Ciência apresenta ao mercado variedade versátil de batata com aptidão para fritura e cozimento
BRS F183 (Potira) possui baixo teor de açúcares e alta concentração de massa seca, sem falar no potencial produtivo, superior a 50 toneladas por hectare
Uma nova cultivar desenvolvida pelo Programa de Melhoramento Genético de Batata da Embrapa possui características que conferem versatilidade culinária aos tubérculos. O baixo teor de açúcares e a concentração de 21% de matéria seca garantem qualidade à BRS F183 (Potira) para ser cozida ou frita. No campo, o destaque é o potencial produtivo, que pode superar 50 toneladas por hectare. O lançamento será on-line, no dia 18 de novembro, às 18h, no canal da Embrapa no YouTube.
Os principais fatores que garantem qualidade às batatas para processamento são o teor de açúcares e de matéria seca, já que níveis baixos de açúcares evitam o escurecimento após a fritura e teor de matéria seca superior a 20% indica alto rendimento industrial e qualidade para fritura, principalmente com relação à textura. Isso é importante porque a aceitação da batata para fabricação de palitos pré-fritos depende muito da cor e da textura do produto final.
“Para a indústria de palitos os requisitos são o formato alongado e tamanho grande; o teor de matéria seca alto, para rendimento industrial, no sentido de absorver menos gordura, ficando crocante, porque absorve menos água; e o teor de açúcar baixo, que não escurece na fritura”, reforça o pesquisador da Embrapa Clima Temperado (RS) e líder do Programa de Melhoramento Genético de Batata da Embrapa, Arione Pereira.
A aparência é um dos atrativos que garantem o duplo propósito da BRS F183 (Potira), principalmente a película lisa e as gemas rasas, que facilitam o descascamento. Os tubérculos têm cor vermelha mais intensa por fora (casca) e amarela-clara por dentro (polpa) e demoram mais a esverdear após a colheita. O formato é oval e levemente achatado. No campo, essas batatas são pouco suscetíveis a deformidades. “Para o mercado in natura, a característica mais importante é a aparência do tubérculo. O que a Potira tem”, afirma Arione.
A versatilidade culinária do material também ajuda a aumentar o apelo junto aos consumidores. “Sendo boa para processamento, ela é boa para fritura. Então também tem características boas para o cozimento, o que confere um multiuso culinário”, detalha o pesquisador. O destaque é a obtenção de batatas fritas com textura seca e crocante e, no cozimento, textura firme (coesa e não farinhenta), com sabor bastante característico. “Numa salada, ela mantém o cubinho cortado, não desmancha”, completa.
Potencial produtivo supera 50 toneladas por hectare
A BRS F183 (Potira) é indicada para cultivo nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País. É mais adaptada à safra de inverno (plantios de maio a julho) dos estados de Minas Gerais e São Paulo e às safras de outono (plantios de fevereiro a março) e primavera (plantios de agosto a setembro) do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Também é adaptada à safra de verão nas regiões de maior altitude do Sul do país.
Se bem manejada, a cultivar apresenta potencial produtivo alto, que supera as 50 toneladas por hectare, com estabilidade de produção. As plantas possuem porte médio a grande, ciclo vegetativo longo (levam, em média, 110 dias para produzir), período de dormência médio (tempo médio para desenvolvimento dos brotos) e rusticidade média (indica necessidade média de cuidados com a planta para seu bom desenvolvimento).
Com relação a doenças, a cultivar é moderadamente resistente à alternária, moderadamente suscetível à requeima e suscetível à sarna comum. Devido a essa suscetibilidade à sarna comum, algumas medidas de controle são recomendadas para garantir o desenvolvimento sadio das plantas, como evitar o plantio em solos com risco da doença e com pH acima de 5,5; fazer controle da sanidade das sementes; e manejar a água de irrigação para evitar períodos secos no início da formação dos tubérculos.
Desenvolvimento alinhado às demandas da cadeia produtiva
A BRS F183 (Potira) é resultado do Programa de Melhoramento Genético de Batata da Embrapa, envolvendo trabalhos de pesquisa e avaliação na Embrapa Clima Temperado e na sua Estação Experimental de Canoinhas (EECan); e na Embrapa Hortaliças (DF). “O desenvolvimento da Potira está alinhado às demandas prioritárias da cadeia brasileira da batata, que incluem variedades para processamento industrial de palitos pré-fritos congelados e variedades para o mercado in natura de multiuso culinário, com a vantagem de ser a Potira uma variedade de duplo propósito”, pontua Arione.
Dentre os aspectos considerados durante o processo de seleção do material estão aparência dos tubérculos, potencial produtivo, teor de matéria seca e qualidade de fritura. O processo de desenvolvimento da cultivar também levou em consideração testes e validações realizados em várias regiões produtoras do país, bem como na indústria de palitos pré-fritos congelados.
“Variedades com características para fabricação de palitos pré-fritos congelados são muito importantes para o crescimento da indústria brasileira e redução da dependência de importações, com geração de oportunidades de emprego e renda no País. E variedades para o mercado in natura com características de multiuso são muito importantes para a satisfação dos consumidores”, avalia o pesquisador.
