Câncer de esôfago: como ficarão as estatísticas pós-pandemia?
Pesquisa revela que durante a pandemia as pessoas estão comendo mais, fumando mais, consumindo mais álcool e se exercitando menos. São os fatores de riscos diretamente relacionados à doença; abril é o mês de prevenção do tumor
No Brasil, o câncer de esôfago (tubo que liga a garganta ao estômago) é o sexto mais frequente entre os homens e o 15º entre as mulheres, excetuando-se o câncer de pele não melanoma. É o oitavo mais frequente no mundo e a incidência em homens é cerca de duas vezes maior do que em mulheres. Os principais fatores de risco relacionados ao câncer de esôfago são: o consumo de bebidas alcoólicas, o excesso de gordura corporal e o tabagismo, que isoladamente é responsável por 25% dos casos da doença. Ou seja, hábitos de vida que podem prevenir esse tipo de câncer. Como ficarão as estatísticas após a pandemia de COVID-19?
Uma pesquisa com 44.062 indivíduos realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas, teve a finalidade de verificar como a pandemia afetou ou mudou a vida da população. Segundo David Pinheiro Cunha, oncologista e sócio do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia as análises trazem resultados alarmantes. “As mudanças no estilo de vida relacionadas ao hábito de fumar, consumo de bebidas alcoólicas, prática de atividades físicas e de alimentação analisadas mostram dados drásticos”, aponta.
No estudo, o total da população avaliada que fumava (12%), mostrou que 23% aumentou em 10 cigarros o consumo diário e 5% aumentou em 5 cigarros diários. No quesito álcool, 18% relatou aumento no consumo da bebida, sendo que em adultos entre 30-39 anos o aumento foi de 25%. “Já sobre atividade física, a pesquisa mostrou uma situação extremamente alarmante: 62% da população relatou não estar fazendo atividade física. Entre as que faziam 3-4 vezes por semana, na pandemia 46% delas parou. E entre as que faziam 5 vezes por semana, 33% parou. Sendo que antes da pandemia, 35,5% faziam 150 minutos de atividades por semana, e na pandemia esse percentual caiu para 16%. Ou seja, as pessoas estão em casa, comendo mais, fumando mais, consumindo mais álcool e não estão se exercitando. Ações que em um futuro não muito distante terão complicações graves para a saúde da população, inclusive no aumento de casos de câncer de esôfago”, afirma o médico.
Diagnóstico na pandemia
O diagnóstico de novos casos de câncer caiu até 50% no país em 2020. “E passamos novamente por um terror hospitalar relacionado à COVID-19 em todo mundo, agora em 2021. De acordo com um levantamento do Radar do Câncer, do Instituto Oncoguia, as biópsias tiveram uma redução de 39,11% (de 737.804 para 449.275), entre março e dezembro do ano passado, em comparação ao mesmo período de 2019. As maiores quedas ocorreram nos meses de abril (-63,3%) e maio (-62,6%). Em outros exames de diagnóstico, como o papanicolau e a mamografia, as reduções foram de 50% e 49,81%, respectivamente”, conta Dr. David.
Outro estudo da Sociedade Brasileira de Urologia em cinco grandes instituições de São Paulo mostra uma redução média de 26% no número de novos casos de tumores de rim, próstata e bexiga em 2020, em comparação aos diagnósticos feitos em 2019. “No HC da Unicamp, por exemplo, houve queda de 52% nos casos de câncer de bexiga, 61,04% nos de próstata e 63% nos de rim”, afirma o oncologista.
O diagnóstico do câncer de esôfago é feito por meio da endoscopia digestiva, um exame que investiga o interior do tubo digestivo e permite a realização de biópsias para confirmação do diagnóstico. “Quando o tumor é detectado precocemente, as chances de cura aumentam muito. Ao analisarmos os dados do DataSUS, departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, observamos uma diminuição em sua realização em cerca de 40% no último ano. Em 2019, foram realizados pelo SUS 2.133.245 exames e em 2020 1.315.531”, confirma o especialista.
O mês de abril é de prevenção do câncer de esôfago. “Precisamos chamar a atenção da população para esses dados e alertar sobre os sintomas que são: dificuldade ou dor ao engolir, dor retroesternal (atrás do osso do meio do peito), dor torácica, refluxo, sensação de obstrução à passagem do alimento, náuseas, vômitos e perda do apetite. Sabemos do caos hospitalar, mas o câncer e outras doenças não esperam! Procure ajuda médica”, finaliza Dr. David.
*David Pinheiro Cunha é médico oncologista com residência em Oncologia Clínica pela Unicamp. Graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas) e residência em Clínica Médica pela PUC Campinas. Possui título de especialista em Oncologia Clínica pela Associação Médica Brasileira – AMB/SBOC. Realizou observership no Serviço de Oncologia em Northwestern Medicine Developmental Therapeutics Institute, Chicago, Illinois, EUA. É membro da Diretoria Científica da disciplina de Cancerologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC). É membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). David é sócio do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia e atua na Oncologia do Radium Instituto de Oncologia, do Hospital Santa Teresa e do Hospital Madre Theodora.
Sobre o Grupo SOnHe
O Grupo SOnHe - Sasse Oncologia e Hematologia é formado por oncologistas e hematologistas que fazem atendimento oncológico alinhado às recentes descobertas da ciência, com tratamento integral, humanizado e multidisciplinar no Hospital Santa Tereza, Radium Instituto de Oncologia e Madre Theodora, três importantes centros de tratamento de câncer em Campinas, e na Santa Casa de Valinhos. O Grupo oferece excelência no cuidado oncológico e na produção de conhecimento de forma ética, científica e humanitária, por meio de uma equipe inovadora e sempre comprometida com o ser humano. O SOnHe é formado por dez especialistas sendo cinco deles com doutorado e três com mestrado. Fazem parte do Grupo os oncologistas André Deeke Sasse, David Pinheiro Cunha, Vinícius Correa da Conceição, Vivian Castro Antunes de Vasconcelos, Rafael Luís, Susana Ramalho, Leonardo Roberto da Silva e Higor Montovani e os hematologistas Bruno Kosa Lino Duarte e Sonia Iantas.
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