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Cuidar do broto

Quando as notícias nos chegam, nos assustam.

De forma especial, quando envolvem educadores, crianças, escolas, mais nos chocam.

Afinal, todos temos filhos, netos, sobrinhos, irmãos, amigos que frequentam a escola.

Então, quando a vida de uma educadora é ceifada, quando crianças são agredidas por outra criança, no ambiente escolar, nos perguntamos: O que fazer? Como evitar? De quem é a culpa?

As discussões logo se levantam. Rodas de conversa televisivas, entrevistas se reprisam.

E os comentários surgem: Você viu? Ficou sabendo?

Mas, por fim, parece que tudo se resume nisso. A vida segue. Temos muito o que fazer.

Exatamente nesse ponto é que temos nos enganado. Sobre onde ou em que estamos investindo nosso tempo, nossos esforços, nossos recursos, sejam eles intelectuais ou materiais.

A letra de uma bela canção, em um de seus versos, nos diz: E há que se cuidar do broto, para que a vida nos dê flor e fruto.

Aí está a resposta: precisamos cuidar do broto.

Tudo se volta, portanto, para os cuidados com a infância, com a criança e sua educação.

Educação como arte de formar os caracteres, os homens, como tão bem propôs o ilustre pedagogo francês Rivail:

A educação é a arte de fazer eclodir, nas crianças, os germes da virtude e abafar os do vício; de desenvolver sua inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades.

Enfim, de formar o corpo e de lhes dar força e saúde. Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais.

E de quem é tal responsabilidade?

Nossos olhos se voltam para os pais em um primeiro momento.

Curioso, inclusive, como nos apressamos, em nosso instinto acusatório, apontando, nos momentos dramáticos:

Faltou pai e mãe. Culpa dos pais que não educaram.

Com certeza, como pais nos compete a responsabilidade primeira da educação.

No entanto, nossa reflexão precisa ir um pouco além, enquanto sociedade.

Será que estamos instrumentalizando os pais para executarem sua missão da melhor forma possível?

Ninguém nasce sabendo ser pai, sabendo ser o melhor educador possível. Tudo se aprende.

Estamos nos preocupando em formar-nos, como pais, para essas missões tão importantes?

Imaginemos que somos uma grande aldeia.

Há um provérbio africano que diz: É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.

Estamos sendo essa aldeia? Estamos amparando os pais? Principalmente aqueles menos esclarecidos, ou com algum tipo de limitação?

A aldeia também cuida da escola e tem nessa instituição muito mais do que um templo de saber intelectual, mas um lugar onde se aprende a conviver e a ser.

Estamos cuidando de nossas escolas? Ou deixando em segundo plano? Ou ainda transformando-as em meros negócios?

Será esse o objetivo de uma escola? Virar uma empresa, onde se trocam mensalidades por conhecimento dentro de uma caixa?

Pensemos sobre isso. Cuidemos do broto. Cuidemos de quem cuida dos brotos, do nosso e dos brotos de toda a aldeia.

Se quisermos ter flores e frutos, não há outro caminho.

Redação do Momento Espírita, com citação de trecho do livro Plano
Proposto para a Educação Pública, de Hippolyte Léon Denizard Rivail,
Livraria Dentu, Paris, 1828 e verso da canção Coração de Estudante,
de Milton Nascimento.
Em 29.5.2023.


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