Testes comprovam ampla adaptação
O potencial da nova cultivar de batata BRS F183 (Potira) para plantio em condições tropicais foi comprovado logo nos primeiros testes realizados na região Centro-Oeste do país, em meados de 2010, quando os pesquisadores observaram nos campos experimentais da Embrapa Hortaliças que se tratava de um material produtivo, uniforme e com qualidade.
“É importante considerar que o desenvolvimento de novas cultivares de batata para as condições ambientais brasileiras passa, invariavelmente, pela exposição desses materiais às condições mais adversas e de clima tropical. Para que eles avancem no processo de seleção, é determinante que obtenham um bom desempenho na região do Cerrado, que apresenta solos mais ácidos, inverno seco e temperaturas mais elevadas”, explica o pesquisador Agnaldo Carvalho, da Embrapa Hortaliças, ao ressaltar que a batata BRS F183 (Potira) foi aprovada com sucesso nessa triagem na região Centro-Oeste.
Após os testes iniciais nos campos da Embrapa em Brasília, que confirmaram características importantes para a indústria de palitos pré-fritos congelados, como formato mais alongado, foi a vez de expandir a validação junto aos produtores rurais e à indústria processadora, em Perdizes/MG, que é um polo de destaque para a batata-indústria no país.
“Ao final do processo, a cultivar BRS F183 (Potira) foi validada e aprovada por todas as frentes – pesquisa, produtores rurais e indústria de processamento”, celebra Carvalho, que enfatiza a importância de disponibilizar para o setor produtivo e para o mercado consumidor um material nacional para uso como batata pré-frita congelada que entrega mais qualidade do que os produtos importados.
O ótimo desempenho da cultivar também se repetiu nas etapas de avaliação conduzidas em Canoinhas/SC, localidade com condições ambientais bem diferentes, o que indica a ampla adaptação da nova cultivar a diferentes regiões de cultivo de batata. De acordo com o pesquisador Giovani Olegário, também da Embrapa Hortaliças, os principais aspectos observados durante o processo de seleção da cultivar foram, entre outros, formato alongado, alta produtividade, baixa suscetibilidade a doenças e boa qualidade de fritura (elevado teor de matéria seca e coloração clara do produto processado).
“Além do rendimento e da resistência, a batata BRS F183 (Potira) apresenta características de qualidade muito relevantes para o processamento industrial como, por exemplo, a baixa incidência de desordens fisiológicas”, sublinha. Por sinal, esse é um dos fatores de maior diferenciação da nova cultivar de batata em comparação com sua principal concorrente no mercado brasileiro.
De forma geral, entre os distúrbios fisiológicos mais comuns que se pode encontrar em tubérculos estão as rachaduras, a mancha ferruginosa (escurecimento da polpa) e o “embonecamento” (formato mais disforme), que aumentam o descarte na etapa de processamento e diminuem o rendimento industrial. Contudo, no caso da cultivar BRS F183 (Potira) ela apresenta excelente padrão de qualidade nesse quesito.
Avaliação da cadeia produtiva
A BRS F183 (Potira) também foi avaliada por diversos elos da cadeia produtiva, como a Bem Brasil Alimentos, indústria de batata pré-frita congelada. Para Israel Nardin, gerente de produção da Fazenda Água Santa, a avaliação foi positiva, principalmente pelo formato grande dos tubérculos, adequados à indústria, e a alta produtividade. “A cultivar sempre se destacou nos ensaios pelo alto potencial produtivo e uniformidade de tubérculos”, afirma.
O produtor do município de Ibiraiaras/RS, Sérgio Zanette, avaliou o material por quatro safras para comparação com outras variedades comerciais. “Tem tubérculos de boa qualidade, boa aparência e formato, cor da pele bastante boa e, na arquitetura da planta, tem se mantido bem em pé, uma planta com haste forte e com muitas raízes. Por duas safras tivemos seca e ela também se comportou muito bem. Acho que tem muito potencial, principalmente para o mercado, pela aparência e formato do tubérculo”, disse.
As impressões do produtor de São Lourenço do Sul/RS, Edgar Schneider, que também avaliou a cultivar por quatro safras, são similares. “Batata de pele bonita, formato espetacular, boa para qualquer tipo de ‘aprontamento’”, completou.
Acesso e comercialização da nova cultivar
Interessados em se tornar licenciados para produção e comercialização de sementes da BRS F163 (Potira) devem acessar a página de Licenciamento de Tecnologias no Portal Embrapa. O licenciamento é concedido a produtores inscritos no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) como produtor de batata semente. Mais informações na Estação Experimental Canoinhas pelos telefones (47) 3624-0127, (47) 3624-0195 ou (47) 3624-2077; ou pelo e-mail .
No caso de produtores interessados em adquirir sementes ou mudas, a indicação é entrar em contato com os produtores já licenciados para multiplicação e comercialização (Tsutomu Massuda, em Castro/PR, , (42) 3233-4384). A recomendação é sempre fazer a aquisição de materiais de procedência, certificados e com boa sanidade, para garantir a expressão do potencial máximo da cultivar no campo.
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