Da agricultura ao varejo, tecnologia data driven ajuda empreendedores nas tomadas de decisão
Cultura de soluções tecnológicas orientadas por dados cresce no segmento de inovação. Em 2021, mais de US$ 17,9 bi foram investidos em startups desenvolvedoras de inteligência artificial.
No terceiro trimestre de 2021, startups que desenvolvem tecnologias de inteligência artificial levantaram um total de investimento combinado que ultrapassou US $17,9 bilhões, batendo o recorde global para o setor. O apetite dos investidores reflete uma tendência ao data driven, que vem se desenhando há anos: sistemas inteligentes estão se tornando comuns na vida de todos nós, em cada micro experiência do nosso cotidiano.
“Você não percebe, mas em cada música que você escuta no seu aplicativo de streaming favorito, a cada compra que faz online e carro que pede por aplicativo, existem algoritmos trabalhando. Eles foram criados por seres humanos, mas se alimentam dos seus dados para evoluir e tomar suas próprias decisões — beneficiando o resultado e o produto das empresas por trás deles”, explica Guilherme Mello, líder dos cursos de Dados da Tera, plataforma de educação online e ao vivo para profissões digitais.
A lógica de tecnologias e tomada de decisão com base em data driven é simples: primeiro coleta-se os dados, depois eles são tratados e analisados. A partir daí, a informação que antes estava isolada, ganha consistência ao ser colocada em contextos específicos. Consequentemente, proporciona uma visão objetiva sobre o cenário e permite uma ação precisa. No mesmo exemplo de streaming, se uma pessoa escuta diariamente músicas de rock, sem dúvidas, sempre receberá sugestões de playlists ou novas bandas desse mesmo gênero musical. Todo esse processo foi orientado por dados.
No contexto de negócios B2B, a premissa é a mesma, só que mais complexa, com uso de dados voltados para otimização de processos e geração de insights para os clientes. “Não à toa, Peter Drucker, o pai da gestão moderna, dizia que ‘se você não pode medir, não pode gerenciar’. Se não há dados, não há referência para realizar uma gestão estratégica do negócio. Então, para não agir ‘às cegas’, as tecnologias data driven são fundamentais na resolução de problemas”, explica Eduardo Pugliesi, Diretor Operacional da APIPASS, uma Plataforma de Integração como Serviço (iPaaS) responsável por integrar sistemas, softwares e aplicativos. Pugliesi ainda ressalta que, cada vez mais, todas as instâncias sociais serão beneficiadas por soluções orientadas por dados.
Confira abaixo como a tecnologia data driven atua em segmentos como: agricultura, mercado imobiliário, recursos humanos, varejo, logística, financeiro, saúde, energia e no mercado de franquias.
Análise e gestão de dados geram mais eficiência no agronegócio
Os profissionais do campo sempre tomaram as suas decisões com base em dados. Primeiro, aqueles coletados pela própria experiência e observação; depois, com ferramentas básicas, como os pluviômetros. Hoje, com a transformação digital, tecnologias de ponta passam a fazer um controle completo das mais diversas métricas, consolidando a era do Big Data.
“A mecanização das atividades permitiu a instalação de computadores de bordo e sensores nas máquinas agrícolas, os quais registram centenas de informações a cada segundo. Quando organizadas, cruzadas e associadas, essas métricas permitem a análise do consumo de insumos e combustíveis, da eficiência de máquinas, da produtividade das operações, da evolução do negócio e assim por diante”, explica Bernardo de Castro, presidente da divisão de Agricultura da Hexagon, que desenvolve soluções digitais para os setores agrícola e florestal.
Instrumentos de Business Intelligence (BI) e gestão, por exemplo, são capazes de extrair dados da nuvem de maneira personalizada e gerar painéis e relatórios para facilitar essa análise das informações, que aparecem de forma gráfica e com recursos de filtragem e agrupamento. “Com esse monitoramento das operações, é possível fazer avaliações preditivas, preventivas e de diagnóstico. Ou seja, compreender processos e, a partir disso, identificar probabilidades futuras e agir mais assertivamente”, reforça Bernardo.
Tecnologias data driven são o futuro do mercado imobiliário
Culturalmente, o setor imobiliário é resistente a mudanças e à adesão de novas tecnologias. Apesar disso, a capacidade de resolução de problemas que a cultura orientada a dados agrega aos negócios coloca essa resistência em cheque e consolida tecnologias data driven como o futuro do segmento. Um exemplo de situação em que as novas tecnologias podem fazer a diferença é quando uma imobiliária está com poucos fechamentos de contratos. “Nesse cenário, os gestores tendem a acreditar que a resposta é ampliar a carteira de imóveis e atrair mais potenciais clientes. Com isso, investem rios de dinheiro em ampliação de equipe em uma estratégia sem conhecimento real do que gerou o problema”, contextualiza Diego Moeller, cofundador e Diretor Comercial da Captei, proptech com soluções para captação de imóveis e gestão de oportunidades.
