Embrapa Cerrados celebra 45 anos com lançamento da tecnologia de bioanálise de solo
Os 45 anos de criação da Embrapa Cerrados, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) localizada em Planaltina (DF), completados no último dia 1º de julho, foram celebrados este ano de uma forma impensada tempos atrás. Desta vez, o auditório lotado deu lugar a uma transmissão virtual, mas não menos calorosa. As mudanças não tiraram o brilho das comemorações que tiveram que se adaptar à atual situação de pandemia. E o ponto alto do evento, realizado na tarde do dia 23 de julho, foi o lançamento da tecnologia de Bioanálise de Solo (BioAS).
“Com esse formato virtual, perde-se o olho no olho e a proximidade que estamos acostumados. Mas, por outro lado, permite a participação de mais pessoas tanto da Embrapa, quanto de fora. Assim, temos aqui uma maior representatividade da sociedade o que considero extremamente positivo, já que é para ela que devemos prestar contas”, afirmou o chefe-geral da Embrapa Cerrados, Claudio Karia. Centenas de pessoas de diversas regiões do país, e até do exterior, acompanharam o evento tanto ao vivo, quanto posteriormente (acesse aqui a gravação).
O presidente da Embrapa Celso Moretti participou da solenidade e destacou que a história da Unidade se confunde com a própria conquista dos cerrados brasileiros. “Ao longo dessa trajetória, a Embrapa Cerrados fez uma série de entregas importantes, tanto tangíveis, quanto intangíveis. O desenvolvimento de uma plataforma de produção sustentável, junto com a tropicalização de cultivos e com a transformação dos solos ácidos em terras férteis, está no cerne, na base, dessa fantástica transformação que tivemos no Brasil nessas últimas cinco décadas”, afirmou.
“Costumo dizer que segurança alimentar, produção de alimentos, fibra, bioenergia, tem a ver com paz social. Imagine se nesse momento que estamos vivendo da Covid 19 nós não tivéssemos o apoio dos produtores rurais”, indagou Moretti. Ele ressaltou a importância do Cerrado para a segurança alimentar não só do Brasil, mas de toda a população mundial. “Com o que nós produzimos hoje, alimentamos 1,4 bilhão de pessoas no globo, são sete brasis. Principalmente nesse momento difícil que nós vivemos de pandemia, ter segurança alimentar, capacidade de produzir, transportar os alimentos e fazer com que esses alimentos cheguem até as cidades é algo notável”, enfatizou.
“É motivo de muito orgulho termos colaborado na transformação de uma área que era considera inapta para a agricultura em uma das mais importantes produtoras de alimentos para o mundo. Tudo com base em ciência, feita no Brasil, para o Brasil e para grande parte do mundo tropical”, afirmou o chefe-geral, Claudio Karia, empregado da Embrapa há 33 anos. Ele destacou algumas tecnologias desenvolvidas ao longo desse período que permitiram a inserção do Cerrado na matriz de produção, como a correção e manutenção da fertilidade dos solos e a tropicalização das culturas da soja e do trigo.
Outra importante contribuição da Unidade destacada pelo chefe-geral foram as pesquisas relacionadas a insumos biológicos ou bioinsumos. Elas resultaram, ainda nos anos 80, no lançamento de quatro estirpes de bactérias fixadoras de nitrogênio (rizóbios) e, atualmente, ainda são recomendadas para a inoculação da cultura da soja. Até hoje, segundo ele, esse é o bioinsumo mais utilizado pela agricultura brasileira. Os estudos sobre fixação biológica de nitrogênio começaram junto com a Embrapa Cerrados, em 1975. Essas pesquisas são contínuas e dentre os benefícios da tecnologia estão o aumento de produtividade e a economia no uso de fertilizantes nitrogenados.
Karia citou ainda outras tecnologias de destaque, como sistemas de produção integrados (ILP e ILPF), metodologia de zoneamento de risco climático, estudos e metodologias para a recuperação de áreas degradadas e domesticação de diversas espécies nativas para aproveitamento alimentar e madeireiro. “Diante de tantas conquistas, parece que não temos mais desafios, o que não é verdade”, pontuou. Segundo ele, os objetivos agora são diferentes e não menos desafiadores. “Temos o propósito de produzir alimentos até 2050, segundo estimativas da FAO, para quase 10 bilhões de pessoas. E eu tenho certeza que, nesse sentido, se espera muito do Brasil”, afirmou.
E, como o foco de produção atual é produzir com sustentabilidade, a solução passa, segundo ele, necessariamente, pela pesquisa, desenvolvimento e inovação. “Sem isso não vamos superar os problemas que estão por vir. Precisamos trabalhar com mecanismos de rastreabilidade e certificação dos nossos produtos para que a gente não perca mercado. E temos também que, obviamente, diminuir os riscos de perda na produção e na distribuição”, disse. Nesse contexto, Karia citou a tecnologia da bioanálise, lançada durante o evento. “Ela vai servir de motivação para que os produtores utilizem boas práticas agrícolas”, acredita.
Parceiros – o evento apresentou, ainda, o depoimento de representantes de instituições parceiras da Embrapa Cerrados, como Zirlene Pinheiro, presidente da Fundação Bahia. “Temos uma honra muito grande em ter a Embrapa como parceira intelectual. Parceria essa que trouxe, através da pesquisa, o desenvolvimento e inovação para a agricultura do oeste baiano”, afirmou. “A partir da criação da Embrapa Cerrados, o Brasil começou a deixar de ser importador de alimentos para, 20 anos depois, estar lado a lado dos maiores players mundiais na exportação de grãos. Tudo isso se deve à ciência e à tecnologia. Não fosse os pacotes tecnológicos e a parceria da Embrapa Cerrados nada teria tanto sucesso como teve”, afirmou o presidente da Campo, Emiliano Botelho.
O pesquisador Roberto Guimarães Junior falou em nome dos empregados da Unidade. Na empresa há 13 anos, ele contou que considera fator fundamental para o seu desenvolvimento profissional ter tido a oportunidade de conviver com pessoas de destaque, essenciais para o desenvolvimento da agricultura no Cerrado. “Acredito fortemente que uma empresa que consegue transmitir a sua cultura, valores e princípios ao longo das gerações é uma instituição que vai frutificar e perdurar. Eu sou muito grato por ser empregado da Embrapa e, por meio do meu trabalho, poder contribuir com algo útil para a sociedade brasileira”, afirmou. Atualmente, a Unidade possui cerca de 500 colaboradores, entre pesquisadores, analistas, técnicos, assistentes, estagiários, bolsistas e terceirizados. “A dedicação e o empenho dos nossos empregados e colaboradores é que garantiam o protagonismo no desenvolvimento de tecnologias para a região nas últimas quatro décadas”, arrematou Karia.
BioAS- a cereja do bolo das comemorações dos 45 anos da Embrapa Cerrados foi o lançamento da tecnologia de Bioanálise de Solos. Ela foi apresentada pela pesquisadora Ieda Mendes. “Depois de vinte anos de estudos, e com uma alegria enorme, estamos entregando para a sociedade essa tecnologia. O sonho virou realidade. Se nossa agricultura tropical já era de destaque, a partir do momento em que o agricultor tiver acesso aos avaliadores de saúde do solo (os bioindicadores) ela vai ficar fantástica”, acredita. Ao final da apresentação, a especialista respondeu perguntas enviadas pelos internautas por meio do chat interativo.
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