Descomissionamento de poços, estratégias seguras e sustentáveis
Crédito da Foto: Ronan Furuta/Unsplash
Wester Cardoso e Mauro Destri*
O descomissionamento de poços é uma etapa essencial nas operações de óleo e gás, representando o encerramento seguro e sustentável das atividades quando as instalações atingem o fim de sua vida útil. Este processo vai além de uma exigência técnica: ele é um compromisso com a segurança operacional, a proteção ambiental e a saúde pública. A conformidade regulatória, associada ao alinhamento com práticas sustentáveis, é fundamental para garantir que o descomissionamento seja conduzido de forma responsável e eficiente.
De acordo com o Diagnóstico Setorial nº 2 do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), há uma tendência crescente de desativação na exploração de petróleo e gás no Brasil. Entre os 658 poços marítimos pioneiros perfurados entre 2000 e 2023, cerca de 82% foram fechados, devolvidos ou arrasados. Esse panorama ressalta a importância de práticas robustas e sustentáveis no descomissionamento, considerando o volume significativo de instalações que chegam ao fim de sua vida útil.
No Brasil, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) desempenha um papel central na regulamentação do descomissionamento. A Resolução ANP nº 817/2020 estabelece diretrizes rigorosas para o encerramento seguro de poços, com foco na prevenção de vazamentos e na preservação ambiental. O cumprimento dessas normas é imprescindível para assegurar que os poços sejam abandonados de maneira definitiva e segura.
A aplicação do Sistema de Gestão da Integridade de Poços (SGIP), instituído pela Resolução ANP nº 46/2016, também é crucial durante o processo. Ele garante que os riscos sejam minimizados e que as operações estejam em conformidade com as melhores práticas do setor. A gestão adequada da integridade dos poços reduz significativamente a probabilidade de incidentes, protegendo tanto o meio ambiente quanto as comunidades próximas às áreas de exploração.
O descomissionamento de poços segue um conjunto de etapas bem definidas para assegurar a conformidade regulatória e minimizar os impactos ambientais. Entre elas, destacam-se:
Plano de Descomissionamento de Instalações (PDI): Documento que detalha todas as atividades necessárias para o encerramento seguro das operações.
Survey As Found: Registro do estado inicial do ambiente ao redor da instalação, essencial para avaliar os impactos e planejar as ações.
Remoção da Árvore de Natal Molhada: Etapa técnica crítica que requer precisão para evitar danos ao ambiente marinho.
Monitoramento de Barreiras: Garantia de que as barreiras instaladas estão funcionando adequadamente para prevenir vazamentos.
Essas etapas não apenas asseguram o cumprimento das diretrizes da RANP 817/2020, mas também demonstram o compromisso das empresas com operações seguras e ambientalmente responsáveis, já que o descomissionamento de poços também é uma oportunidade para promover práticas sustentáveis, alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Dois dos objetivos são particularmente relevantes nesse contexto, o 12 e o 14.
Com o alinhamento com o ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis), a economia circular desempenha um papel essencial no descomissionamento ao prolongar o uso de recursos e minimizar a geração de resíduos. Materiais como componentes metálicos podem ser reciclados ou reaproveitados, reduzindo custos operacionais e impactos ambientais. Essa abordagem reforça o compromisso com padrões sustentáveis de produção e consumo.
Já com o ODS 14 (Vida na Água), a preservação dos ecossistemas marinhos se torna uma prioridade durante o processo. Seguir protocolos que protejam a fauna e flora marinha é essencial para conservar os oceanos. Tecnologias avançadas podem ser empregadas para evitar a dispersão de poluentes, enquanto o monitoramento pós-descomissionamento assegura que os impactos residuais sejam mínimos.
O descomissionamento de poços é uma etapa indispensável para garantir a segurança das operações e a preservação ambiental no setor de óleo e gás. A conformidade regulatória, associada ao uso de práticas sustentáveis como economia circular e preservação dos ecossistemas marinhos, não apenas atende às exigências legais, mas também contribui para um futuro mais equilibrado. Empresas que adotam essas abordagens demonstram seu compromisso com a responsabilidade social e ambiental.
*Respectivamente, Diretor de Operações e Consultor para a área de Óleo e Gás da Timenow
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