Três tendências do setor financeiro para 2024
Como IA, Cloud e Open Finance impactam nas soluções financeiras do futuro
Flavio Gaspar (*)
O setor financeiro enfrenta um cenário dinâmico com a evolução contínua das tecnologias e da maneira como as pessoas se relacionam com o dinheiro. As empresas de soluções financeiras enfrentam desafios para operar de forma eficaz, antecipar as necessidades de seus clientes e, ao mesmo tempo, desenvolver produtos que atendam às expectativas e exigências do consumidor.
Neste artigo, selecionamos algumas tendências tecnológicas que serão fundamentais para 2024 e que poderão moldar o futuro da indústria, desde a adoção acelerada de inteligência artificial à expansão de sistemas financeiros abertos e de plataformas baseadas em nuvem, que tornam possível o desenvolvimento de tais modelos. A ideia é explorar as capacidades, benefícios e desafios para aplicar essas três tecnologias que impactam na operacionalidade, na segurança, na personalização do serviço e no relacionamento entre empresa e cliente.
O papel da IA nos serviços financeiros do futuro
Nos últimos anos, os bancos implementam as mais recentes inovações tecnológicas para se manterem competitivos e redefinirem a forma como interagem com os clientes. A inteligência artificial (IA) não tem sido exceção. Diferentes empresas provedoras de soluções financeiras que integraram essas tecnologias em suas ofertas conseguiram obter diversos benefícios, como aumento de receita por meio de maior personalização de seus serviços e produtos; redução de custos com a automação de processos e geração de estratégias com a análise de grandes quantidades de dados.
De acordo com relatório da International Data Corp, estima-se que os gastos mundiais com inteligência artificial atingiram US$166 bilhões em 2023 - o setor bancário foi um dos maiores contribuintes, com aproximadamente 13%-, valor que deve chegar a US$450 bilhões até 2027. Entre os principais benefícios da IA para o setor financeiro estão: maior eficiência com a automação de processos complexos e repetitivos; análise preditiva e identificação de padrões para prevenção de riscos; experiências personalizadas adaptadas às necessidades individuais dos clientes e desenvolvimento de produtos inovadores e disruptivos.
Ao longo de 2023, bancos, fintechs e outras empresas começaram a testar modelos com outra abordagem para essa tecnologia: a inteligência artificial generativa, capaz de gerar conteúdo novo e original, e não simplesmente processar dados ou tomar decisões com base em padrões existentes.
A IA generativa pode criar imagens, texto, música e muito mais. Esse novo conteúdo inclui, por exemplo, dados sintéticos, que são informações geradas a partir de amostras de dados reais para treinar modelos. O algoritmo é baseado em padrões de aprendizagem e correlações e, uma vez treinado, pode gerar dados idênticos. Essa tendência veio para impulsionar a produtividade e o desempenho no dia a dia das operações, tendo grande potencial para transformar os serviços financeiros do futuro.
Investimentos
Desde o início de 2023, várias empresas de soluções financeiras vêm aplicando diferentes modelos de IA generativa. A expectativa é continuem investindo seus esforços e dinheiro nos próximos cinco anos, implementando melhorias e otimizações.
Entre os grandes bancos, a hiperpersonalização é uma das principais metas com o uso de IA generativa. Algoritmos podem interagir com os clientes em serviços que incluem alertas sobre multas após o vencimento de faturas, bloqueio de transações financeiras suspeitas e propostas para fazer a portabilidade de um serviço.
Pelo que acompanhamos do mercado, o JP Morgan, por exemplo, está desenvolvendo o IndexGPT, um serviço de inteligência artificial que fornece consultoria personalizada de investimentos, analisa e seleciona valores com base nas necessidades individuais do usuário. Por sua vez, a Wells Fargo utiliza a IA conversacional do Google (Dialogflow) para alimentar seu assistente virtual, o Fargo, bem como o Large Language Model (LLM) para auxiliar os clientes com informações que precisam fornecer aos reguladores. Outro caso de uso da IA generativa ocorre no Goldman Sachs, cujos desenvolvedores testam ferramentas com a tecnologia para ajudar a escrever códigos.
Desafios da IA Generativa
- Confiança e gestão ética: as organizações devem se concentrar no desenvolvimento de algoritmos confiáveis que, além da eficiência técnica, incorporem aspectos éticos e socialmente responsáveis. A transparência destaca-se como um componente essencial para construir e manter a confiança do cliente.
- Segurança, privacidade e controle: os riscos potenciais incluem a concentração de dados em grandes empresas e possíveis violações de privacidade na coleta de dados públicos sem consentimento. Para evitar que modelos de IA exponham dados inadvertidamente, sugere-se a incorporação de medidas de privacidade desde o início do projeto. Obter o consentimento do cliente e manter procedimentos rígidos de segurança são essenciais para evitar usos maliciosos, como a criação de falsificações ou conteúdo de phishing.
