Cia Flamenca Ale Kalaf estreia temporada gratuita em Santos com workshop presencial aberto ao público
Foto: Ale Kalaf em “A Borboleta e o Cubo de Vidro", de Ale Kalaf. Crédito: Ana Nicolau Saldanha
Serão duas apresentações de dois icônicos e consagrados espetáculos de dança flamenca contemporânea, criados e dirigidos pela bailarina e coreógrafa Ale Kalaf, que acontecem num único fim de semana: A Borboleta e o Cubo de Vidro (sábado, 6 de maio, às 20h) e Concreto (domingo, 7 de maio, às 16h). E mais: para abrir a temporada na cidade, que integra a jornada de circulação da companhia de dança em cidades do interior e litoral do Estado de São Paulo, um dia antes das apresentações, haverá o encontro Vivência Flamenca com Ale Kalaf: Corpo, Pertencimento e Limites (sexta, 5 de maio, às 16h), voltado a todos os interessados em ampliar seus conhecimentos e o contato com esta arte. A programação é totalmente gratuita e aberta ao público.
A Borboleta e o Cubo de Vidro, de Ale Kalaf
Sobre o “A Borboleta e o Cubo de Vidro”, o gatilho para criação desse espetáculo solo de dança flamenca contemporânea, com criação, direção e interpretação da bailarina Ale Kalaf, se deu a partir do contato da artista com uma pesquisa da antropóloga Mirian Goldenberg, na qual ela pergunta a 5 mil homens e mulheres o que eles mais invejavam no gênero oposto. E as respostas, serviram como uma faísca em terreno seco. Para encarnar esse problema, deixar emergir a dramaturgia no corpo e trazer à superfície novas tessituras cênicas, se fez inevitável que a intérprete criadora entrasse em contato com a sua própria biografia, e a partir dos elementos que surgiram deste processo se apropriou de suas escolhas como ferramentas de criação. Escolheu ser livre até mesmo da própria linguagem, trazendo para a cena partituras de improviso e coreografias que distorcem, desassociam, violam a fidelidade à tradição da dança flamenca buscando lealdade apenas à sua expressão.
O espetáculo, como um processo de pesquisa, parte então como um contraponto para as inúmeras tentativas de reduzir uma jovem a nada. É a comemoração de uma sobrevivência e não de uma derrota. Dançar uma história, não por achá-la excepcional, mas sim, porque ela é absolutamente comum e onipresente. Usar o palco como uma plataforma para mergulhar dentro, afrouxando a corda tensa da vigilância que não permite acessar a realidade das memórias.
Sobre o projeto, com Ale Kalaf
FICHA TÉCNICA Concepção, criação, direção e interpretação: Ale Kalaf; Dramaturgia: Nathalia Catharina; Preparação corporal e fisicalidade: Patricia Bergantin e Adriana Nunes; Provocação artística, treino do ator, fala e dança-teatro: Daniella Nefussi; Light design: Miló Martins; Técnica de luz: Fernanda Guedella; Técnica de som: Cecília Luss; Cenografia: Karina Diglio; Figurinos: Cida Andrade; Trilha sonora original: Letícia Malvares; Gravação, captação e edição trilha sonora: Estúdio Loop; Audiovisual: Paula Mercedes; Fotografia: Ana Nicolau Saldanha; Psicóloga, Psicanalista e mestre em Saúde Pública: Lígia Polistchuck; Comunicação: Maria Luiza Paiva; Produção: Cau Fonseca e AnaCris Medina
Concreto
Concreto é inspirado no livro “Tentativa de esgotamento de um local parisiense” de George Perec, obra que revela a experiência contemporânea de um voyeur urbano, contemplador e narrador da cidade. No ano de 1974, Perec permaneceu três dias seguidos na praça de Saint-Sulpice, em Paris, anotando tudo o que via. Com essa proposta, o autor transformou os acontecimentos cotidianos da rua em um texto composto por fotografias escritas, um catálogo de ações, gestos e imagens, uma lista de fatos insignificantes da vida cotidiana. A coreógrafa Ale Kalaf repetiu a experiência de Perec na cidade de São Paulo, 44 anos depois, observando essa realidade que nos escapa. A partir dessa vivência, encontrou vieses possíveis para esboçar os contornos dessa relação entre os indivíduos e suas cidades e o lugar que essa cidade ocupa no interior de cada um. O caminho coreográfico escolhido, assim como na narrativa de Perec, não tem regras, cadência ou hierarquia, a proposta é trazer uma estética urbana para o estado corporal do flamenco, ressignificando assim seus gestos e suas intenções.
