Brasil,

Qual a vantagem da segunda safra para o produtor?

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Camila Lopes
  • SEGS.com.br - Categoria: Agro
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Por Décio Karam, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Ph.D, pesquisador de Manejo de Plantas Daninhas da Embrapa Milho e Sorgo

A agricultura, como era realizada anos atrás, podia ser considerada extrativista, quando o produtor pensava na produção extensiva com monocultivos e expectativa de retorno financeiro imediato. Contudo, este sistema levou muitas vezes ao esgotamento dos recursos naturais (em especial o solo), ocasionando ao produtor o uso casa vez maior de recursos financeiros para manter a produtividade agrícola em patamares econômicos rentáveis. Ao longo dos anos, os custos de produção tornaram-se crescentes e a produtividade sempre dependente do clima. Assim, durante muitas décadas, o ganho (que não significava lucro) era derivado do aumento de volume produzido pelo incremento da área cultivada e não da produtividade esperada.

A introdução da segunda safra ocorreu no fim da década de 70, quando agricultores do norte do Paraná deram início ao plantio do milho após a colheita da soja, por causa da descapitalização ocorrida naquela região após a frustação da safra do café devido a perdas por geada. Contudo, a Conab iniciou o acompanhamento de safra no final da década de 80 quando o volume de produção da safrinha começou a ser identificado no Brasil. Embora considerada atividade de alto risco agronômico, por isso chamada de safrinha, outros produtores introduziram este sistema devido a ociosidade da propriedade rural por longo período do ano. Pela falta de informações técnicas sobre a viabilidade deste cultivo após a colheita da soja, as primeiras áreas foram conduzidas com baixo investimento, resultando em baixa produtividade do milho, mesmo quando não ocorriam fatores climáticos adversos. A grande maioria dos produtores, profissionais ligados a agricultura e até mesmos cientistas consideravam a safrinha um desafio muito grande, com mais dúvidas do que respostas.

A partir do momento em que o produtor entende que esta segunda safra poderia resultar em retorno econômico, inicia-se uma pressão para o desenvolvimento e a adaptação de técnicas para melhoria de produtividade do milho safrinha. O conceito de sistema de produção intensificado começa a ser difundido e, a partir de então, muitas regiões onde não era semeada nenhuma cultura com retorno econômico foi possível demonstrar a rentabilidade duplicada na mesma área.

A partir da safra 2011/12 o milho safrinha passa a representar mais de 50% da área plantada e da produção de milho no Brasil, estando atualmente estes em mais de 72% de toda a área plantada e da produção do milho em nosso país.

Se a cultura do milho após a soja era considerada de alto risco, porque o agricultor adotou de vez a safrinha em sua propriedade? Porque foi possível aderir as duas principais culturas econômicas de maior retorno econômico no país na mesma área em sucessão. Com isso, foi possível demonstrar que a propriedade rural pode ser trabalhada em mais de 80% do ano, com possibilidades de investimento para o sistema e maior retorno econômico em médio prazo, diluindo os custos fixos, redução da ociosidade dos equipamentos e, principalmente, otimizando o uso dos recursos humanos na propriedade rural.

Novas técnicas estão sendo desenvolvidas com novas modalidades de semeadura, melhoria no aproveitamento de fertilizantes, uso e manuseio correto de defensivos agrícolas por meio de tecnologia de aplicação para as condições de temperaturas altas, noites frias e umidade relativa do ar baixa, além da adequação de agentes para controle biológico nestas mesmas condições. Todas estas tecnologias permitiram que o sistema soja/milho fosse economicamente viável, ambientalmente factível e socialmente integrador. Assim, não é incoerente dizer que o cultivo do milho safrinha não trouxe sustentabilidade para a agricultura brasileira.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.

Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas.

A agricultura, apesar da sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça.


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