Recorde de demissões e alto volume de burnout: o trabalhador brasileiro está adoecido emocionalmente
Psicóloga Fátima Macedo, CEO da Mental Clean, explica o porquê de muitas empresas ainda não pensarem na saúde mental do trabalhador e qual a solução
As relações de trabalho entre empresas e colaboradores passaram por grandes transformações nos últimos anos, muitas impulsionadas principalmente pela pandemia de Covid-19. O home office forçado, o isolamento social e o aumento de pessoas com a saúde mental prejudicada pressionaram as empresas a reverem as condições de trabalho que proporcionam a seus colaboradores.
Nesse contexto, uma sigla ganhou destaque em todo o mundo, a ESG, ou sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa (do original em inglês, Environmental, Social and Governance), que é o compromisso que as organizações assumem para se tornarem melhores para o mundo, para o meio ambiente e para seus colaboradores. Enquanto muitas empresas já buscavam este caminho, para outras mais conservadoras pode parecer uma mudança drástica, e a população já começou a responder às que não se adequaram.
Segundo levantamento da consultoria financeira LCA, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Brasil registrou um número recorde de pedidos de demissão de julho de 2021 a julho de 2022, mesmo com a crise econômica. Foram cerca de 6,4 milhões de pessoas que pediram para sair de seus cargos. A divulgação dessa pesquisa coincide com a de outro estudo, este realizado pela International Stress Management Association (Isma), que mostra que o Brasil é o segundo país com mais casos de burnout no mundo, superando os Estados Unidos, e ficando atrás apenas do Japão.
Apesar desse panorama, ainda há diversas empresas resistentes à mudança. Para Fátima Macedo, psicóloga especialista em Saúde Mental do Trabalhador e CEO da Mental Clean, há vários fatores que influenciam nessa “virada de chave”, mas um dos mais comuns ainda é o pensamento dos gestores. “Era muito comum ouvir de altas lideranças que a empresa está dando lucro, que está dando tudo certo e que, portanto, não é preciso ‘perder tempo’ com esse tipo de preocupação com o ambiente de trabalho, pois isso ‘gera gastos’. Houve pouca evolução nesse tipo de pensamento, ainda há uma dificuldade para entender qual o custo real do adoecimento de um colaborador dentro do ambiente de trabalho”, explica.
Para a CEO da Mental Clean, a solução para este problema seria mostrar o valor que a gestão despenderia com este funcionário em caso do adoecimento. “São poucas as empresas nas quais a área responsável consegue demonstrar os gastos que ela terá com um trabalhador adoecido. Ainda há essa dificuldade também, mas é possível calcular o impacto com os custos diretos e indiretos. Quando a empresa se depara com esses números, ela percebe que são assustadores”, comenta Fátima, exemplificando que já vivenciou a reação de clientes que solicitaram auxílio nesse processo.
Oferecer um ambiente de trabalho saudável, que traga bem-estar aos funcionários, é essencial para manter a produtividade e fazer a empresa evoluir, de acordo com a psicóloga, e, muitas vezes, para isso, é necessário repensar a cultura da empresa. Mas antes de tudo, é preciso não deixar que os funcionários adoeçam para tomar uma atitude. “Nós ainda temos uma cultura muito remediativa. As pessoas se conformam com um ambiente que não é satisfatório sem pensar nas consequências a longo prazo. Não pensam de forma preventiva. É preciso viver o hoje, mas pensando também no que podemos fazer para ter um amanhã melhor”, conclui.
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