrou melhora em relação a 2020.
Ao mesmo tempo, embora exista esse grande descontentamento social, as empresas são as instituições mais confiáveis entre os latino-americanos. Na Colômbia, Brasil e México elas são as únicas que geram confiança quando comparadas a governos, ONGs e meios de comunicação. Na mesma linha, um estudo elaborado pela CCK Central America que mediu a confiança em 2019, antes da pandemia, indicou que 48% dos salvadorenhos não confiavam em nenhuma instituição. O percentual de desconfiança foi maior em pessoas entre 35 e 44 anos.
Nesse contexto, a Suramericana destaca uma oportunidade extremamente importante para a região: a mão de obra qualificada e os custos competitivos, que permitem fortalecer a indústria de tecnologia e levar ao desenvolvimento de unicórnios de nível mundial, como o Mercado Livre e a Rappi. Dados de um estudo elaborado pela ALLVP indicam que mais de 85 empresas da região têm valorizações superiores a US$ 100 milhões e que têm potencial para se tornarem os próximos unicórnios da região.
O cuidado com a biodiversidade
Por outro lado, aos poucos os países da América Latina começam a se conscientizar das consequências da ação humana e do crescimento populacional sobre os animais e os ecossistemas. Assim, pessoas e diferentes instituições mudaram a forma como veem a natureza, deixando de entendê-la apenas como fornecedora de produtos e serviços e passando a compreendê-la como um sistema de suporte à vida.
Nessa linha, a natureza (florestas, rios e suas bacias, ecossistemas, animais, entre outros) passa a ser considerada como um agente vivo, sujeito de direitos que goza de proteção e respeito do Estado e dos cidadãos para garantir sua existência, restauração, manutenção, regeneração e proteção das riquezas culturais. Ou seja, a dignidade é reconhecida perante os tribunais como um novo sujeito com atributos legais exigidos por meio de ações de proteção constitucional e legal.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), cerca de 60% da vida terrestre do mundo e várias espécies marinhas e de água doce podem ser encontradas na América Latina e no Caribe. A tendência atual consiste na adesão de um número cada vez maior de países aos compromissos estabelecidos nas agendas internacionais, regionais e nacionais que reivindicam e protegem direitos à saúde da sociedade e do planeta.
Seu desenvolvimento e comprometimento permitirão mitigar e evitar possíveis impactos irreversíveis nas fronteiras planetárias das mudanças climáticas, bem como para as demais fronteiras que garantem a sustentabilidade da saúde dos seres humanos, animais e ecossistemas. Dessa forma, seja qual for o campo, o caminho da América Latina nos próximos anos começa a ser traçado e as mudanças serão inevitáveis.
Para ver o relatório completo de Tendências 2022 da Suramericana, clique aqui.
Sobre a Suramericana:
Com mais de 76 anos de experiência, a Suramericana S.A. é uma empresa especializada no setor de seguros e na gestão de tendências e riscos. É uma subsidiária do Grupo SURA (81,1%) e também tem o apoio como acionista da resseguradora alemã Munich Re (18,9%). A Companhia é uma plataforma multissolução, multicanal e multissegmento com presença em 9 países da América Latina, onde busca oferecer bem-estar e competitividade sustentáveis a cada um de seus 18 milhões de clientes, tanto pessoas quanto empresas, atendidos por quase 22.000 funcionários e 25.000 corretores. A empresa está presente no mercado como Seguros SURA na Colômbia, Chile, México, Argentina, Brasil, Uruguai, Panamá e República Dominicana, e como Asesuisa, em El Salvador. A Suramericana é a oitava seguradora da região em volume de prêmios emitidos, ocupando a terceira posição entre empresas de origem latino-americana nesse mesmo ranking.
Sobre a SURA Brasil
A Seguros SURA está presente em 9 países da América Latina. Sua estratégia atual baseia-se em entregar bem-estar e competitividade sustentável, o que permite ampliar a visibilidade dos clientes para antecipar riscos e aproveitar as oportunidades do entorno. Como especialista em Gestão de Tendências e Riscos, a SURA atua com seguros para empresas e para pessoas com soluções para os segmentos de Transportes, Frotas de Automóveis, Vida em Grupo e Acidentes Pessoais, Prestamista, Empresarial, Responsabilidade Civil, Residencial, Automóvel de alto valor, Bicicletas, Celulares e outros eletrônicos; sendo referência no mercado segurador no segmento de Mobilidade e Micro modais. Ao todo, são mais de 350 funcionários distribuídos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Campinas, Ribeirão Preto, Goiânia, Bauru, Londrina e Salvador, que atendem todo o território nacional. A presença em mais estados cria vínculos e possibilidades o entendimento do mercado e a geração de valor em todo o Brasil. Em 2018, a empresa foi reconhecida em 7º lugar dentre 100 como uma das melhores multinacionais para se trabalhar na América Latina, de acordo com o Instituto Great Place to Work (GPTW), além de 1ª companhia do setor de seguros do ranking. Para obter mais informações sobre a Seguros SURA, acesse o site.
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