Brasil,

Epidemia, pandemia… e a economia, como fica?

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Assessoria de Imprensa Universidade Presbiteriana Mackenzie
  • SEGS.com.br - Categoria: Economia
  • Imprimir

Vladimir Fernandes Maciel

A insurgência do coronavírus (COVID-19) tem chamado a atenção do grande público, seja pela profusão de notícias, seja pelo tom alarmista de muitas delas. O que é sabido cientificamente, até o momento, é que a letalidade do vírus não é tão elevada quanto parecia nos primeiros casos, porém ele é altamente contagioso. Numa escala de preocupações, vale lembrar que a gripe comum mata milhares de pessoas todos os anos e que a dengue tem produzido um quadro de contágio e de letalidade muito maior em países como o Brasil.

O maior motivo de preocupação real, todavia, não tem merecido o devido destaque. As consequências econômicas das medidas tomadas para prevenir ou controlar a epidemia podem ser mais danosas à vida das pessoas do que os sintomas do vírus.

A contenção da disseminação do COVID-19 pelo governo chinês e o medo das pessoas devido ao desconhecimento inicial sobre a letalidade e a possibilidade de contaminação, paralisou a produção do “chão de fábrica” do mundo, a província de Wuhan. O alarmismo fez com que uma doença não tão letal se tornasse potencialmente muito letal, só que do ponto de vista econômico.

Os efeitos iniciais e diretos sobre as cadeias globais de valor vão em quatro sentidos. O primeiro efeito é a redução do nível de atividade industrial da China e do mundo como um todo, uma vez que milhares processos produtivos espalhados pelo globo dependem de insumos, peças, parte e componentes fabricados em Wuhan. A suspensão da produção da planta coreana da Hyundai, ou as férias coletivas forçadas nas plantas da LG, Samsung e Flextronics (fabricante dos celulares Motorola) no Brasil são exemplos imediatos. A Zona Franca de Manaus é uma das concentrações industriais do país com maior potencial de ser afetada.

O segundo efeito é sobre a atividade comercial. Importadores e comerciantes de produtos chineses sofrerão falhas de abastecimento e terão redução de venda por falta de mercadorias. Polos de varejo, como a 25 de março, em São Paulo, e o Saara, no Rio de Janeiro, são locais com grandes chances de perderem faturamento em relação ao ano passado.

Já o terceiro efeito é sobre as viagens de negócios e de turismo, o que afeta a cadeia que envolve a rede hoteleira, agências de viagens e companhias aéreas. Destinos como Ásia e Europa (especialmente a Itália -- responsável pelos casos se manifestaram no Brasil) tendem a ter redução expressiva do fluxo de turismo e, portanto, queda nos negócios.

O quarto efeito afeta o volume (quantum) de exportações do país, principalmente as commodities e os bens intermediários brasileiros que são utilizados nos processos produtivos de outras nações. A redução do ritmo da produção industrial reduz a procura por itens importantes de nossa pauta de exportações, que já vinha sendo afetada pela guerra comercial da China com os EUA, a crise econômica na Argentina e a desaceleração da economia europeia.

Por isso tudo, o Brasil, que já contava expectativa de crescimento medíocre em 2019, tenderá a repetir o desempenho pífio de 2020. Não seria tão ruim se, desde de 2014, o país não estivesse enfrentando uma lenta recuperação da recessão de 2015 e 2016. Somente uma mudança profunda nas expectativas dos investidores (nacionais e estrangeiros) sobre as potencialidades de negócios em nosso território e uma renovação de otimismo sobre a capacidade do governo de entregar reformas econômicas e conduzir privatizações relevantes seria capaz de compensar os efeitos danosos do coronavírus à economia.

Porém, as coisas ainda podem ficar piores globalmente. Desde a Grande Recessão de 2008, as políticas monetárias das principais economias mundiais, em particular os EUA e a Zona do Euro, foram acentuadamente expansionistas com o objetivo de estimular o crescimento e a recuperação das economias -- tais como o “quantitative easing” (flexibilização quantitativa) do Federal Reserve estadunidense.

