Por que os alunos regrediram no ensino remoto?
Especialista defende soluções estratégicas pela via da neurociência
Uma pesquisa divulgada em julho deste ano pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) mostrou que 84% dos alunos do ensino médio estudam mais na escola do que no sistema remoto. Com o advento da pandemia, especialistas em educação vêm apontando que os estudantes perderam praticamente dois anos letivos e milhões de alunos foram prejudicados no processo de aprendizagem. Diante da notória regressão de grande parte de estudantes, a neuropedagoga Janaina Spolidorio defende soluções estratégicas pela via da neurociência.
Com a gravidade da situação sanitária no País, professores, estudantes e escolas enfrentaram um verdadeiro colapso na educação. A dificuldade de adaptação ao ensino remoto por todos estes entes levou muitas famílias a retirarem seus filhos da escola, por conta da dificuldade de todos se adaptarem a este momento desafiador. “Grande parte dos alunos regrediram em aprendizagem, em conhecimento e até mesmo no modo de estudar”, explica Janaína que, com mais de 25 anos de carreira, decidiu auxiliar os profissionais da educação e escolas a superarem as suas dificuldades.
Crianças que foram retiradas das escolas pelos pais do ensino infantil, no ano passado, por exemplo, poderão enfrentar dificuldades no futuro. “Faltou orientação e divulgação aos pais do quão importante teria sido o contato com o estímulo. Houve também falta de preparo das escolas em dar conta das necessidades de maior vínculo com a família e orientação adequada para o acompanhamento remoto”.
A partir de agora, a missão da educação deverá ser prezar pelo estratégico, porque sem ele não será nem possível enxergar um futuro, alerta a especialista. “Não temos documentos regulamentadores próprios para essas crateras, eles consideram o ano letivo. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, que orienta sobre habilidades para determinado ano escolar, muitas vezes não dá conta dessa nova realidade. O documento pode nos confinar, assim como as soluções mágicas que muitos têm oferecido”.
Uma criança que não recebeu estímulo na idade correta não terá maturidade cerebral para a próxima fase e este fato irá retardar a aprendizagem. Por consequência, ela pode até mesmo perder o que chamamos de “janela de oportunidade” em neurociência, explica a especialista. “A janela é o período da vida da criança em que seria mais fácil e menos ‘doloroso’ aprender. Depois que a janela passa, a criança aprende, mas o esforço é imensamente maior”.
Segundo a especialista, é necessário criar uma estratégia para evitar danos para as próximas décadas, já que os efeitos na educação são a longo prazo”, explica. A solução pode estar na neurociência, mas com profissionais que sejam realmente formados para entender o processo e o que fazer com o que faltou naquele determinado ponto, defende.
Segundo ela, para entender a regressão que já está sendo sentida tanto pelas famílias quanto pelas escolas, é preciso considerar três itens: fase de desenvolvimento, aprendizagens invisíveis e o equilíbrio estímulo/maturidade. “Cada criança está em uma fase de desenvolvimento e essas fases são essenciais para determinar o que elas aprendem em determinado ano escolar. A partir dessas fases, profissionais da educação fazem um planejamento”.
Educação não é magia, é processo, lembra. “Nada é rápido nela, nem a aprendizagem da criança, que requer maturidade, desenvolvimento; e nem mesmo a solução, que precisa dar ao cérebro a estrutura necessária para poder florescer em aprendizagens saudáveis e mais estáveis”.
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