Como a escola Bauhaus mudou a forma como vemos as artes
Da instituição alemã que completa 100 anos no ano que vem, saíram artistas, arquitetos e peças, como a famosa cadeira Wassily
A Bauhaus foi a escola modernista de arte mais influente do século XX, cujas abordagens no ensino e na compreensão da relação entre as artes e a sociedade e a tecnologia tiveram um impacto significativo tanto na Europa como nos Estados Unidos mesmo depois que acabou.
A escola foi moldada pelas tendências presentes ainda no século XIX e no começo do século XX, como o movimento britânico Arts & Crafts, que tinha procurado diminuir a distância entre as belas artes e as artes aplicadas, além de reunir criatividade e manufatura. Isso se reflete no medievalismo romântico dos primeiros anos da escola, em que ela retratou a si mesma como um tipo de artesanato medieval.
No entanto, na metade dos anos 1920, o medievalismo abriu caminho para um modelo que pretendia unir arte e design industrial, o que se provou anos depois ser o avanço mais original e importante da Bauhaus. A escola também foi reconhecida por sua faculdade, que incluiu artistas como Wassily Kandinsky, Josef Albers, László Moholy-Nagy, Paul Klee and Johannes Itten, além do arquiteto Walter Gropius e do designer Marcel Breuer, criador da famosa cadeira Wassily
As motivações por trás da criação da Bauhaus datam do século XIX, em que já havia uma ansiedade em resolver a "falta de alma" que os produtos manufaturados possuíam e a perda que a arte vinha tendo em oferecer propostas à sociedade. A criatividade e a manufatura viviam em mundos distintos, de forma que a Bauhaus tentou uni-los novamente, rejuvenescendo o design para a vida cotidiana.
Apesar da Bauhaus ter abandonado muito da tradição acadêmica antiga de educação artística, ela manteve ênfase em premissas intelectuais e teóricas, conectando-as com um foco nas habilidades práticas, no artesanato e nas técnicas que eram remanescentes do sistema produtivo medieval.
Isso significava que as belas artes e o artesanato eram colocados juntos como a solução para o problema da moderna sociedade industrial. Fazendo isso, a Bauhaus efetivamente nivelou a velha hierarquia das artes, colocando o artesanato a par com as belas artes, como a escultura e a pintura, e pavimentando o caminho para muitas das ideias que inspiraram os artistas do final do século XX.
Outra ideia-chave da Bauhaus era que a ênfase em experimentar e resolver problemas desse tipo tinha se provado uma influência enorme para a educação no campo das artes. Ela levou a um novo pensamento sobre as belas artes como "artes visuais", e a arte passou a ser considerada menos um complemento das humanidades, como a literatura e a história, e mais como um tipo de pesquisa científica.
Em 1925, a Bauhaus se mudou para a cidade industrial de Dessau, na Alemanha, iniciando um dos seus períodos mais frutíferos. Ali o arquiteto Walter Gropius, que tinha fundado a escola em 1919, projetou um novo prédio para a instituição, que logo começou a ser visto como um marco da arquitetura moderna e funcionalista. Foi no município alemão também que a Bauhaus, enfim, abriu seu departamento de arquitetura -- algo que tinha sido esquecido mesmo em uma escola que pretendia unir as artes.
No entanto, em 1928, Gropius estava desgastado com seu trabalho e com as cada vez maiores brigas com os críticos da escola, e deixou seu lugar na Bauhaus para o arquiteto suíço Hannes Meyer. Como um ativo comunista, ele logou direcionou o departamento para os ideais marxistas por meio de organizações de estudantes e programas de ensino.
A Bauhaus continuou crescendo e construindo, mas as críticas a Meyer expandiram-se na mesma medida: em 1930, ele foi demitido em 1930 e, dois anos depois, quando o Partido Nazista chegou ao poder na Alemanha, a escola de Dessau foi fechada.
Cadeira Wassily
A Cadeira Wassily (ou Wassily Chair) foi uma das mais icônicas criações de mobiliário doméstico associadas à Bauhaus. A Model B3, como ficou conhecida inicialmente, foi concluída em 1924 por Marcel Breuer (1902-1981), que contou anos depois que o projeto se baseou no desenho de um quadro de bicicleta.
De acordo com Breuer, que tinha se formado na própria Bauhaus, o desenho só foi possível porque Mannesmann, um produtor de aço alemão, tinha recentemente feito o processo de dobrar os tubos com perfeição. Antes disso, todo material de aço tinha uma solda que geralmente quebrava assim que era dobrada. Breuer dizia que sua cadeira era seu "trabalho mais extremo. Mais lógico, mais mecânico e menos artístico e confortável".
Ele ainda disse que pensou que a bicicleta era um pequeno pedaço atemporal do desenho original da cadeira, se referindo ao guidão como um "tubo de aço", que se assemelha a um macarrão. "Eu concluí que a dobra deveria ir mais longe. Eu deveria somente dobrar, sem pontos de soldagem, então ele poderia também ser cromado em partes e colocadas juntas", contou.
"Eu estava um pouco temeroso quanto às críticas. Não contei a ninguém que estava fazendo aqueles experimentos", completou.
As primeiras versões da cadeira foram feitas pela Thonet, especialista em dobrar madeiras, mas o design nunca ficou semelhante. Depois da Segunda Guerra Mundial, a produção foi retomada pelo italiano Gavina, que mudou as telas de sentar para couro e, depois de descobrir que Wassily Kandinsky, amigo de Breuer, tinha admirado o protótipo, mudou o nome para Wassily Chair por marketing.
A produção foi adquirida pela Knoll, que segue fazendo a cadeira até hoje. A Wassily Chair se tornou uma das peças de mobiliário icônicas no mundo do design, não apenas pela envergadura da Bauhaus, mas também por ter sido a base de vários movimentos seguintes. Até hoje, a criação de Breuer inspira projetos de cadeiras vendidos em qualquer parte do mundo.
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