Combate ao COVID não é protocolo, é experiência clínica
Por Antonio Carlos Lopes **
Tudo o que acontece na Medicina precisa de fundamentação. Como explicar que, em uma mesma casa, familiares necessitam de internação em UTI por COVID-19 e outros não desenvolvem a doença nem mesmo acusam a presença do vírus? Não basta dizer que depende apenas da carga viral. A prática médica é fundamental nessa interpretação.
As células do organismo possuem moléculas chamadas de receptores, geneticamente determinadas. As consequências do vírus se dão a partir do momento em que ele adere a esses receptores.
Se não há aderência, a doença não se desenvolve. Caso haja, ele adentra em uma organela intracelular denominada lisossomo e desencadeia a replicação viral.
Consequentemente, ocorre a produção de interleucinas e citocinas, o que resulta em efeitos diretos no paciente. Todo esse processo não é novidade: é o modus operandi das doenças infecciosas.
Portanto, é a quantidade de interleucinas e citocinas liberadas que será responsável pelas manifestações clínicas do COVID-19. Quanto maior a produção, maior a gravidade.
Não é o vírus quem atinge o músculo e causa dor ou vai ao pericárdio ou miocárdio e acarreta alterações cardíacas. São esses mediadores quem atuam sobre as estruturas do organismo. O vírus pode até estar lá, mas não é o responsável pelos sintomas.
Minhas afirmações têm base nos diversos estudos de Fisiopatologia. O mecanismo é o mesmo para todas as doenças, facilitando o raciocínio do que está acontecendo.
No caso do novo coronavírus, porém, há maior agressividade. As substâncias liberadas são muito maiores e talvez tenham uma ação predileta por determinados órgãos, como pulmão, rim, fígado e outros.
O COVID-19 é uma doença clínica e deve ser tratada como tal. O diagnóstico precisa ser alicerçado na fisiopatologia e não na semelhança. Uma gripe pode ter quadro semelhante ao de coronavírus, por exemplo, mas é preciso que a investigação seja feita com fundamentação nos procedimentos da patologia.
Além disso, o tratamento deve ser o mais precoce possível. Existem estudos bem avançados e a possibilidade de uma vacina no horizonte, mas em termos de tratamento, não há nada estruturado, por enquanto.
O que temos de concreto, liberado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), é o uso da cloroquina a partir dos primeiros sintomas. A despeito do alarde diante dos efeitos colaterais, posso dizer, com base em minha experiência de mais de 40 anos com o medicamento, que nunca um paciente meu desenvolveu tais problemas. Na ausência de outros métodos, os resultados positivos do uso terapêutico da cloroquina não podem ser ignorados.
Ressalto, ainda, a insensatez da disseminação do corticoide como possibilidade medicamentosa. Quem o faz, desconhece totalmente a fisiopatologia da doença. A divulgação na mídia surgiu por pessoas mal-intencionadas, com intuitos puramente mercadológicos. E não podemos admitir tamanho absurdo na medicina de hoje, muito menos na crise atual.
** Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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