O que não fazer no Dia Internacional da Mulher na sua empresa
Por Carine Roos, especialista em Desenvolvimento de Mulheres e cofundadora da ELAS .
Como tornar o Dia Internacional da Mulher um compromisso de fato em prol da equidade de gênero na sua empresa?
De acordo com dados da consultoria Mckinsey, empresas que possuem diversidade de gênero na sua gestão apresentam resultados financeiros 21% superiores em relação à média de seus concorrentes diretos e 33% se essa diversidade incluir também raça e etnia. Um segundo estudo, realizado pelo The Boston Consulting Group (BCG), concluiu que em um período de cinco anos, as startups criadas por homens receberam US﹩ 2,12 milhões, enquanto as fundadas por mulheres obtiveram menos da metade: US﹩ 935 mil. Entretanto, apesar de terem recebido menos investimentos, as startups lideradas por mulheres faturaram 2,5 vezes mais quando comparadas com as fundadas por homens.
Mas se é sabido que maior representatividade nas empresas significa lucro direto para as companhias, por que não vemos ações mais consistentes que vão além de uma data histórica? Eu poderia trazer aqui diversos motivos, mas vou destacar apenas dois: 1) Porque muitas empresas ainda não veem como prioridade essa questão. Simples assim. Entre as diversas metas a serem cumpridas, ter mais mulheres em cargos de liderança ainda não é considerado por muitas empresas como uma das métricas mais relevantes para o negócio. O que leva a uma outra reflexão: uma completa ignorância sobre o potencial econômico ao investir em mulheres.
Como diz Melinda Gates em seu livro O momento de voar, "investir em uma mulher é investir na comunidade, pois todos prosperam. Todos saem ganhando". Por isso iniciativas como a do CEO David Solomon da Goldman Sachs de não coordenar mais a abertura de empresas na bolsa de valores que não tiverem pelo menos uma minoria no conselho são fundamentais para mulheres conquistarem ainda mais rápidos os mesmos direitos que os homens nas empresas. Segundo Solomon, a abertura de capital em bolsas de valores de empresas americanas com pelo menos uma mulher no board performaram "significativamente melhor" nos últimos quatro anos quando comparados aos de empresas cujo conselho era composto apenas por homens.
2) As empresas não possuem menor ideia de como fazer isso. Muitas têm receio de gerar motim na empresa, outras acreditam que criar um treinamento de liderança exclusivo para as mulheres pode gerar segmentação entre os grupos, e por fim a famosa frase sempre aparece: mas eu vou contratar uma mulher apenas por ela ser mulher?
Nas duas situações apresentadas o que vemos o que falta é informação embasada em fatos e resultados concretos e compartilhamento de práticas entre as empresas, demonstrando quais são os efeitos notórios das medidas que estão sendo tomadas em cada uma delas. E um misto de medo e desconhecimento que levam muitas empresas a não tomarem medidas em prol da equidade de gênero.
Então como dar o primeiro passo e já fazer diferente em 2020 na sua empresa no Dia Internacional da Mulher?
Por isso, esse pode ser um ótimo momento para a sua empresa ratificar um compromisso em prol da equidade de gênero assinando os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) da ONU Mulheres e do Pacto Global. Ao fazer esta escolha, divulgue em um evento interno os compromissos da corporação, e promova um debate com as organizações e colaboradores de todas as áreas.
Durante a Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras, realizada na Dinamarca em 1910, Clara Zetkin propôs que todas as mulheres do mundo se unissem em um mesmo dia para dar voz às suas lutas e reivindicações. Mais de um milhão de pessoas participaram de passeatas pela Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Entre as reivindicações estavam o direito ao trabalho, ao voto, a ocupar cargos públicos e o fim à discriminação.
A data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, tendo como objetivo lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, independente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, culturais, econômicas ou políticas.
FUJA DOS ESTEREÓTIPOS
Flores, bombons, maquiagens, sabonete íntimo (acredite se quiser, isso foi o presente dado às mulheres por uma empresa), tudo isso reforça o ideal de feminilidade e cuidado, reforçando estereótipos voltados à aparência, higiene e imagem da mulher e não à sua competência, a sua inteligência e às suas habilidades. Antes de fazer uma ação, busque ouvir as próprias mulheres da sua empresa: quais são os desafios que elas possuem no ambiente de trabalho? O que as empresas poderiam fazer por elas? Nesse momento é importante estar aberto para ouvir feedbacks honestos a respeito da empresa e, claro, tomar uma ação com os resultados em mãos. Como diz a Brene Brown, precisamos olhar a vulnerabilidade como força. O ato de escutar surte um efeito poderoso: a capacidade da pessoa sentir o que ela tem a falar é importante e merece atenção.
NÃO DÊ PRESENTE, BUSQUE OFERECER UMA EXPERIÊNCIA SIGNIFICATIVA PARA AS MULHERES DA SUA EMPRESA NESSE DIA
De voz para as mulheres da sua empresa. Promova palestras e workshops de capacitação em liderança feminina onde as mulheres aprendam a capacidade de se vender, onde elas desenvolvam um mindset mais estratégico e menos operacional, aprendam a desenvolver a sua autoconfiança usando os seus pontos fortes em favor da sua visão de futuro, aprendam a se conectar com pessoas em um nível estratégico, ler o ambiente e a serem protagonistas da sua história.
Busque fomentar também o networking entre as mulheres e o estímulo a mentoria de mulheres mais jovens. Ao atuar como mentora para outra pessoa, especialmente outras mulheres, você ajuda a construir na sua empresa uma poderosa parede de apoio que estará lá para ajudar outras mulheres quando elas precisarem.
