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Como as crises climáticas afetam a vida de pessoas refugiadas?

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Como as crises climáticas afetam a vida de pessoas refugiadas?

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Relatório da ACNUR indica que 75% dos deslocados forçados no mundo vivem em países altamente vulneráveis às mudanças climáticas

Populações forçadas a deixar seus países de origem para fugir de conflitos, perseguições e violações de direitos têm enfrentado cada vez mais os impactos da crise climática global. O relatório “Sem Escapatória - Na linha de frente das mudanças climáticas, conflitos e deslocamento forçado”, lançado em novembro, durante a Conferência da ONU sobre Mudança Climática de 2024 (COP29), em Baku, pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), alerta que das 120 milhões de pessoas deslocadas à força no mundo, 75% vivem em países altamente expostos a riscos climáticos e destaca que as mudanças climáticas, somadas aos conflitos, levam as populações refugiadas à maior vulnerabilidade e situações ainda mais graves.

Segundo o estudo, até 2040 o número de países expostos a extremos climáticos pode subir de três para 65, sendo que muitos destes acolhem pessoas deslocadas, como é o caso do Brasil, Camarões, Chade, Sudão do Sul, da Nigéria, Índia e do Iraque. O levantamento aponta ainda que a maioria dos campos e abrigos para refugiados deverá enfrentar o dobro de dias de calor extremo até o ano de 2050 e que as nações mais suscetíveis aos impactos mais severos das mudanças climáticas — principalmente aquelas que vivenciam conflitos — tendem a receber o menor financiamento climático.

O Brasil, que é visto pela ACNUR como um candidato potencial a “campeão global” no acolhimento de refugiados, por já acolher mais de 700 mil pessoas deslocadas à força de países afetados por crises como Venezuela, Haiti, Afeganistão, Síria e Ucrânia, passou por um episódio recente de perigo climático. As inundações no Rio Grande do Sul, em 2024, afetaram 43 mil refugiados vulneráveis da Venezuela, Haiti e Cuba.

De acordo com André Naddeo, diretor-executivo do Planeta de TODOS, ONG mantida pelo Cartão de TODOS e dedicada ao acolhimento e integração sociolaboral de refugiados afegãos, este cenário cria ainda mais fragilidades. “Populações forçadas a se deslocar estão, cada vez mais, sem um refúgio seguro para buscar”, afirma. “A crise climática os força a sair de uma situação de risco para outra, frequentemente movendo-se de países altamente vulneráveis devido a conflitos e perseguições para nações que enfrentam perigos climáticos”, destaca Naddeo.

O relatório da ACNUR aponta que há 1,8 milhão de refugiados e solicitantes de asilo vindos do Afeganistão em países de asilo que enfrentam perigos climáticos extremos. Para Naddeo, “é fundamental agir com rapidez para assegurar que essas pessoas, que já lidam com diversos desafios, não fiquem excluídas da resposta global à crise climática”. No entanto, 90% do financiamento climático é direcionado a países de renda média e que mantém altas emissões de carbono.

“Países que recebem refugiados demonstram grande empenho e solidariedade ao mobilizar recursos, frequentemente limitados, para atender às necessidades humanitárias das pessoas forçadas a se deslocar. Muitas vezes, esses esforços são realizados sem o apoio financeiro externo ou os recursos necessários”, destaca o diretor da ONG.

Os impactos dos perigos climáticos para populações deslocadas à força

O relatório da ACNUR alerta para como as mudanças climáticas agravam a situação de vulnerabilidade das pessoas deslocadas por conflitos. Confira alguns dos impactos das crises climáticas na vida de populações refugiadas:

1) Aumento da vulnerabilidade

Refugiados, que já enfrentam a difícil situação de terem sido forçados a abandonar seus lares, tornam-se ainda mais expostos a eventos climáticos extremos. Secas, inundações, ondas de calor e tempestades destroem moradias, contaminam fontes de água potável e dificultam o acesso a recursos básicos, como alimentos e medicamentos.

2) Deslocamento contínuo

As mudanças climáticas podem forçar os refugiados a se deslocarem mais uma vez, criando um ciclo constante. Eles podem ser obrigados a deixar os locais onde buscaram abrigo devido a desastres naturais ou à escassez de recursos, ambos intensificados pelas mudanças climáticas.

3) Dificuldade de retorno

A degradação causada pelas crises climáticas pode tornar áreas dos países de origem dos refugiados inabitáveis, impedindo o retorno seguro às suas casas. Secas prolongadas, degradação do solo e a intensificação dos conflitos por recursos naturais podem tornar impossível um retorno digno e seguro.

4) Impactos na saúde

As mudanças climáticas aumentam os riscos à saúde dos refugiados, incluindo a propagação de doenças transmitidas por vetores, como a malária, além de problemas como desnutrição e questões de saúde mental. A escassez de recursos e as condições precárias nos campos de refugiados agravam essas situações.

5) Tensões com as comunidades anfitriãs

A competição por recursos escassos, intensificada pelas crises climáticas, pode gerar conflitos entre os refugiados e as comunidades anfitriãs. A disputa por água, terra e outros recursos essenciais pode resultar em desentendimentos e violência.

Em nota divulgada pela ACNUR, o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi afirma que “a emergência climática representa uma profunda injustiça”. Para Grandi, “pessoas deslocadas e as comunidades que as acolhem, as menos responsáveis pelas emissões de carbono, pagam o preço mais alto. Bilhões em financiamento climático nunca chegam até eles, e a assistência humanitária não consegue cobrir a lacuna crescente. Soluções existem, mas precisamos de ação urgente”, endossa.

Sobre o Planeta de TODOS

A ONG brasileira Planeta de TODOS foi fundada em 2016 e é mantida pelas Unidades de Negócio que compõem o Grupo TODOS Internacional — Cartão de TODOS, AmorSaúde, MaisTODOS e Refuturiza. Nesses oito anos, atuou nas maiores crises migratórias do mundo, na Itália e Grécia, atendendo a jovens imigrantes vindos principalmente do Oriente Médio e África. Esteve presente na Ucrânia durante a invasão russa, e em Roraima, na fronteira com a Venezuela. Em Bogotá, na Colômbia, mantém a Casa Feliz, exclusiva para o atendimento a pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. O novo espaço em Ribeirão Preto é o primeiro no Brasil. O modelo de trabalho do Planeta de TODOS é inédito no mundo e está disponível em formato copyleft no site.


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