Índice Mozarela da Fatec Sebrae revela desigualdade na capital
A partir da tradicional pizza muçarela, 2 professores e 11 alunos calcularam a diferença de poder de consumo entre os 92 distritos da cidade
Uma mesma pizza pode custar mais caro para uma pessoa do que para outra? O que parece um enigma é o resultado de uma pesquisa realizada pelos professores Rodolfo Ribeiro e Alexander Homenko com 11 alunos da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Sebrae, na Capital. Nomeado Índice Mozarela, o trabalho expõe o nível de desigualdade entre os bairros (e os habitantes) da cidade a partir do valor de um dos pratos mais populares entre os paulistanos.
A ideia surgiu há mais de três anos, quando Ribeiro assistiu à apresentação de um aluno da disciplina de Gestão de Marcas, do curso superior de tecnologia de Gestão de Negócios e Inovação da Fatec que propunha a decomposição de preços por localidade. Ao conversar com Homenko, e tendo no horizonte referências como o Índice Big Mac, eles começaram a articular a pesquisa para o indicador.
No primeiro semestre de 2021, o trabalho estava de pé, com uma fórmula que levava em conta o preço médio da pizza, pesquisado em 2.515 estabelecimentos dos 96 distritos da cidade, e a renda familiar média em cada uma dessas áreas.
O preço médio de uma unidade de pizza grande de muçarela de 8 pedaços é dividido pela renda média e multiplicado por 100. Assim, pelo Índice Mozarela, o valor de uma pizza é menor para os moradores de determinada região quanto mais próximo de zero estiver o marcador. É esse número que aponta, por exemplo, como é possível um morador de Perus, bairro do extremo noroeste da cidade, pagar mais do que o de Moema, área de classe média alta, pelo mesmo produto. Quem vive em Perus desembolsa proporcionalmente mais por um item que, em números absolutos, é 44% mais barato do que seu equivalente de Moema. Isso porque o dado revelado pelo índice se refere a quanto o item impacta no poder de compra desse morador, e não no preço da pizza em si.
“A ideia é tornar o trabalho recorrente, até porque a análise de dados é cada vez mais valorizada e, portanto, importante para o aluno. Trata-se de uma pesquisa científica relevante”, avalia Ribeiro.
Fontes de inspiração
Uma das referências para o trabalho foi o Índice Big Mac. Criado em 1986 pela revista inglesa The Economist, até hoje ele divulga anualmente a valorização – ou desvalorização – da moeda corrente de vários países em relação ao dólar. A medida usada é o preço do lanche mais famoso do mundo. Essa aferição permanente está no radar da equipe da Fatec Sebrae.
Também serviu como inspiração a Rede Nossa São Paulo, um movimento que reúne 600 organizações da sociedade civil com o objetivo de estipular metas para garantir o bem-estar do cidadão paulistano. De lá saíram os dados sobre a renda usados no trabalho.
Observar o resultado da pesquisa pode ser mais didático pelo que descortinam os seus extremos, lembrando que quanto mais perto de zero está o índice, mais barata é a pizza para os moradores da região. Na Vila Sônia, zona oeste do município, aparece a que menos pesa no orçamento do morador: 0,44. Em seguida aparecem Lapa e Alto de Pinheiros, com 0,47.
No lado oposto dessa conta surgem somente bairros periféricos: Perus (1,20), Anhanguera (1,07) e Parelheiros (1,05) – os dois primeiros na zona noroeste; o terceiro, na sul.
No ranking de números absolutos – preço médio da pizza em cada bairro –, Moema lidera, com o preço médio de R$ 61,98. Já os moradores do Capão Redondo gastam, em média, R$ 27,02.
Ribeiro já está curioso para conhecer o resultado do próximo levantamento. “Com os dados atualizados da renda, somada à taxa elevada de desemprego que vem se apresentando, o índice pode revelar uma situação ainda mais desigual”, acredita o professor.
Fonte: Renda média mensal pesquisada em 2017 e ajustada para dezembro de 2021, de acordo com o movimento Nossa São Paulo. O preço das pizzas foi levantado entre novembro e dezembro de 2021.
Sobre o Centro Paula Souza – Autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o Centro Paula Souza (CPS) administra as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e as Escolas Técnicas (Etecs) estaduais, além das classes descentralizadas – unidades que funcionam com um ou mais cursos, sob a supervisão de uma Etec –, em cerca de 360 municípios paulistas. As Etecs atendem mais de 228 mil estudantes nos Ensinos Técnico, Integrado e Médio. Nas Fatecs, o número de matriculados nos cursos de graduação tecnológica supera 94 mil alunos.
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