Carlos Josias: Mudanças Climática e Repercussão no Seguro
Confira o artigo do advogado sócio fundador da CJosias & Ferrer Advogados Associados, Carlos Josias Menna de Oliveira
No país onde inexistiam furacões, ciclones e semelhantes, a cobertura de vendaval era quase um entulho a se livrar – diante do baixo atrativo ao segurado, por se tratar de risco de difícil ocorrência (a exigência era de que a velocidade dos ventos fosse igual ou superior a 75 Km por hora) – comercializada junto com o seguro de incêndio era a forma de venda encontrada, como na década de 70 foi o seguro de RCFV na apólice de automóvel.
No seguro AUTO E RC a cobertura de responsabilidade civil era o entulho que para ser vendida era ´empurrada' junto com o automóvel, grande protagonista dos contratos na ocasião; o tempo e as necessidades mudaram este quadro e esta transformação se vê nitidamente através dos gráficos de evolução das Importâncias seguradas ao longo dos anos, associada diretamente às necessidades do usuário, para os dois riscos.
Hoje, DM e DP estão sempre em alta e as importâncias seguradas são em regra elevadas e muito superiores aos do casco do veículo objeto do contrato.
No fim dos anos 60 e durante os 70 os valores de IS para auto/casco eram muito superiores aos de responsabilidade civil danos materiais e pessoais.
Com o decorrer do tempo e a descoberta da imensa proporção dos prejuízos que alcançavam terceiros com acidentes no trânsito os danos pessoais passaram a ser considerados mais essenciais e mais procurados que o próprio casco na contratação auto – aumentaram as postulações dos terceiros com pensionamento e outros tipos de danos.
Com o advento das reclamações por danos morais este quadro se agravou, até que o setor encontrou uma forma de acomodá-los, o que surgiu de uma alteração de costumes e cultura. Hoje a questão no ramo está superada e a comercialização se estabeleceu ao seu tempo que quer me parecer foi mais lento do que a urgência atual face mudanças climáticas ferozes.
Vendavais ficaram superados, hoje fomos invadidos por ciclones, e outros fenômenos, até pequenos tremores de terra, que assaltaram o país, especialmente o Rio Grande do Sul, talvez o Estado mais atingido, provocando destruição em massa, arrastando prédios, móveis, utensílios e veículos, trazendo medo, pavor diria, destruindo lavouras, causando alagamentos e deixando centenas de famílias desabrigadas e na miséria, com perda de patrimônio e ceifando vida por onde passava.
O cenário que acabou transformando a comercialização do RC como cobertura tão ou mais importante que a de Auto Casco, se repete, agora, de forma muito mais trágica em outros ramos, porque atinge a coletividade, comunidades, cidades inteiras, regiões em larga escala, trazendo além de todas as perdas inseguranças e incertezas, sofrimento.
E mais, repercute em todos os ramos do setor, residências, móveis, VIDAS, negócios, agro, enfim passa por todas atividades humanas e alcança quase todas as modalidades de seguro.
De sorte que estamos diante de uma nova e dura realidade que vem, na verdade, já há algum tempo ensaiando estes episódios a provocar uma nova mudança na cultura neste setor que se reinventa.
Vendaval e outras coberturas tidas como quase em desusança, um entulho a se comercializar, passam a se tornar uma exigência em favor da prevenção.
O setor já está tendo atividade exaustiva para acomodar novas ofertas, para estabelecer novos riscos e taxas – mais trabalho para os atuários – e consequentemente mais gerenciamento de vendas e administração da sinistralidade.
Reeducação que passa, também, por um jeito mais didático de alcançar um consumidor que tem de se integrar e participar deste aprendizado pois passa por ele, igualmente, uma nova postura frente a esta nova realidade.
O que antes era raro passou a ser recorrente.
Devemos ter um ano de preocupações, mas como tenho dito, o setor se reinvente, teremos novidades.
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