Monitor do PIB aponta retração de 1,0% na atividade econômica no 1º trimestre
O FGV IBRE revisou o resultado do Monitor do PIB, divulgado às 10h15. Atualização às 13h
O Monitor do PIB-FGV aponta, na análise da série dessazonalizada, retração de 1,0%, na atividade econômica no 1º trimestre, na comparação com o 4º trimestre de 2019. Na análise mensal, a retração da atividade em março foi de -5,3%, em comparação a fevereiro. Na comparação interanual a economia cresceu 0,3% no 1º trimestre e caiu 0,9% em março.
"A retração da economia de 1,0% no 1º trimestre do ano expõe os enormes desafios que serão enfrentados no âmbito econômico no decorrer de 2020. As medidas de isolamento social só vigoraram por cerca de 1/6 desse trimestre (quinze dias de março) e já foram suficientes para que a economia apresentasse essa significativa queda. A queda de 5,3% registrada em março, em comparação a fevereiro é a maior observada na série histórica do Monitor do PIB iniciada em 2000 e, ao que tudo indica, esse recorde de queda, muito provavelmente atingirá patamares mais negativos nos próximos meses. É inegável que o ano de 2020 será marcado pela forte desaceleração econômica em decorrência da pandemia de COVID-19; passamos do lento ritmo de crescimento observado nos três últimos anos, à acelerada retração, que está apenas no início" afirma Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.
Claudio Considera, pesquisador associado do FGV IBRE, está disponível para comentar o resultado pelo (21) 99851-0573 ou pelo Skype: .
Mais informações e release completo abaixo ou no Portal IBRE, neste link.
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Os Gráficos 1 e 2, no press release (link ao final do texto), mostram que a retração de 1,0% da atividade econômica no 1º trimestre deste ano interrompe o ritmo de crescimento observado no período desde o 1º trimestre de 2017 ao 4º trimestre de 2019 com taxa de crescimento média de 0,4% ao trimestre. Essa mudança na trajetória econômica é principalmente explicada pelo desempenho da economia em março deste ano, em que a atividade caiu 5,3%, sendo a maior queda registrada nesta comparação desde o início da série histórica iniciada em 2000. É digno de nota que os resultados de janeiro (+0,6%) e fevereiro (+0,2%) já eram bem decepcionantes. Na comparação interanual, os resultados também mostram forte desaceleração econômica, embora a taxa trimestral ainda tenha apresentado crescimento de 0,3% com crescimento das três grandes atividades (agropecuária, indústria e serviços), embora apenas a agropecuária tenha apresentado aceleração do ritmo de crescimento; na comparação dessazonalizada a agropecuária foi a única das três grandes atividades a crescer.
ANÁLISE DESAGREGADA DOS COMPONENTES DA DEMANDA
A análise gráfica desagregada dos componentes da demanda foi feita na série trimestral interanual por apresentar menor volatilidade do que as taxas mensais e aquelas ajustadas sazonalmente permitindo melhor compreensão da trajetória de seus componentes. No entanto, como as medidas de isolamento social em decorrência da pandemia de COVID-19 iniciaram-se em meados do mês de março, tendo significativos impactos na economia, nesta edição, após a usual apresentação da composição da taxa trimestral móvel interanual dos componentes da demanda, é apresentada, também, a desagregação da taxa mensal interanual das principais categorias destes componentes.
Consumo das famílias
O consumo das famílias cresceu 0,2% no 1º trimestre, em comparação ao mesmo trimestre do ano anterior. O consumo de produtos não duráveis (2,4%) e o de serviços (0,4%) foram ao únicos a crescerem, sendo no caso do consumo de não duráveis explicado, principalmente, pelos produtos alimentícios e os artigos farmacêuticos. A retração no consumo de semiduráveis (-8,5%) foi influenciada pela queda no consumo de vestuários e calçados em geral enquanto a queda no consumo de duráveis (-3,8%) foi devido, em grande parte, ao desempenho do consumo de equipamentos de informática e de veículos em geral.
A forte desaceleração da taxa do 1º trimestre do ano é explicada pela paralisação de diversas atividades econômicas em decorrência das medidas de isolamento social adotadas devido a pandemia de COVID-19. Com isso, o consumo retraiu 1,9% em março, na comparação interanual; a menor taxa desde outubro de 2016 (-3,9%). De acordo com o Gráfico 4 no press release, os componentes mais afetados do consumo foram os produtos semiduráveis e os não duráveis com quedas de -27,7% e -13,9%, respectivamente. Na análise da série ajustada sazonalmente, em comparação a fevereiro, esses componentes também foram os com as retrações mais elevadas: -30,2% e -22,4%, respectivamente, em março.