Neste link a artista fala mais sobre a criação do trabalho:
SERVIÇO
Vivência Flamenca com Ale Kalaf: Corpo, Pertencimento e Limites
Sexta, 5 de maio, às 16h - Instituto Procomum - Rua Sete de Setembro, Vila Nova, Santos, SP
link para inscrições: https://taplink.cc/alekalaf?fbclid=PAAabzaiJhdHT697IOS9bFRAfj1AzJLcyFxx7tvys9qga3jqE6zldOIadlYx8
A Borboleta e o Cubo de Vidro”, de Ale Kalaf
Sabado, dia 6 de maio, às 20h
Concreto
Domingo, dia 7 de maio, às 16h
Teatro Arena Rosinha Mastrangelo
Av. Sen. Pinheiro Machado, 48, Santos, SP
Entrada gratuita
SOBRE ALE KALAF
ALE KALAF Bailarina com formação em Flamenco, Ballet clássico e Dança Contemporânea no Brasil e na Espanha. Há 15 anos dirige o Estúdio Flamenco Ale Kalaf, criando espetáculos icônicos com seus alunos, como Frida Khalo y sus mundos, Terciopelo, Rosa de Jericó entre outros. O diálogo com outros artistas e outras musicalidades permeiam seu trabalho como criadora e coreógrafa. Ao longo de mais de 20 anos de carreira, concebeu, dirigiu e dançou trabalhos profissionais em parceria com outros artistas como Luceros dança Toninho Ferraguti, Con alma, Puro en la mescla, Afeto cap.1 Lorca. Kalaf também assina a direção cênica do espetáculo Frágil dos artistas Miri Galeano e Jony Gonçalves, produz e dança o espetáculo As filhas de Bernarda com direção e concepção de Clarisse Abujamra, e Concreto considerado pela revista Bravo um dos 30 melhores espetáculos de dança de 2018. Contemplada pelos editais: O Boticário na Dança, ProAC, ProAC Expresso LAB2020, Sesi Viagem Teatral, Edital Extra Sesi de cultura e três edições do Programa de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo.
MAIS SOBRE CONCRETO (PESQUISA)
A Arte Flamenca tradicional é composta pela interação entre três formas de expressão: o cante, a guitarra e a dança. Uma das diferenças entre a dança flamenca tradicional e as outras linguagens da dança está em sua composição que sempre levará em conta estes elementos. Quando pensamos neste flamenco segundo a tradição, temos como um dos principais objetivos executar movimentos tecnicamente reconhecíveis, apresentados na forma de códigos e estruturas específicas para que haja uma compreensão e uma troca de informações entre os bailarinos e os músicos, possibilitando que a improvisação aconteça.
As letras das músicas, a percussão (escobillas), a parte instrumental (falsetas), os refrãos (estribillos) e as introduções (salidas) são exemplos dessa estrutura do bailar o flamenco. Já os códigos, utilizados para estabelecer a comunicação entre todos os elementos e unir uma estrutura à outra, segundo os conceitos tradicionais da arte flamenca, são as chamadas (llamadas, usadas para introduzir o cante), os arremates (finalizações que não param o compasso), os cortes (cierres, finalizações que param o compasso), as subidas ou caídas (que alteram a velocidade da música), as mudanças de ritmos (cambios), entre outros.
