Para além de setembro: o poder do diálogo e da escuta para a prevenção do suicídio
Especialista explica sobre a importância da sociedade debater cada vez mais sobre o tema
Falar sobre suicídio ainda é um tabu na sociedade, mas essa situação pode ser revertida com muitas informações e conversas para a prevenção tão discutida em setembro existir o ano inteiro. Segundo a professora do curso de Psicologia da Universidade Guarulhos (UNG), psicoterapeuta psicanalítica e especialista em suicidologia, Kelly Barbosa, a razão desse silêncio, muitas vezes, está relacionada ao medo de enfrentar questões dolorosas e à crença de não dialogar sobre o assunto no intuito de evitar o problema. Ela ainda destaca que falar sobre suicídio não é apenas necessário, mas também terapêutico, pois permite trazer à tona informações capazes de ampliar a compreensão e diminuir o sofrimento de quem pensa em tirar a própria vida. Contudo, é importante reconhecer que essa comunicação precisa ser conduzida de forma cuidadosa e responsável.
O suicídio é um fenômeno multifatorial e problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtornos de personalidade, podem contribuir significativamente para as pessoas terem este tipo de pensamento. Além das condições clínicas, os fatores sociais, emocionais e até espirituais também são capazes de impactar o comportamento suicida. “Precisamos olhar para o ser humano em sua totalidade, considerando sua subjetividade e singularidade”, comenta. A identificação precoce de sinais de alerta, como mudanças drásticas de comportamento e falas sobre morte, salva vidas.
Kelly Barbosa ainda ressalta a importância de estar atento a agentes de risco, como tentativas prévias de suicídio, uso de substâncias químicas e problemas de relacionamento. Entretanto, ela aponta que fatores protetivos, como o apoio familiar, ambientes acolhedores e o acesso a serviços de saúde mental, podem fazer a diferença na prevenção. “É fundamental proporcionar um ambiente seguro, receptivo e de confiança, onde as pessoas se sintam à vontade para falar sobre suas dores”, afirma.
Outro aspecto mencionado pela professora é a necessidade de se desfazer de mitos sobre o suicídio, como o de que quem fala sobre o assunto não o concretiza. Para ela, esse é um dos maiores enganos perpetuados na sociedade. “Expressar-se sobre a temática é, muitas vezes, um pedido de ajuda e precisamos estar dispostos a ouvir e acolher”, explica. Ela reforça o quanto o papel da escuta é essencial para criar novas possibilidades de ação, ajudando a pessoa em sofrimento a encontrar caminhos para lidar com sua dor.
Por fim, a psicoterapeuta defende que, para quebrar o receio em falar sobre suicídio, é preciso ir além da informação: é necessário sensibilizar. O pensamento e sentimento de querer acabar com a própria vida envolve questões profundas, a ponto de exigir um olhar empático para a complexidade do ser humano. “A prevenção passa pelo reconhecimento de como o sofrimento faz parte da vida. Não devemos temer a dor, mas enfrentá-la com coragem e compaixão”, conclui.
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