Experiência das seguradoras e empoderamento dos corretores são pilares para o futuro do setor

Thiago Soares, CEO LatAm da insurtech Stere, não para. Todo dia, sai da cama às cinco e meia da manhã para correr. São, pelo menos, sete quilômetros diários, parte da preparação para participar de seu sétimo triatlo, competição que une corrida, ciclismo e natação. “Cada momento exige um desempenho diferente e tenho que estar preparado”, diz ele.

A mesma estratégia Soares leva para o comando latino-americano da Stere, ecossistema digital especializado em fornecimento de capacidade e recursos digitais exclusivos para parceiros de seguros integrados. Desde 2020, ele trabalha para aproximar seguradoras, corretores e canais de distribuição de seguros por meio de ferramentas digitais que prometem benefícios para cada uma das três partes. “Queremos unir a experiência e o conhecimento de cada um desses setores tendo como resultado um desempenho melhor para todos”, diz ele.

Soares acumula experiência e conhecimento para ir atrás desse objetivo. Sua história não é a típica do Vale de Silício, nem mesmo a criação de uma empresa dentro da garagem de casa. Vem crescendo etapa por etapa. Nascido em São Paulo, atuário, teve experiências profissionais em grandes seguradoras, no Brasil e no exterior, antes de se tornar head de insurtech e um dos profissionais mais inovadores do setor. Aos 40 anos, seu currículo inclui passagens por seguradoras estrelas do mercado, como Chubb, HDI e Allianz.

Em 2020, criou a Bria, startup que oferece soluções de wellness program as a service para venda de produtos personalizados. No ano seguinte, assumiu o comando brasileiro da Nion, rede global de aprendizado e práticas de inovação para carreiras e negócios em seguros. Nesse mesmo ano, lançou o Futuro do Seguro, o primeiro videocast no Brasil para discutir a inovação no mercado segurador, e, em 2020, chegou à Stere.

No fim de julho, Soares recebe em São Paulo o CEO global da Stere, Dogan Kaleli, para apresentar uma nova plataforma digital exclusiva para corretores, a Stere for Brokers. A plataforma reunirá cotações, risco e integração com seguradoras em um só lugar. “O futuro do seguro é digital e embbeded (integrado), mas sem abrir mão de nenhum dos atores desse mercado”, diz Soares. “O potencial de crescimento no Brasil é muito grande e trabalhamos como no triatlo, para obter o melhor resultado em cada etapa.”

Na entrevista a seguir, Soares fala dos desafios para o mercado de seguros no Brasil. E de corridas.

Para onde está indo o mercado, qual é o futuro do seguro e que tendências você vê para o setor?

Olha, eu vejo cinco principais tendências. A primeira, naturalmente, é a digitalização, ampliada após a pandemia de Covid-19, que mudou os hábitos de compra. As pessoas migraram para o online e o seguro está se tornando um componente integrado às compras digitais. É o embedded insurance, que permite ao consumidor contratar um seguro na hora de comprar outro produto. A segunda é o crescimento em novos canais. Aumentou muito o uso da internet para comprar seguro, cresce o uso das redes sociais como canal de distribuição e também o varejo se apresenta. Também a inteligência artificial estará cada vez mais presente, no uso de chatbots para se comunicar com os clientes, e a análise de dados, o data analytics, se tornou imprescindível para identificar tendências e padrões de consumo de clientes e na tomada de decisões. Por fim, o insurance as a service, o seguro como serviço. Nessa modalidade, insurtechs oferecem a outras empresas o uso de ferramentas pré-construídas, executando operações de seguro para terceiros. Essas plataformas são baseadas em nuvem e podem ajudar a melhorar as principais práticas de seguros, como contração, processamento de sinistros, detecção de fraudes e atendimento ao cliente.

Qual é o papel dos corretores nesse novo mundo?

Sim, a tecnologia do seguro integrado traz simplicidade de contratação, coberturas personalizadas, proteção imediata e preços acessíveis. Mas se engana quem pensa que os corretores não terão um papel a desempenhar nesse futuro. Em maio, fui ao ao ITC Miami, o maior encontro de seguros do planeta. Aliás, todo mês estou em um evento diferente, para aprender, debater, conhecer o mercado. Nas discussões, percebi que a experiência dos corretores é fundamental para a vitalidade do setor. Corretores podem fornecer orientações e conselhos, ajudar a entender apólices, opções de cobertura e riscos. Podem analisar as necessidades dos clientes e recomendar soluções. Para o usuário, a experiência nas plataformas de embedded insurance será cada vez mais amigável. Essa integração fará com que as seguradoras tenham seus produtos ainda mais próximos dos corretores, dando agilidade à contratação do seguro, à emissão e à gestão de sinistros. Para os corretores, isso significa usar seus relacionamentos de mercado já consolidados para criar um novo canal de distribuição, benéfico para todos os envolvidos.

Você costuma dizer que a prática de esportes trouxe aprenzidados para sua vida profissional e vice-versa. Como é isso?

Gosto de correr, de me manter ativo e já participei de seis triatlos. Estou me preparando para o próximo. É possível, sim, fazer uma correlação entre a corrida e meu trabalho no mercado de seguros. Assim como no esporte, no seguro você não pode sair correndo sem planejamento, sem uma estratégia. Desse jeito, você vai quebrar. É como no seguro: temos uma distância a percorrer, não se pode ir muito devagar, mas também não dá para acelerar sem rumo. Cada momento exige uma velocidade. Agora, por exemplo, estou no momento de acelerar, o mercado pede isso. Estamos trabalhando para unir seguradoras, corretores e canais de distribuição, de forma inovadora, para que todos possam dar o seu melhor e ganhar com isso, claro. Insurtechs e seguradoras tradicionais trabalhando como parceiras, por exemplo. A insurtech traz a experiência do usuário, da conexão, enquanto as seguradoras trazem toda a bagagem, todo o conhecimento de risco, de avaliação. É um processo, como no triatlo. Uma etapa de cada vez.