Formação bruta de capital fixo (FBCF)
A FBCF retraiu 0,2% no 1º trimestre do ano, em comparação ao 1º trimestre de 2019. A construção foi o único componente da FBCF a crescer neste trimestre. A retração de máquinas e equipamentos (-1,3%) foi influenciada, principalmente, pelas retrações dos segmentos de automóveis em geral e de equipamentos eletrônicos.
Mesmo que o componente da FBCF de construção tenha crescido no 1º trimestre do ano, na comparação interanual, apresentou retração em março, assim como os demais componentes da FBCF como reflexo dos efeitos do isolamento social. Na comparação da série ajustada sazonalmente, o componente que mais retraiu, em comparação a fevereiro foi máquinas e equipamentos com queda de 5,6%, em março.
Exportação
A exportação de bens e serviços apresentou queda de 3,8% no 1º trimestre, em comparação com o 1º trimestre de 2019 com expressiva retração da exportação de bens de capital (-42,7%). Apesar do desempenho negativo, a série apresenta tendência ascendente, após a retração de 8,9% registrada no trimestre móvel findo em janeiro deste ano.
O expressivo crescimento de 9,4% da exportação em março, na comparação interanual é reflexo do desempenho positivo na maioria de seus componentes, com destaque para o crescimento de 27,7% da exportação de produtos agropecuários. Em contrapartida, a maior retração dentre os componentes da exportação deveu-se, novamente, aos bens de capital com variação de -18,0% no mês.
Importação
A importação cresceu 5,3% no 1º trimestre do ano, comparativamente ao 1º trimestre de 2019. A importação dos bens intermediários e a dos bens de capital foram as principais responsáveis pelo desempenho positivo da importação, conforme apresentado no Gráfico 9.
O aumento da importação de produtos intermediários e de bens de capital, na comparação interanual, foro a principal influência para o crescimento positivo de 8,3% do total das importações em março. Em contrapartida, a importação de serviços (-13,2%) e de produtos da extrativa mineral (-11,8%) foram as únicas quedas registradas nos componentes da importação.
MONITOR DO PIB-FGV EM VALORES
Em termos monetários, o PIB em valores correntes foi de aproximadamente 1 trilhão, 858 bilhões, 205 milhões de Reais no 1º trimestre de 2020.
TAXA DE INVESTIMENTO
O Gráfico 11, no press release abaixo, destaca em duas linhas as médias das taxas de investimento: a de cima mostra a média das taxas de investimento trimestrais desde o 1º trimestre (18,0%); a de baixo, a média das taxas de investimento trimestrais desde o 1º trimestre de 2015 (15,6%). Observa-se que a taxa de investimento no 1º trimestre de 2020 foi de 14,2%, na série a valores correntes. Esta taxa está abaixo da taxa de investimento trimestral média tanto na série iniciada em 2000 quanto na iniciada em 2015. Essa é a menor taxa de investimento trimestral desde 2000, início da série histórica.
HIATO DO PRODUTO
O hiato do produto é a diferença entre o produto efetivo (PIB) e o produto potencial. O PIB considerado, foi o estimado pelo Monitor do PIB-FGV, enquanto a estimação do produto potencial da economia foi realizada por uma função de produção.1 Com isto, o hiato do produto, no 1º trimestre foi estimado em -4,7%, superior, portanto, ao do 4º trimestre de 2019, que havia sido de -4,2%.
ANÁLISE ESPECIAL DAS ATIVIDADES DE SAÚDE PÚBLICA E PRIVADA
A chegada da pandemia de COVID-19 no Brasil, com a adoção das recomendações de isolamento social, tem impactos diretos e indiretos na economia, afetando, praticamente, todas as atividades econômicas. Nesta seção especial que estará disponível no Monitor do PIB-FGV durante todo o ano de 2020, busca-se compreender como duas das principais atividades econômicas diretamente afetadas pela COVID-19 (saúde pública e privada) serão impactadas pelo avanço da pandemia no país. Em conjunto essas duas atividades representavam, de acordo com o IBGE, 4,3% do PIB em 2017, sendo a saúde pública responsável por 2,0% e a saúde privada pelos outros 2,3%.
A saúde pública compõe, com participação de 13% (em 2017, de acordo com as TRUs2), a atividade de Administração Pública na desagregação do PIB em 12 atividades, nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE. Em março, a atividade de saúde pública caiu 2,7%, na comparação interanual, tendo contribuído negativamente (-0,4 p.p.) para o crescimento de 0,7% registrado na atividade de Administração pública. Os Gráficos 13 e 14 mostram a evolução recente da atividade e a contribuição da saúde pública para a atividade de Administração Pública.
Dado a baixa representatividade em termos de ponderação, a atividade não tem impacto tão expressivo no total da Administração Pública. Contudo, em momentos de elevado crescimento, como aconteceu em maio de 2017 ou elevada queda, como foi o caso de maio de 2018, a atividade de saúde pública foi fundamental para o desempenho da Administração Pública.