O uso de análise de dados nesse problema poderia ampliar as possibilidades de atuação da imobiliária. “É fundamental olhar para os dados como oportunidades. Talvez não há fechamento de contrato porque os imóveis não correspondem às necessidades dos leads. Com a tecnologia guiada por dados da Captei, as imobiliárias conseguem, por exemplo, agregar todas as características em comum de imóveis que são rapidamente alugados, ou os que sempre são rejeitados, para entender qual é a tipografia ideal dos imóveis que a imobiliária deve incluir em sua carteira. Outra saída para o mesmo problema é realizar estratégias de atração para o público compatível com os imóveis existentes”, explica.
Gestão inteligente de rotinas nos novos modelos de trabalho
Como saber se uma empresa está gastando mais do que deveria na manutenção do escritório? Observar o comportamento dos funcionários ao longo do tempo pode ser mais eficaz nesse sentido do que realizar uma pesquisa — desde que a empresa tenha a ferramenta adequada para fazer esse levantamento de forma estratégica. "Com um aplicativo simples, usado diariamente por milhares de pessoas, temos em mãos dados que ajudam o cliente a entender onde estão seus custos e oportunidades", explica Flahane Roza, Coordenadora de Marketing da plataforma de gestão do workplace Deskbee.
A tecnologia é especializada no conceito de escritório híbrido, e permite aos colaboradores fazer reserva de estações de trabalho, salas de reunião, lockers e vagas de estacionamento no escritório físico, controlando em tempo real a ocupação do espaço. O uso diário da ferramenta pelos funcionários ajuda a indicar quais áreas da sede física de uma empresa são mais utilizadas, quais horários ou dias da semana são os mais movimentados, e mesmo se há algum espaço que poderia ser dispensado sem prejuízos. Para se ter uma ideia, nos quatro primeiros meses de 2022, a Deskbee somou mais de um milhão de acessos, gerando e registrando dados que podem ser aproveitados para uma gestão mais estratégica.
Inteligência artificial para gestão da relação entre indústria e varejo
Para montar uma estratégia eficiente de trade marketing, a indústria precisa ter em mãos dados dos seus produtos no ponto de venda e também dos seus concorrentes. Porém, por causa do tempo gasto em um processo manual de coleta no PDV, promotores de venda nem sempre conseguem ter todas as informações. Pensando em tornar essa coleta mais ágil e precisa, a Involves desenvolveu a ferramenta de Reconhecimento por Imagem do Involves Stage. A tecnologia usa inteligência artificial para extrair os dados do ponto de venda com apenas uma foto.
Na prática, promotores de vendas tiram fotos das gôndolas e a inteligência artificial da ferramenta faz a leitura da imagem enviada e extrai dela dados quantitativos disponibilizados em tempo real no sistema para a equipe interna das indústrias. “Dessa forma a marca pode entender melhor o contexto de cada PDV e pensar estratégias personalizadas, tornando os produtos mais competitivos frente aos concorrentes e aumentando as vendas”, explica Gabriel Vieira, Product Manager da Involves.
Uso de dados ajuda a criar cenários de previsão na logística e transporte
Em pouco tempo, os fretes pagos e com prazo de uma semana deram lugar a entregas no dia seguinte, ou até mesmo em poucas horas. As exigências dos consumidores pressionam e aumentam a complexidade das operações de distribuição e envio. Tecnologias que usam aprendizado de máquina oferecem potencial para previsão, planejamento e otimização de redes de suprimento e demanda. Segundo Marco Beczkowski, diretor de vendas e CS na Manhattan Associates, líder global em soluções para a cadeia de suprimentos, o aprendizado de máquina (ML- Machine Learning) é uma aplicação de inteligência artificial que usa dados para fornecer aos sistemas a capacidade de aprender e melhorar automaticamente com a experiência, sem serem explicitamente programados.
“Os dados são usados para entender o passado e simular milhões de cenários de tentativa e erro, em um esforço para identificar um modelo ideal para superar o problema no futuro. A máquina faz previsões e descobre insights e oportunidades, usando quantidades imensas de dados”, explica. Para ele, o momento nunca foi tão bom para que todas as empresas, grandes e pequenas, possam alavancar o ML para modernizar, fortalecer e otimizar as operações e processos do supply chain, a fim de se diferenciar no mercado. “O crescimento exponencial de pedidos e envios exige investimento em tecnologia que aprimore as operações de ponta a ponta”.
Uso de inteligência artificial deixa processos financeiros mais ágeis e transparentes
No mercado financeiro, o uso de dados é cada vez mais imprescindível para a tomada de decisões. A digitalização e automação do back office bancário são capazes de reunir grande volume de dados e auxiliar no direcionamento da melhor estratégia. No segmento de crédito, que é altamente competitivo, plataformas de automação integram diferentes tecnologias, como inteligência artificial, extração de dados via OCR, Facematch e RPA, para tornar o processo de análise mais rápido, transparente e direcionado às necessidades do cliente.