- Regulação: as respostas regulatórias à IA geram diferenças e incertezas regionais, afetando a concorrência. As regulamentações variam entre as jurisdições, com possíveis penalidades em diferentes países ao redor do mundo. Por isso, aumentar a transparência dos modelos, especialmente aqueles que impulsionam a IA generativa, é uma forma de garantir mais segurança e de demonstrar seu impacto nos negócios.
Evolução do Open Finance e dos Pagamentos Digitais
O crescimento do Open Finance, também conhecido como finanças abertas, representa uma evolução significativa no cenário financeiro global, onde a conectividade e o compartilhamento de dados desempenham um papel central na transformação dos ecossistemas digitais. Esse conceito vai além da simples abertura de dados, abrindo as portas para uma colaboração mais ampla entre bancos, cooperativas, fintechs, governos e outros players do mercado.
A importância do Open Finance reside em sua capacidade de impulsionar a inovação, melhorar a experiência do usuário e fomentar a concorrência, transformando o modo como as informações financeiras são acessadas, compartilhadas e usadas. À medida que as regulamentações evoluem e a tecnologia avança, o Open Finance está emergindo como um catalisador fundamental na redefinição do setor financeiro global.
Segundo a Juniper Research, o Open Banking, que consiste no compartilhamento, acesso e reutilização de dados pessoais e não pessoais com a finalidade de oferecer diversos serviços financeiros, terá um crescimento de 479% entre 2022 e 2027, gerando cerca de US$ 330 bilhões em transações em cinco anos.
O sucesso desta abordagem depende, em grande medida, da forte confiança dos clientes, especialmente no que diz respeito à partilha e reutilização de dados, incluindo dados pessoais. Para desenvolvê-lo de forma eficaz, é fundamental proteger indivíduos e empresas, mitigando os riscos associados ao acesso e ao uso de dados, ao mesmo tempo em que aborda e reduz os problemas potenciais de seu uso.
No contexto do Open Finance, as APIs são essenciais, pois permitem a troca segura e eficiente de dados entre diferentes instituições e provedores de serviços financeiros. Elas permitem uma transferência ágil de informações entre diferentes sistemas, acelerando, assim, o processamento de pagamentos. No espaço de pagamentos, as APIs permitem experiências de transação perfeitas; elas podem iniciar pagamentos, verificar contas para garantir o recebimento adequado de fundos e fornecer acesso em tempo real às informações da conta.
Soluções financeiras em nuvem
As plataformas em nuvem emergiram como catalisadores fundamentais na transformação digital, marcando uma mudança significativa na forma como várias empresas entregam seus serviços financeiros. Sua capacidade tecnológica fornece flexibilidade, escalabilidade e eficiência operacional, permitindo enfrentar desafios complexos e adaptar-se a um ambiente em constante evolução.
A nuvem facilita a implementação ágil de novas tecnologias, como as que vimos anteriormente: inteligência artificial, análises avançadas e serviços financeiros abertos, ampliando o caminho para a inovação e melhoria contínua. Nos últimos anos, a implementação de interfaces e ecossistemas em nuvem tem sido uma prioridade para bancos, fintechs, cooperativas e outras instituições. De acordo com o Gartner, todos os setores gastaram cerca de US$ 195 bilhões em serviços de aplicativos em nuvem em 2023, com o setor financeiro sendo um dos principais contribuintes.
Portanto, as plataformas em nuvem vão além de um simples local de armazenamento. Elas são um modelo capaz de potencializar a inovação nos negócios de soluções financeiras atuais para atender as crescentes demandas técnicas, juntamente com os desafios de segurança cibernética.
A tendência é que as organizações adotem estratégias multicloud – combinação de nuvens públicas e privadas –para otimizar o desempenho, reduzir o bloqueio de fornecedores e melhorar a resiliência. Esses tipos de plataformas permitem que a experiência do cliente em vendas, atendimento e marketing esteja perfeitamente alinhada, ajudando a expandir e transformar os recursos digitais.
A combinação de plataformas em nuvem, Open Finance e IA continuarão a abrir as portas para a inovação e colaboração, liberando o potencial para oferecer serviços mais personalizados, ágeis e acessíveis. No entanto, as estratégias de segurança e interoperabilidade devem ser reforçadas, juntamente com a educação adequada dos clientes sobre a utilidade e o valor dos seus dados e informações, para que tenhamos cada vez mais sistemas resilientes, inclusivos e dinâmicos.
(*) Flavio Gaspar é diretor da Topaz, uma das maiores empresas de tecnologia especializadas em soluções financeiras digitais. Presente em 25 países das Américas, a Topaz conta com uma plataforma full banking reconhecida pelo Gartner, Forrester, Celent e outras consultorias internacionais.
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