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Paixões

As paixões humanas costumam provocar dores, doenças e tragédias.

A gula, a vaidade, a ganância, a sensualidade, a sede de poder, nada disso parece muito elogiável.

Contudo, as paixões são inerentes à Humanidade.

Em todas as épocas e locais, elas marcaram presença. Considerando os estragos que causam, habitualmente se afirma que constituem um mal.

Por que será, então, que Deus as criou?

Na verdade, as paixões não são um mal em seu princípio.

Todas as paixões derivam do instinto de conservação.

Sem esse instinto, os seres, notadamente os primitivos, não viveriam o suficiente para se aperfeiçoarem.

O instinto de conservação faz com que busquemos segurança e conforto.

As paixões, quando bem direcionadas, constituem alavancas que impulsionam o ser na direção da preservação de sua vida ou da espécie a que pertence.

Nessa linha, os atos relacionados com a alimentação e a procriação são propositadamente prazerosos e instigantes.

Se não fosse assim, a vida material correria o risco de perecer.

Tendo em vista que a essência espiritual se elabora e aperfeiçoa, de forma paulatina, nos embates da matéria, as paixões são necessárias, em sua gênese.

O problema reside no excesso.

Por exemplo, a saciedade é o limite que a natureza coloca em relação às necessidades materiais.

Comer é bom, mas a gula é má, pois extrapola o limite da necessidade.

O excesso de alimentação provoca enfermidades e dores.

Quando a vontade provoca acréscimos nos naturais apetites do corpo, caímos no excesso prejudicial à vida e ao bem-estar.

Por outro lado, na medida em que a inteligência se desenvolve, a predominância dos instintos diminui.

Com a razão, surge o senso moral a nos nortear a conduta.

A partir de determinado momento, o apego às paixões ligadas à matéria não mais se justifica.

Um animal necessita ser egoísta para sobreviver.

Se não colocar a própria vida em primeiro lugar, rapidamente tomba vítima do apetite alheio.

O viver humano não tem essa conotação.

Gradualmente, progredimos, caminhamos para a angelitude.

Dessa forma, é importante aplicar esforços para domar as paixões materiais.

A urgência sexual do instinto, cedo ou tarde, necessita ceder espaço para emoções mais nobres.

Há prazeres mais sublimes e constantes do que os oriundos do corpo físico.

Eles nascem do desapego, do prazer de ser útil, da prática da benevolência.

Contudo, a paixão, enquanto alavanca do progresso, persiste no ser.

Não devemos ser mornos ou apáticos.

É importante nos apaixonarmos por causas, por ideais, e lutar pela sua concretização.

Um exemplo de paixão a serviço da Humanidade foi dado por Madre Tereza de Calcutá.

Quando indagada sobre a forma pela qual encarava as outras religiões, respondeu:

Amo todas as religiões, mas sou apaixonada pela minha.

Essa paixão, convertida em atos nobres, amparou milhares de pessoas.

Por isso, ser apaixonado é bom.

É preciso cuidar apenas para que o objeto da paixão seja bom, útil.

Pensemos a respeito.

Redação do Momento Espírita.
Em 23.1.2023.


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