Narrativas femininas: amplitude e diversidade na comunicação
*por Regina Macedo
Existem milhões de maneiras de olhar para o mundo em uma sociedade tão diversa e plural como a que vivemos. Cada um de nós é formado pelas pequenas e grandes vivências ao longo da vida, um painel interno de memórias. E o que nos faz ser quem somos, vem das maneiras e dos momentos em que escolhemos compartilhar, ou não, nossas dores e riquezas
Comunicar é trocar conhecimento, sentimentos, ideias. É o tecido que costura as experiências intrínsecas, que dá liga, compõe a narrativa e revela personalidade.
Cada pessoa expressa seu repertório, seu jeito de ver o mundo, por meio das notícias que busca, filmes, seriados, livros com os quais se identifica e, é claro, há uma infinidade de opções em todos os meios de comunicação existentes. É de extrema importância acompanharmos o mundo e suas manifestações culturais, ampliando a visão e reflexão sobre as constantes mutações da sociedade.
As histórias sobre mulheres, principalmente, são fonte inesgotável de transformação e inspiração, e contribuem para uma compreensão mais profunda da saga feminina em diversas culturas. Olhar além da nossa bolha individual amplia a visão, proporcionando uma apreciação mais rica e inclusiva da complexidade humana, além de nos sensibilizar a ouvir outras vozes que tantas vezes foram abafadas.
Para aqueles que trabalham ou gostam de saber sobre os bastidores da área de comunicação, “The News Room” e “Borgen: o Reino, o Poder e a Glória” são seriados frequentes em minha lista de indicações. O primeiro acompanha os bastidores de um grande programa de televisão – semelhante ao recente “The Morning Show”, com Jennifer Aniston – após uma “crise ao vivo”. Na história, iremos descobrir como uma diretora recém-contratada irá contornar os desafios para reestabelecer a imagem do principal apresentador do projeto, tendo então a mulher como guia de mudança e em uma posição crucial para o sucesso de um negócio. Um tema conhecido por muitas de nós.
Já “Borgen” nos leva aos jogos da política, iniciando a história quando BirgittA Christensen, contra todas as expectativas, é eleita primeira-ministra da Dinamarca. Descobrir o universo por trás das câmeras já é entusiasmante, mas poder desbravar isso pelas estratégias e posicionamentos de uma mulher à frente de um dos cargos mais importantes do mundo, é uma forma irreverente de compreender as nuances do poder.
Em um mundo no qual ainda é necessário incentivarmos e abrirmos mais espaços para as mulheres, acredito ser indispensável a arte de poder experimentar, mesmo que por uma tela ou uma página, uma diferente inserção do papel da mulher nos mais diferentes cenários.
Ainda recomendo mais dois exemplos de protagonismo feminino: o primeiro é o filme “Tracks”, que para mim é a imagem visual da força de todas as mulheres, sejam para atravessar um deserto ou para conciliar a vida profissional e sonhos pessoais. Em 1997, a jovem Robyn Davidson (Mia Wasikowska) embarca em uma caminha de 2.700 quilômetros, pelo deserto da Austrália, partindo de Alice Springs. Acompanhada pelo fotógrafo do National Geographic, Rick Smolan (Adam Driver), documentado toda a viagem, e por seu fiel cachorro mais TRÊS camelos, ela pretende chegar até o Oceano Índico. Baseado no livro de Robyn Davidson, de mesmo nome.
Outra indicação é “Garota, mulher, outras”, uma prosa em poesia, se assim posso dizer. Com um formato diferente de tudo o que esperamos encontrar, Bernardine Evaristo nos conta a história de doze mulheres e nos permite adentrar o viver feminino em diferentes situações, evidenciando a pluralidade de quem somos e de quem podemos ser. O pano de fundo dessas histórias é uma Londres dividida e hostil, logo após a votação do Brexit: um lugar onde as pessoas lutam para sobreviver, muitas vezes sem esperança, sem que as suas necessidades sejam atendidas e sem que sejam ouvidas. Nesse ambiente opressor, as vozes de “Garota, mulher, outras” formam um coro e levantam reflexões poderosas sobre a estrutura da sociedade. Em 2019, venceu o Booker Prize, um dos mais importantes prêmios literários.
Vale beber dessas fontes, se hidratar, e nutrir a própria narrativa de coragem ao longo da trajetória de cada uma de nós.
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