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Covid-19 - O que vem depois da recuperação em V?

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O texto traz as reflexões do economista Igor Barenboim sobre o cenário econômico nacional e mundial após o Coronavírus.

Há muitos frutos para serem colhidos nessa caminhada de recuperação

A economia mundial foi atingida pela COVID-19: o PIB brasileiro pode cair 7,7% neste ano; o dólar está quase chegando na casa dos R$6,00; os pedidos por seguro-desemprego aumentaram em 39% no Brasil; e o dado mais alarmante: o custo global da pandemia pode chegar a US$ 8,8 trilhões.

Para enfrentar tais complicações, a decisão foi manter as pessoas em casa. No Brasil, para preservar a capacidade de consumo da população, o Governo decidiu que a sociedade deveria se endividar como um todo para assim oferecer suporte às pessoas.

Após um semestre desse conjunto de decisões importantes, as informações de que em alguns meses a vacina estará disponível desperta uma pergunta: a estratégia funcionou?

Entendendo melhor o contexto do país durante a pandemia

Para o economista Igor Barenboim, diferente das estimativas iniciais, o Brasil perdeu menos vidas do que se imaginava. Além disso, a economia respondeu bem aos estímulos fiscais e monetários com a retomada em V. Contudo, há um contraponto: a dívida pública subiu no país, em relação a renda nacional por exemplo, elevou-se mais que dez pontos percentuais.

O economista reforça que a economia que começava a surgir após a reforma da previdência em 2019, foi gasta no ano seguinte para amparar a sociedade diante da Covid-19. Municiado de todas essas informações, Igor Barenboim traça um prognóstico para a economia nacional.

Como fica a economia brasileira e mundial

A crise do Coronavírus fez com que as economias avançadas dobrassem a aposta nos estímulos fiscais e monetários implantados após a grande crise financeira mundial de 2008. Naquele ano, essas economias decidiram cortar juros para perto de zero e adotar medidas de estímulo monetário mais heterodoxas, como o relaxamento monetário quantitativo. Ou seja, utilizar os bancos centrais para comprar título de dívida de forma a inflar artificialmente os seus preços.

À época, imaginava-se tratar de políticas temporárias que seriam removidas rapidamente. Porém, 12 anos depois, com o surto da pandemia, coube as autoridades monetárias dobrar a aposta. Juros reais negativos se tornaram prevalentes e a percepção de que preços de ativos não refletem seu risco retorno efetivo são prevalentes em muitas rodas no setor privado.

Entretanto, o ímpeto para desafiar a avalanche monetária é pequeno depois de mais de uma década desse tipo de política que chegou inclusive a muitos países emergentes. Do outro lado do balcão, bancos centrais se veem refém desses estímulos receosos de que, caso sejam removidos, a economia entre em depressão.

Nesse contexto, o mundo passa por um equilíbrio de baixo crescimento, alto endividamento, baixos juros e elevados preços de ativos. Um detalhe preocupante sobre isso: essa última perna do equilíbrio trouxe muita frustração a nova geração (millenials) que não consegue ter alta renda e nem capacidade de comprar suas casas nas cidades onde encontram trabalho.

Ademais a globalização levou empregos para fora dos países centrais fazendo com que a nova geração não consiga ter uma condição de vida superior à de seus pais. Essa sensação de não conseguir ir para frente gera uma frustração grande com o sistema capitalista e com a globalização que se reflete na eleição de políticos que representam essa frustração de demandas como Trump e Johnson. Esses são artífices do processo de desglobalização ora em curso com consequências negativas para o poder de compra e crescimento econômico mundial.

Dessa forma, há pressão para um aumento de custos com a desglobalização e pressões pela manutenção de estímulos por conta da falta de crescimento. Sendo assim, caminha-se gradualmente para uma estagflação global em que o Brasil, país pouco integrado às cadeias globais, é certamente um dos mais protegidos. Por isso, o mais importante é enfrentar os desafios internos e encontrar o equilíbrio e caminho do desenvolvimento.

Considerações Finais

Para fechar seu argumento, Igor Barenboim ainda ressalta que o Brasil se encontra com dívida enorme de quase 100% de seu PIB, além claro, de uma dinâmica de baixo crescimento por conta da incerteza institucional que o assola.

Por um lado o crescimento do gasto público é certo, mas o financiamento para ele não é. Fica a dúvida de como se fechará a equação, cortarão gastos obrigatórios ou aumentarão os impostos? Se são os impostos, quais? Como investir nesse ambiente de alta incerteza?

Essa é a agenda principal. O governo Bolsonaro está nessa encruzilhada agora e com elevado capital político para encaminhá-la. Historicamente, a República brasileira não é chegada a saídas revolucionárias, estilo Big Bang, o caminho é vagar na direção requerida.

Igor acredita que o caminho a ser seguido é por algum corte de despesas obrigatórias, alguma reforma tributária majorando impostos na medida suficiente para alavancar a economia. Além disso, ele também ressalta que deve haver bastante espaço para a liberalização de setores importantes da economia como feito recentemente no saneamento e no setor de gás. Ele encerra o seu ponto reforçando que há muitos frutos para serem colhidos nessa caminhada.


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