Brasil,

Cantos de sereia da renda variável

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Maurício Palhares
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Eduarda Fabris (*)

Os juros sempre foram altos no Brasil. Mas, a partir do plano real, em 2004, eles serviram para conter a inflação e atrair capital externo, necessários para a criação da moeda forte. Em vários momentos, o país teve das maiores taxas do mundo. Daí surge o hábito, ainda arraigado em muitos investidores de aplicar em renda fixa – bastante rentável quando a Selic está elevada – e com baixíssimo risco, por estar vinculada, principalmente, a títulos públicos.

Da redução ininterrupta iniciada em novembro de 2016, chegou-se à inédita taxa atual, de 2% ao ano, que retira atrativos da renda fixa. Juros baixos favorecem a economia real, ao estimularem a tomada de crédito, o que eleva o consumo, viabiliza investimentos e gera empregos. Principal termômetro desse segmento, a bolsa sempre reage com valorização a cada corte da Selic. A taxa atual possibilita que, mesmo em meio à pandemia, a bolsa siga, quando não em alta, ao menos resiliente e atraindo investidores.

Esse público que ingressa hoje no mercado é formado principalmente por pessoas físicas, em geral, pequenos investidores. Conforme a B3, no final de agosto, havia 3 milhões de CPFs cadastrados, recorde histórico.

Diferentemente da renda fixa, que oferece alto grau de previsibilidade e segurança, o mercado acionário implica em riscos. Pode proporcionar grandes ganhos, assim como grandes perdas e está sujeito a eventos desde as eleições nos Estados Unidos aos gastos do governo brasileiro e tudo que vem antes e depois.

Espera-se que estes investidores saibam aonde ingressam. Caso contrário, perderão dinheiro, enquanto que as empresas que estão na bolsa para se capitalizarem, ficarão sem, em breve e de forma duradoura, os aportes deste público. Parece não ser o que acontece.

Tradicionalmente, o investimento em ações era tido como algo de longo prazo. No entanto, muitos desses novos investidores em bolsa operam na compra e venda diária de ações, o chamado day trade, atividade antes restrita a profissionais com anos de mercado. Não surpreende, então, o estudo dos professores Fernando Chague, Rodrigo De-Lossa e Bruno Giovannetti (EESP/FGV, FEA/USP, EESP/FGV, respectivamente), segundo o qual 97% dos investidores do mini-ibovespa e mini-dólar que operaram por mais de 300 pregões perderam dinheiro.

Além da Selic em 2%, outro fenômeno, o dos digital influencers – youtubers, principalmente – têm levado iniciantes a um mercado para iniciados. Muitos desses influenciadores que dão dicas sobre no que investir dispõem de milhões de seguidores, mesmo quando não têm preparo para prestar tal orientação. O fator principal demonstrado nestes casos são os “ganhos rápidos”, sem que nunca se demonstre os riscos inerentes às operações.

Ações são uma opção, mas não podem ser a única. A necessária diversificação é ignorada por boa parte dos novatos. Neste sentido, há ativos que estão expostos a um número menor de variáveis. Um exemplo é o setor imobiliário, que tem sua atividade intrinsecamente vinculada à taxa de juros e que, mesmo na pandemia, registra recuperação.

Se fundos imobiliários registram perdas hoje, há novas opções como o crowdfunding imobiliário, que permite aplicações a partir de R$ 1 mil em projetos que o investidor escolhe, tendo a remuneração de seus aportes vinculada ao desempenho das vendas dos empreendimentos em que aplicou. Nas operações já concluídas no Brasil, a modalidade proporcionou uma rentabilidade média de 14,5% ao ano.

Além de diversificar seus aportes, o investidor iniciante deve observar de onde partem as orientações antes de segui-las, a fim de, se não eliminar, ao menos reduzir os riscos a que se expõe na busca por rentabilidade.

(*) Eduarda Fabris é diretora-executiva da Urbe.me.


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