Outras ações simples, mas não menos significativas: homenageia mulheres que estão fazendo a diferença na empresa e entregue a elas um cartão em que são ressaltadas as suas competências e o quanto o seu trabalho tem ajudado a empresa a crescer. Não tenho dúvidas que uma ação como essa pode ter impacto profundo na vida dessas mulheres fazendo com que elas jamais se esquecam desse momento especial.
NÃO DEIXEM OS HOMENS DE FORA DA DISCUSSÃO
Se os homens são parte do problema, eles também precisam ser parte da solução. Em 2014, a ONU Mulheres criou o movimento He for She, um esforço global para envolver homens e meninos na remoção das barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir o seu potencial, e ajudar homens e mulheres a construírem juntos uma nova sociedade. O alcance da igualdade de gênero requer uma abordagem inclusiva, que reconheça o papel fundamental de homens e meninos como parceiros dos direitos das mulheres se tornando verdadeiros aliados em prol de uma sociedade mais justa e igualitária.
Isso significa que as ações não são excludentes, uma coisa e eu fomentar o protagonismo das mulheres e recomendo que seja feito entre mulheres, pois somente as mulheres lidam com questões que envolvem assédio sexual, violência contra mulher e o machismo. Mas isso não impede que no mês das mulheres também não sejam feitas atividades envolvendo todos para que os estereótipos e preconceitos de gênero sejam amplamente debatidos e ações sejam implementadas por todos.
É POSSÍVEL FAZER MAIS?
Para uma política ou ação darem certo, é necessário consistência e isso requer empenho e continuidade dos trabalhos a serem desenvolvimentos com o comprometimento sempre da alta liderança.
Por isso, esse pode ser um ótimo momento para a sua empresa ratificar um compromisso em prol da equidade de gênero assinando os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) da ONU Mulheres e do Pacto Global. Ao fazer esta escolha, divulgue em um evento interno os compromissos da corporação, e promova um debate com as organizações e colaboradores de todas as áreas.
Se a sua empresa já está sensibilizada para o tema e quer aprofundar os seus trabalhos na área, recomendo algumas ações pensadas pela Organização Internacional do Trabalho (2015):
• Definir políticas de diversidade e de oportunidades iguais de contratação: tê-las por escrito e amplamente divulgadas;
• Definir uma política anti-assédio, incluindo procedimentos e penalidades;
• Consulta sobre as necessidades dos empregados e empregadas em relação às responsabilidades familiares;
• Planejamento de carreira tanto para homens quanto para mulheres;
• Assegurar acesso igual a programas de capacitação;
• Designar, para mulheres jovens, tarefas e projetos desafiadoras e com visibilidade;
• Delegar mulheres assim como homens para todos os tipos de procedimentos dentro da empresa;
• Arranjos de trabalho flexíveis (horários e locais de trabalho - possibilidade de home office);
• Programas para auxílio ao retorno após licença. Manter contato com os funcionários e funcionárias durante os períodos de licença;
• Encorajar funcionários homens a se engajarem nos cuidados da família (aumento da licença-paternidade, flexibilização da carga horária);
• Auxiliar nos arranjos para cuidado de crianças e idosos;
• Avaliações de performance baseada em critérios objetivos;
• Indicar mulheres para cargos de alta gerência, CEO, comitê consultivo;
• Recomendar gerentes mulheres para tarefas e cargos estratégicos, não apenas em áreas como Recursos Humanos ou Finanças;
• Fomentar exemplo (mulheres em cargos de gerência, homens que apóiam a equidade de gênero) e usuários como fonte de inspiração;
Eu sempre brinco afirmando que o março é um mês muito próspero para a Escola ELAS, pois muitas empresas nos procuram para pedir orçamentos de palestras, workshops, mediar debates etc. Se o negócio irá seguir consistente buscando fazer ações para além dessa data tão simbólica eu não sei, mas que é uma oportunidade ímpar de mostrar para os gestores que investir em capacitação de liderança feminina é na verdade reduzir rotatividade da equipe, ter pessoas mais felizes, engajadas e produtivas na empresa eu não tenho dúvidas disso.
Sobre Carine Roos
Formada em Sociologia pela Universidade de Brasília e em Comunicação Social pelo Centro Universitário UniCEUB, Carine é especialista no desenvolvimento de mulheres há mais de dez anos. É co-fundadora da Escola ELAS, a primeira Escola de liderança feminina no Brasil e já treinou mais de mil mulheres ao longo de sua trajetória.
Também é CEO da UPWIT (Unlocking the Power of Women for Innovation and Transformation ou Destravando o Poder das Mulheres para Inovação e Transformação), uma consultoria em inteligência e equidade de gênero e inovação. Foi consultora de instituições voltadas à tecnologia, comunicação e Direitos Humanos, como o Comitê Gestor de Internet (CGI.br), a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), UNESCO, UNICEF, Ministério da Saúde entre outros.
É treinadora comportamental pelo Programa de Formação em Treinamento Comportamental (IFT), Master Training pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) e Training Trainers pela Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística (SBPNL), hipnoterapeuta Ericksoniana certificada pelo ACT Institute e especialista em análise comportamental DISC pela E-talent. Possui certificação internacional em Professional & Self Coaching pelo IBC e em Master Practitioner Pela SBPNL. É co-autora e editora do ebook: “Mulheres Líderes na Tecnologia: Como Promover a Equidade de Gênero e Reter Talentos nas Empresas”.
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