A saúde privada compõe, na desagregação do PIB em 12 atividades, nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, a atividade de Outros Serviços, com 15,1% (em 2017, de acordo com as TRUs) de representatividade nesta atividade. Em março, a atividade de saúde privada retraiu 0,6%, na comparação interanual, tendo contribuído negativamente (-0,04 p.p.) para a retração da atividade de Outros Serviços, embora tenha sido pouco, em comparação a queda de 4,0% do total de Outros Serviços. Os Gráficos 15 e 16, no press release abaixo, mostram a evolução recente da atividade e a contribuição para a atividade de Outros Serviços.
Essas quedas de produção da atividade de saúde, tanto pública como privada, estão, provavelmente, associadas ao adiamento de consultas e exames devido ao isolamento social dos 15 últimos dias do mês de março.
Apesar de ter maior peso na atividade de Outros Serviços do que a saúde pública na atividade de Administração Pública, a saúde privada tem influenciado menos o comportamento de Outros Serviços do que a saúde pública no comportamento da Administração Pública.
É importante destacar que as estimativas realizadas para a saúde pública e privada no Monitor do PIB-FGV não abrangem toda a composição da Conta Satélite de Saúde do Brasil, divulgada pelo IBGE. Além das atividades de saúde pública e privada, a Conta Satélite abrange outras atividades, tais como fabricação de produtos farmacêuticos, comércio de produtos farmacêuticos entre outras atividades relacionadas a saúde.
Outro ponto importante de destacar é que essas estimativas são calculadas com base nos dados disponibilizados no DataSUS, e essas informações, por serem constantemente atualizadas, podem sofrer grandes alterações entre as divulgações.
APÊNDICE - NOTA EXPLICATIVA
O Monitor do PIB-FGV estima mensalmente o PIB brasileiro em volume e em valor. O objetivo de sua criação foi prover a sociedade de um indicador mensal do PIB, tendo como base a mesma metodologia das Contas Nacionais do IBGE. Sua série inicia-se em 2000 e incorpora todas as informações disponíveis das Contas Nacionais (Tabelas de Recursos e Usos, até 2017, último ano de divulgação) bem como as informações das Contas Nacionais Trimestrais, até o último trimestre divulgado (quarto trimestre de 2019).
O indicador é ajustado as Contas Nacionais Trimestrais sempre que há mudanças metodológicas e a cada trimestre divulgado. Ou seja, nos trimestres calendários, as médias trimestrais dos índices de volume do Monitor do PIB-FGV serão iguais aos indicadores trimestrais, sem ajuste sazonal, das Contas Nacionais Trimestrais. Nos trimestres calendário, são utilizados os mesmos modelos do IBGE para calcular todas as séries desagregadas com ajuste sazonal, tanto pela ótica da oferta, como da demanda. Para o ajuste sazonal mensal é utilizado o modelo mensal do IBC-Br, do Banco Central; para os trimestres móveis utiliza-se uma média desses ajustes mensais.
Assim, as estimativas do Monitor do PIB-FGV antecedem os resultados das Contas Nacionais Trimestrais nos meses em que este é divulgado. E, nos meses em que não há divulgação, o Monitor representa uma excelente antecipação para as tendências do PIB e seus componentes.
O Monitor do PIB-FGV compõe-se de um relatório descrevendo os principais resultados com ilustrações gráficas e de uma tabela Excel com informações de volume, em valores correntes, e a preços de 1995 das 12 atividades econômicas que agrupadas formam os 3 setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços). Apresenta, ainda, o Valor Adicionado a preços básicos, os impostos sobre os produtos e o PIB e também os componentes do PIB pela ótica da demanda. Outro ponto a ser destacado é que o Monitor torna disponíveis desagregações que não são divulgadas pelo IBGE, mas que são relevantes para um melhor entendimento da absorção doméstica e da demanda externa. As desagregações disponibilizadas pelo Monitor são:
Consumo das Famílias: bens de consumo duráveis, semiduráveis, não duráveis e serviços. Adicionalmente eles são classificados em nacionais e importados;
Formação Bruta de Capital Fixo: em máquinas e equipamentos, construção e outros. Para máquinas e equipamentos e outros, há a desagregação entre nacionais e importados;
Exportações e Importações: em produtos agropecuários, produtos da extrativa mineral, produtos industrializados de consumo (duráveis, semiduráveis e não duráveis), produtos industrializados de uso intermediário, bens de capitais e serviços.
São divulgadas as séries de base móvel, séries encadeadas, séries encadeadas dessazonalizadas, as taxas mensais, trimestrais e anuais comparadas a igual período do ano anterior e as taxas mensais e trimestrais comparadas a período imediatamente anterior, e os valores nominais correntes e a preços de 1995.
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