Bancos batem recorde de lucro em 2019, mas fintechs exigem adaptação rápida, aponta Capital Research
Especialistas da casa analisam resultados de 2019 dos grandes bancos brasileiros e traçam seu cenário futuro
A economia brasileira passou por grandes transformações nos últimos dois anos, impulsionada por um cenário de baixa taxa de juros e inflação controlada. Por conta disso, os investidores precisaram partir em busca de novas modalidades de investimento para obter retornos maiores, enquanto as projeções apontavam a retomada do crescimento. No entanto, segundo avaliação da Capital Research, para as grandes instituições bancárias, as mudanças estão sendo ainda mais profundas.
“A chegada das fintechs, empresas de serviços financeiros com base em tecnologia, ameaçam o reinado dos tradicionais bancos brasileiros e as projeções já indicam mudanças nos resultados em 2020. Acostumados a ocuparem um lugar privilegiado e não serem incomodados, eles viram a concorrência aumentar com a chegada de novos players ao segmento”, comenta Ernani Reis, analista da casa de análises.
Diante desse cenário, a Capital Research avalia que os bancos foram obrigados a acelerar seus processos de digitalização, na tentativa de acompanharem o ritmo de lançamento das fintechs. “A iniciativa também vem acompanhada de uma grande transformação na logística de pontos físicos e busca por melhor eficiência financeira. Dessa forma, só em 2019, Itaú, Bradesco e Santander fecharam 430 agências e demitiram quase sete mil funcionários, principalmente por meio dos programas de demissão voluntária”, avalia o especialista.
Na tentativa de arrumar a casa, os três bancos alcançaram recorde nos resultados anuais, somando um lucro líquido de R$ 86,6 bilhões em 2019. Mas, segundo os analistas da casa de análises independente, a comemoração é singela e a indicação veio do mercado. “Se nos respectivos dias em que os balanços foram divulgados, as ações do Itaú (ITUB4) apresentaram alta moderada de 1,69%, Bradesco (BBDC4) alta de 1,93% e Santander (SANB11) queda de 2,24%, para 2020, o mercado já espera a desaceleração do crescimento do lucro líquido das instituições privadas, que deve ficar entre 5% e 9% no ano, de acordo com o consenso Bloomberg”, comenta Reis.
Para o analista, o maior temor dos investidores neste momento é de que os lucros futuros e dividendos dos bancos tradicionais sejam impactados pela concorrência de fintechs, como Nubank, Inter, C6 e Creditas. No entanto, ele também ressalta que “entram nessa conta empresas de tecnologia, como Google, Amazon e Facebook, que já contam com plataformas de pagamentos e ensaiam expandir seus serviços financeiros no momento em que o Banco Central estuda meios de implementar uma base única de compartilhamento de informações, conhecido como open banking.”
A Capital Research salienta que é importante observar que, apesar do ambiente competitivo, os grandes bancos ainda têm ampla margem de manobra. “A expectativa atual ainda é de crescimento sustentado com o aumento do crédito e da continuidade do programa de redução de agências, mas, nos quesitos tecnologia e market share, os bancos buscam a atualização das plataformas digitais, firmando parcerias e aquisições ou incubando suas próprias versões de fintechs”, diz Ernani Reis, que cita exemplos como o do Itaú com a XP; do Bradesco com a Ágora; e do Santander com a PI Investimentos.
Ainda segundo análise da casa, é possível dizer que o setor está passando por uma transformação que põe em contraste a velocidade das novas fintechs e a estrutura dos grandes bancos, que, em algum momento, devem se convergir e estancar a diluição do market share. Diante disso, a recomendação da instituição para o investidor é ter paciência e cautela para acompanhar os próximos resultados, fundamentos e tendências, mas sem considerar que os grandes bancos estão ameaçados de extinção. “Afinal, pensar no longo prazo e na geração de valores ainda é a melhor estratégia para se construir patrimônio”, encerra Ernani.
BB cada vez mais na briga
Ainda na esteira dos resultados divulgados pelos grandes bancos, a Capital Research fez um relatório sobre o Banco do Brasil, instituição que tem seu papel recomendado pela casa de análises na sua Carteira Recomendada de Ações. Para o analista Felipe Silveira, “o Banco do Brasil está reduzindo a diferença de rentabilidade em relação aos grandes bancos privados do país”.
Para sustentar esse argumento, Silveira destaca o ROE (return on equity, retorno sobre o patrimônio líquido) do Banco do Brasil. No relatório consta que, enquanto em 2018 a média do ROE dos bancos privados era de 20,3% e a do Banco do Brasil, apenas 13,9%. Em 2020, o ROE médio de Itaú, Bradesco e Santander foi de 22,0%, enquanto o do BB foi de 17,3%, ou seja, uma redução de 6,4 pontos percentuais para 4,7 p.p.
O analista, porém, ressalta um problema no balanço divulgado pelo banco público. “O Banco do Brasil, assim como todos os outros bancos grandes, ‘aproveitou’ o ganho não recorrente de crédito tributário, devido ao aumento da CSLL para lançar um grande provisionamento de PDD e de contingências, todos apenas no lucro contábil, o que faz a diferença entre esse e o lucro recorrente não parecer tão grande. Nada, porém, que comprometa a perspectiva positiva sobre o banco, que atingiu todas as projeções para o ano que havia estabelecido previamente”, analisou Silveira.
Sobre a Capital Research
A casa de análises Capital Research pertence ao grupo Red Ventures, que conta com um portfólio de empresas digitais nas indústrias de educação, saúde, home service e serviços financeiros. A startup tem como missão entregar conteúdo relevante de forma gratuita aos seus usuários, como é o caso da Carteira Capital, que faz recomendações para investidores de perfil conservador, moderado e agressivo. Por meio de uma plataforma intuitiva e simples, o usuário pode contar com conteúdo de qualidade como newsletters, relatórios, cursos online e as próprias carteiras específicas de produtos de investimentos como a “Carteira de Ações”, a “Carteira de Renda Fixa” e a “Carteira de Fundos Imobiliários”.
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