Sentindo-Se Mal Perto Do Chefe? Talvez Ele Seja Um Psicopata!

Não faz muito tempo que uma novela estrelada por uma personagem com deficiência visual e suas desventuras pela cidade do Rio de Janeiro tornou-se sucesso de audiência no streaming. Produzida e disponibilizada por uma conhecida emissora de televisão, a repercussão foi tanta que, só nos 5 primeiros dias de exibição, a narrativa alcançou 3,1 milhões de horas assistidas.

Para muitos, a trama foi tão bem construída que, além de se utilizar de vários temas presentes no cotidiano para fisgar a atenção das pessoas, como o universo fashion e os seus bastidores repletos de sofisticação e glamour, ela trouxe, ainda, um ingrediente que todo mundo gosta: uma vilã digna de respeito. Daquelas que a gente para o que estiver fazendo só para assisti-la.

De salto alto, terninho de veludo e maquiagem esfumada, a protagonista, entre um desfile e outro, rabiscos na prancheta e muitos amassos no seu gigolô preferido, agia conforme manda o figurino da psicopatia: com total ausência de empatia. Para ela, a “cegueta dos infernos”, nome que designou à irmã bastarda, era só uma mera distração impedindo os seus objetivos.

A famosa tripé, “com duas pernas e uma bengalinha”, ironizou a estilista de satanás, em mais um episódio em que, utilizando-se da inescrupulosidade da mãe pistoleira e barraqueira, arma contra aquela que é sangue do seu sangue para que seja levada para uma fazenda clandestina distante, local onde seria preparada para dar à luz e depois vender o filho ao mercado negro.

Rompendo com os limites da ética, também não faltou maldade nas passagens em que ela articula um plano maquiavélico para dar o golpe do baú no namorado cheio da grana, nas atuações endereçadas a convencer os familiares do moço a respeito da sua castidade e muito menos nos gritos destinados a desenterrar uma fortuna para lá de milionária do jardim alheio.

Entretanto, o que a patologia desta moça tem a ver com o seu chefe? Simplesmente tudo. Assim como a vigarista fez em grande parte da trama, pois os seus truques só foram descobertos depois de passados 90% dos capítulos, os psicopatas são igualmente mestres em se camuflar em meio à multidão, passando despercebidos porque as pessoas não identificam os sinais.

“Aí, quando se dão conta, o estrago já foi feito”, explica o psicólogo canadense especialista em psicologia criminal e psicopatia, Robert Hare. Na visão do especialista, o psicopata é do jeito que é, porque perdeu a figura da mãe quando ainda eram uma única unidade. Por conta disso, o processo de simbolização que vem depois é afetado, prejudicando a sua integração psíquica.

Como consequência desta falta, alguns traços são comuns nestes indivíduos, servindo de alerta à sociedade. O primeiro deles é o olfato pouco desenvolvido. Em uma pesquisa publicada na revista científica Chemosensory Perception, identificou-se que os psicopatas apresentam falhas no córtex pré-frontal, região do cérebro responsável por promover a inteligência olfativa.

Outra característica inusitada é a relação deles com os sabores amargos. Foi o que revelou um estudo desenvolvido pela Universidade de Innsbruck, na Áustria. Ao avaliar as preferências alimentícias de 953 pessoas, percebeu-se que, dentre os entrevistados, aqueles que tinham traços psicopáticos eram fãs de comidas amarescentes, como: chocolate amargo, café e gin.

E o que dizer do olhar matador que eles possuem? Um psiquismo destruído quando a criança tem até 18 meses, idade em que costuma se instaurar o trauma da psicopatia, produz uma sequela muscular permanente ao redor do anel ocular. O resultado é um enxergar duro e, ao mesmo tempo, voraz, que tenta devorar todo o afeto que um dia ficou pendente lá atrás.

Também é preciso atenção para o mal-estar que eles produzem. Como estratégia psíquica para controlar o mundo à sua volta e, assim, conseguir reparar falsamente o seu universo interno despedaçado, os psicopatas projetam, inconscientemente, as suas partes psíquicas nos outros. Como consequência, é comum as pessoas dizerem: “fulano me causa uma sensação estranha”.

Por fim, se o seu gestor também acha que as coisas giram ao redor do seu umbigo, explode quando contrariado, adora contar uma mentira e não mede esforços na hora de passar por cima dos colegas para ter o que quer, cuidado. Afinal, a atração pelos antagonistas perigosos pode até estar na televisão, mas estão a poucas cenas de deixar a sua vida uma bela confusão.

*Renan Cola é psicanalista

Sobre o autor:

Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Marketing e Gestão Comercial pela Universidade Vila Velha (UVV) e em Psicanálise pelo Instituto Brasileiro de Ciências e Psicanálise (IBCP Psicanálise), o psicanalista possui 15 anos de experiência utilizando a psicologia profunda aplicada à área de comunicação e marketing, ajudando a construir narrativas fortes de marca para empresas de todo o Brasil, dos pequenos aos grandes negócios. Ao longo da carreira, escreveu artigos para grandes veículos comunicacionais, como: Psique, Mistérios da Mente, Leitura & Conhecimento, Estado de Minas, O Tempo, Diário do Nordeste, Novo Varejo e Administradores.

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