As taxas de juros artificialmente baixas fizeram com que uma série de ativos relacionados a projetos de investimento outrora pouco rentáveis se tornassem atrativos. Alimentados pela injeção de liquidez, os mercados de capitais internacionais fugiram de taxas de juros negativas de vários títulos soberanos e passaram a buscar qualquer possibilidade de rentabilidade em projetos de retorno duvidoso. Em decorrência, os preços dos ativos nos mercados internacionais dispararam, o que pode se chamar de “inflação de ativos” e uma bolha parece ter sido gestada.

Pode ser que os desdobramentos econômicos do coronavírus e a queda de demanda agregada sejam tais que representem o “pontapé” inicial para uma ampla correção dos preços de ativos (o que levará a uma desvalorização das bolsas de valores e das taxas de câmbio) e a fuga de capitais para ativos reais, como o ouro -- que desde de 2018 vem sendo cada vez mais negociado internacionalmente e com cotação crescente -- o que indica uma apreensão já existente nos mercados. Neste caso, revelar-se-ia um excesso de oferta e de capacidade produtiva em diversos setores econômicos mundiais, encaminhando o mundo para mais uma crise global depois de pouco mais de 10 anos após o crash de 2008.

Portanto, se as repercussões mais negativas acontecerem, mais do que a apreensão com o COVID-19 pela esfera da saúde pública, devemos nos preocupar também com as consequências econômicas da doença e a quantidade de vidas que podem ser afetadas em termos de emprego, renda e oportunidades.

Vladimir Fernandes Maciel é mestre em economia e doutor em administração pública e governo. É Coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica e professor do Programa de Pós-Graduação em Economia e Mercados da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
 
https://www.facebook.com/groups/portalnacional/

<::::::::::::::::::::>
IMPORTANTE.: Voce pode replicar este artigo. desde que respeite a Autoria integralmente e a Fonte...  www.segs.com.br
<::::::::::::::::::::>
No Segs, sempre todos tem seu direito de resposta, basta nos contatar e sera atendido. -  Importante sobre Autoria ou Fonte..: - O Segs atua como intermediario na divulgacao de resumos de noticias (Clipping), atraves de materias, artigos, entrevistas e opinioes. - O conteudo aqui divulgado de forma gratuita, decorrem de informacoes advindas das fontes mencionadas, jamais cabera a responsabilidade pelo seu conteudo ao Segs, tudo que e divulgado e de exclusiva responsabilidade do autor e ou da fonte redatora. - "Acredito que a palavra existe para ser usada em favor do bem. E a inteligencia para nos permitir interpretar os fatos, sem paixao". (Autoria de Lucio Araujo da Cunha) - O Segs, jamais assumira responsabilidade pelo teor, exatidao ou veracidade do conteudo do material divulgado. pois trata-se de uma opiniao exclusiva do autor ou fonte mencionada. - Em caso de controversia, as partes elegem o Foro da Comarca de Santos-SP-Brasil, local oficial da empresa proprietaria do Segs e desde ja renunciam expressamente qualquer outro Foro, por mais privilegiado que seja. O Segs trata-se de uma Ferramenta automatizada e controlada por IP. - "Leia e use esta ferramenta, somente se concordar com todos os TERMOS E CONDICOES DE USO".
<::::::::::::::::::::>

voltar ao topo

Adicionar comentário

Aja com responsabilidade aos SEUS COMENTÁRIOS, em Caso de Reclamação, nos reservamos o Direito, a qualquer momento de Mudar, Modificar, Adicionar, ou mesmo Suprimir os comentarios de qualquer um, a qualquer hora, sem aviso ou comunicado previo, leia todos os termos... CLIQUE AQUI E CONHEÇA TODOS OS TERMOS E CONDIÇÕES DE USO. - O Nosso muito obrigado - Ferramenta Automatizada...IMPORTANTE: COMENTÁRIOS com LINK são bloqueados automaticamente (COMMENTS with LINKS are automatically blocked.)...Sucesso!

Security code Atualizar

Enviar