Para se dançar Flamenco segundo os artistas conservadores da tradição, é obrigatório compreender este vasto vocabulário e, acima de tudo - e é aqui que levantamos a principal questão de nossa pesquisa, desde antes e na criação de CONCRETO - respeitar estritamente os limites destas combinações. Ultrapassar, transpor ou propor novas possibilidades a partir destes códigos é algo não muito aceito. Principalmente quando falamos de artistas que são de outros países, que não a Espanha.
O corpo no flamenco tradicional é barroco, sensível ao jogo entre contenção, excesso e força, trabalhando quase que exclusivamente por meio da musculatura. As formas são muito valorizadas (gestos, coreografias e movimentos já conhecidos e estruturados, geralmente passados do professor para o aluno). O sapateado, por sua vez, com sua técnica tão específica, promove no bailarino um lugar de músico, sendo o sapato um instrumento de percussão, e geralmente o virtuosismo relacionado à velocidade impera, e por isso muitas vezes encontramos a dificuldade em se conectar com a criação da música propriamente dita. A liberdade de se criar a partir dos conceitos rígidos da arte tradicional só serão plausíveis, com o total domínio e compreensão das estruturas e códigos desse dançar, porque a prioridade segundo o flamenco conservador, sempre será preservar o diálogo com os músicos.
O temor em não descaracterizar essa dança é um ponto intrinsecamente ligado à questão da preservação, este é o cerne da questão e provavelmente o maior castrador para a livre criação No Brasil esta situação se agrava, porque a relação com essa arte está ligada à sensação de não pertencimento, muito pela falta de conhecimento sobre questões históricas e de origens.
Em 2018, esse tema foi bastante discutido nas palestras dadas pelo historiador e flamencólogo espanhol Juan Vergillos em São Paulo. Trazer o pesquisador mais conceituado da cena flamenca mundial, foi uma das estratégias do projeto de pesquisa desta companhia, quando contemplado pela 23a edição do Programa Municipal de Fomento à Dança para a cidade de São Paulo, com a proposta de desmistificar a história do flamenco e aproximar os artistas a um conhecimento mais abrangente sobre ele. Observar documentos que comprovam que na origem da dança flamenca existiram enormes influências africanas, dos povos ciganos, dos povos andaluzes, mas também dos povos americanos, foi importante para repensarmos a crença de que outros povos não podem se apropriar dessa linguagem e, consequentemente, podermos explorar novas possibilidades com mais liberdade para criar a partir da linguagem.
Para finalizar, e segundo Juan Vergillos: “a arte flamenca é uma manifestação artística e não uma senha de identidade”, e ele também trouxe a discussão sobre a contemporaneidade da linguagem afirmando que “a vanguarda sempre foi uma tradição na arte flamenca e poder criar com liberdade é o que fará com que esta arte.
Ficha Técnica Concepção, Coreografia e Direção: Ale Kalaf; Bailarinas: Ale Kalaf, Fernanda Viana, Gisele Lemos, Nina Molinero E Ximena Espejo; Preparação Corporal e colaboração no processo criativo: Lívia Seixas; Trilha Sonora Original Alexandre Ribeiro, Fernando De La Rua, Jony Gonçalves e Roberto Angerosa; Desenho de Luz Miló Martins;Técnica de Luz Fernanda Guedella;Técnica de Som Yuri Melo; Cenografia Marcos Diglio | Palhassada Atelie; Gravação e Edição da Trilha Sonora Adonias Souza Jr. | Estúdio Arsis; Efeitos e Edição para a Trilha Sonora Rubens Macedo; Figurinos Maria Cajas | D’cajas - Figurinos Taylormad; Vídeo (Teaser de Divulgação) Paula Mercedes; Assessoria de Imprensa Maria Luiza Paiva | Lítera; Produção Executiva Anacris Medina; Direção de Produção Cau Fonseca | Mítica!
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