"Com base nas informações capturadas durante o processo de solicitação de empréstimo, a tecnologia é capaz de mapear a jornada do cliente e direcionar a tomada de decisões complexas a partir do cruzamento e análises desses dados. Como resultado, o banco ganha agilidade e segurança e oferece uma melhor experiência ao seu cliente, alinhada ao seu perfil e preferências", explica Thiago de Assis, CEO da Stoque, empresa de soluções de automação digital para processos e documentos, que fornece plataforma digital de crédito para instituições financeiras. "Além disso, a gestão via dashboard traz mais transparência, e eficiência, pois fica mais claro onde estão os gaps, além de trazer insights relevantes para a melhoria contínua do processo", completa.
Olhar atento aos processos reduz ineficiências na saúde
Na área da saúde, a consolidação de tecnologias data driven são úteis para aumentar a eficiência de processos. Do agendamento do paciente à alta e, posteriormente, ao faturamento da conta, existem diversos processos que precisam de cuidados específicos e bem estruturados para evitar problemas como o alto tempo para atendimento do paciente, desperdícios e baixa rotatividade de leitos. Manualmente e analogicamente, essa gestão é praticamente impossível.
Com o objetivo de identificar esses problemas e oferecer soluções para instituições de saúde, os empreendedores Cleiton Garcia e Alex Meincheim fundaram a healthtech UpFlux, primeira plataforma de mineração de processos com tecnologia 100% nacional e líder no Brasil. Garcia, que atualmente é Diretor de Produto na empresa, explica que, por meio da mineração de processos, é possível descobrir, monitorar e melhorar processos reais, extraindo conhecimento a partir de eventos já mapeados, disponíveis nos softwares que o hospital já utiliza.
“Muitas soluções tecnológicas apresentam indicadores que apontam os problemas existentes nos hospitais e clínicas, mas não mostram onde está a causa raiz desse problema e porque ele ocorre. Sem essa informação, é mais difícil saber onde exatamente o processo está falhando e, o mais importante, qual ação deve ser tomada para resolver esse problema”, explica o CPO. “Por isso, investir em tecnologias que oferecem transparência é essencial”.
Inteligência de dados para gestão de energia
Para tornar o negócio mais competitivo e focado em uma gestão energética eficiente, o uso de dados tem se tornado cada vez mais relevante no setor elétrico. A jornada “data driven” é um modelo que incorpora a análise de dados de forma sistêmica dentro da empresa e possibilita traçar uma estratégia assertiva e eficaz. “Existem várias oportunidades que podem ser exploradas para produzir mais, reduzindo o consumo de energia. No entanto, é fundamental que os gestores conheçam a operação, quais são os processos mais eletrointensivos e quais são os equipamentos associados. A partir disso, é possível ter uma visão clara sobre as oportunidades de economia”, explica Mateus Lima, Product Owner na Way2, especializada em medição e gerenciamento de dados de energia para empresas, usinas e distribuidoras.
A PowerHub é uma tecnologia desenvolvida pela Way2 que ajuda a eliminar a ineficiência operacional com dados confiáveis e análises dos principais processos de gestão de energia, faturas e gerenciamento de unidades consumidoras. “A tecnologia permite acompanhar a gestão de múltiplas unidades de forma fácil e eficiente, automatizando a captura e o processamento de faturas das distribuidoras, além de acelerar a tomada de decisão a partir de dados estratégicos de cada unidade consumidora ou setor da operação”, finaliza Mateus.
Dados permitem replicabilidade de processos no segmento de franquias
No mercado de franquias, não só os resultados são relevantes, e sim todo o processo percorrido para atingir esses resultados. Isso porque a franqueadora deve garantir um suporte de excelência e ajudar na replicabilidade das melhores práticas de suas unidades. É por isso que a Yungas, empresa que tem uma plataforma especializada na gestão e comunicação de grandes redes de franquias, trabalha e analisa os dados captados por meio da ferramenta: é a única solução voltada às redes de franquias que trabalha o programa de excelência, ferramenta que acompanha a jornada e métricas consolidadas dos franqueados
"Quando uma empresa adquire a plataforma, há um alinhamento entre os times a respeito dos objetivos a serem atingidos, e do que é preciso fazer para bater essas metas”, explica o CEO Guilherme Reitz. “Especialistas em gestão de projetos analisam os dados e acompanham a evolução dos clientes durante toda a parceria.” A plataforma usa a metodologia Customer Success e, por meio do sistema Health Score, analisa pilares como satisfação, engajamento, faturamento e padronização; apontando preventivamente quais franqueados estão em risco e quais representam oportunidades de crescimento.
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