Seria o boi um vilão ambiental? Fato ou mito?
Por Xico Graziano, engenheiro agrônomo, doutor em Administração, professor de MBA na FGV e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)
A pecuária nacional vive bons momentos. As exportações de carne deslancharam e o consumo segue firme no mercado interno. A rentabilidade setorial cresceu. Ataques ecologistas, porém, andam machucando o rebanho bovino.
Seria o boi um vilão ambiental? Fato ou mito?
Críticos da carne bovina desconsideram uma questão fundamental: a importância da ruminação no processo evolutivo. Animais ruminantes conseguem a proeza de transformar a energia solar, capturada pela fotossíntese das plantas, em proteína de alta qualidade.
Pela fotossíntese, os vegetais sintetizam carbohidratos, que é a fonte de energia primária dos animais herbívoros, especialmente dos ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos, entre os domesticados). O rúmen funciona como câmaras de fermentação habitadas por bilhões de bactérias, fungos e protozoários, responsáveis por degradar os carbohidratos.
Essa é a enorme vantagem competitiva dos animais ruminantes, aprimorada por milhões de anos. A seleção natural os tornou muito eficientes em produzir carne, proteína de elevada qualidade, a partir de simples gramíneas.
Acontece que este incrível processo vital libera moléculas de Carbono (C) e Hidrogênio (H2) no rúmen animal, permitindo a formação de gás metano (CH4). Através, principalmente, da eructação (arroto), o animal expele o metano para a atmosfera.
Aqui, recentemente, colocaram um problema. Sendo um gás de efeito estufa (GEE), com poder de aquecimento da atmosfera entre 21 a 23 vezes o do gás carbônico (CO2), o metano passou a ser considerado, dentro da teoria do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC/ONU), danoso ao meio ambiente.
Desde então, os pesquisadores do agro se debruçam na análise dessa equação. Sabe-se que a quantidade de metano gerada na ruminação depende da dieta do animal e da composição de sua fauna bacteriana. Regra geral, gramíneas mais velhas e fibrosas, densas em carbohidratos estruturais, irão gerar maior liberação de metano.
Significa que pastos bem manejados, com massa vegetal mais nova, reduzem a emissão de gases. Também dietas animais compostas por alimentos concentrados, derivados de cereais ou silagens, alteram as condições físico-químicas do rúmen e modificam a população microbiana. Nessas condições, há queda na produção de metano.
Conclusão: o aumento de produtividade do rebanho, obtido por vários caminhos tecnológicos, influencia decididamente na redução das emissões. Estima-se que os sistemas de criação modernos, com pastagens melhoradas e suplementação de rações tragam redução de 30% da emissão de metano por quilo de carne produzida.
Há, ainda, que se considerar os ganhos genéticos de precocidade dos animais. Bovinos de criatórios tecnológicos, que aliam bom manejo de alimentação com genética animal, são abatidos entre 16 e 24 meses, metade do tempo verificado na pecuária extensiva tradicional.
Fato: a tecnologia pecuária eleva a produtividade da produção de carne com redução da emissão de metano.
Aqui está o X da questão: o crescimento do rebanho nacional, especialmente nos últimos 20 anos, assenta-se em pronunciada transformação produtiva. O padrão tecnológico está se expandindo, fazendo crescer a boiada enquanto as pastagens se reduzem. Fazendas de gado líderes produzem 510 kg de carcaça (carne com osso) por hectare/ano, enquanto que a média nacional ainda está em 67 kg/ha/ano.
Tudo se modifica rapidamente na pecuária nacional. Exceto a contabilidade de emissões de metano. O padrão do IPCC continua fixado na emissão de 56 quilos de metano/animal/ano, valor determinado no começo do século. É trágico. Desconsidera-se a evolução tecnológica da pecuária.
Ademais, pesquisadores da Embrapa já comprovaram que, ao se considerar o sequestro de Carbono nas propriedades tecnologicamente bem conduzidas, as emissões caem e, em certos casos, zeram ou são até negativas. Daí surgiu o recente conceito da “Carne Carbono Neutro”.
Os animais ruminantes evoluíram transformando carboidratos em carne e arrotando metano. Foram essenciais ao avanço da civilização. Agora, querem proibir o gado de pastar. Antiecológico é confinar o boi.
Sobre o CCAS
O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.
Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.
A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS no Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel.
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