Estudo inédito aponta que atletas mais jovens têm mais chance de contrair a Covid-19
Pesquisa liderada pelo INTO apontou ainda que 20% dos atletas estudados tiveram lesões durante a pandemia.
Atletas de 18 a 45 anos devem redobrar a atenção com o risco de contágio pelo vírus da COVID19. É o que alerta a pesquisa realizada por equipes do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e a Universidade Estadual da Zona Oeste (UEZO). O estudo revelou que os atletas mais jovens (com menos de 27 anos), que são fumantes, têm filhos e tiveram um companheiro de equipe contaminado com a Covid-19, apresentaram uma prevalência maior da doença.
Mais de 400 atletas de diferentes modalidades esportivas foram estudados entre agosto e dezembro do ano passado. Capitaneado pela pesquisadora Prof. Dra. Jamila Perini, coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular e docente do curso de Mestrado do INTO, o trabalho buscou compreender o impacto da pandemia na vida desses profissionais.
“Nós temos um projeto no INTO que avalia o perfil genético dos atletas para identificar alterações que levam à predisposição de lesões. Com o início da pandemia e com o isolamento social, vimos a necessidade de entender como esses atletas iriam enfrentar a pandemia e como seriam afetados pelo cancelamento dos jogos”, explicou a pesquisadora.
Para a realização da pesquisa, os atletas responderam a um questionário sobre os hábitos de vida e saúde, a rotina de treinamentos, informações sobre a COVID19 e a pandemia. O material questionava ainda se o atleta ou alguém da família, ou equipe, havia sido infectado. Em um segundo momento, foram realizadas ainda questões para avaliar o comportamento psicológico e emocional de cada um dos profissionais.
O estudo acendeu o alerta para o retorno dos atletas às atividades pós-pandemia. “É importante que os profissionais da saúde que acompanham esses atletas fiquem atentos à função cardíaca porque muitos deles, mesmo sendo subclínicos (sem sintomas), no retorno às atividades intensas de treinamento podem apresentar algum quadro grave em relação à função cardíaca e pulmonar”, alertou a Prof. Dra. Jamila Perini.
Além das possíveis sequelas da COVID19 nos atletas que se infectaram, o desempenho desses profissionais também pode ficar comprometido por consequência dos treinamentos adaptados e da falta de acompanhamento ou de local adequado para os treinos. A pesquisa mostrou que 20% dos atletas que participaram do estudo desenvolveram alguma lesão musculoesquelética durante a pandemia.
É o caso do atleta Genival Machado da Silva Santos, de 30 anos, que durante a pandemia deixou a pista de atletismo para treinar na rua perto de casa. Com o contrato suspenso pelo clube, Genival se viu obrigado a adaptar os treinamentos e passou a correr no asfalto, adquirindo dores no joelho, tornozelo e quadril.
O atleta conta que na quarentena manteve os treinos para não perder o condicionamento físico, mas a falta de estrutura acabou provocando uma série de pequenas lesões. “Eu cheguei a ficar parado por uma semana por conta de uma contratura na lombar, porque o asfalto não absorve impacto como a pista, então a região da lombar acabou ficando sobrecarregada”, explicou Genival.
O estudo apontou ainda que cerca de 9% dos atletas testaram positivo para COVID19. No entanto, 60% deles não realizaram o teste de diagnóstico. Nesse grupo, estão incluídos atletas de baixa renda, que utilizam o Sistema Único de Saúde, que têm educação universitária e que possuem uma atividade secundária como renda. Outro resultado importante apontado pela pesquisa é que 26% dos atletas que não foram testados ou que testaram negativo apresentaram três ou mais sintomas característicos da doença. Além disso, 11% dos atletas que apresentaram COVID19 eram assintomáticos.
“Se não tivessem sido testados, esses atletas poderiam entrar em contato com outros atletas e disseminar o vírus. Isso mostra a importância da realização do diagnóstico. Grande parte dos atletas não foi testada e muitos deles poderiam estar assintomáticos”, sinalizou a Prof. Dra. Jamila.
Para o diretor-geral do INTO, Dr. Vitor Miranda, que participou da execução da pesquisa, o estudo aponta um importante mapeamento do cenário da Covid neste grupo.
“Estas informações são de grande importância no contexto da atual pandemia e serão igualmente importantes na pós-pandemia”, destacou o diretor.
A pesquisa publicada na revista científica internacional Biology of Sports contou ainda com a participação dos pesquisadores do INTO, Rodrigo Goes, Victor Cossich e Gabriel Garcez. Já a equipe da UEZO foi formada pelas discentes do Curso de Farmácia Giuliana Rodrigues e Jessica Rocha, além do doutorando da Fiocruz, Lucas Lopes, que também é responsável pelo estudo.
Sobre o INTO
O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) é um órgão da administração direta do Ministério da Saúde, referência no país para tratamento cirúrgico ortopédico de alta complexidade, destinado a atender exclusivamente aos pacientes do SUS.
O INTO é atualmente o único hospital brasileiro a integrar a International Society of Orthopaedic Centers (ISOC), que congrega os 23 melhores centros de ortopedia no mundo, e uma das poucas unidades públicas desse grupo.
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