A escola da verdade
Eduardo Emmerick e Jeff Freitas*
As crianças e os jovens de hoje estão enfrentando desafios novos na sociedade do conhecimento, da informação, da tecnologia e do virtual. A escola não pode mais se limitar a ensinar a ler textos escritos em livros, jornais, revistas. Não basta decifrar letrinhas e captar a mensagem que a superfície escrita (impressa ou digital) apresenta. Tem que cuidar do que traz real impacto para a vida dos aprendizes.
Os gaúchos têm um ditado interessante: “pato novo não mergulha fundo”. Querem dizer que a experiência vem com o tempo. Ocorre que a velocidade da sociedade digital-midiática exige que nossos aprendizes possam mergulhar já um pouco mais na superfície para saber se não estão diante de notícias falsas (“fake news”). O que é verdadeiro no que estão lendo? Ser mero operador adestrado não permite a um profissional dar cumprimento aos desafios que, presentemente, a vida na comunidade e nas organizações apresentam.
Não é mais suficiente que os aprendizes recebam informações, notícias e definições sobre “fatos”. Eles precisam ser desafiados a buscar o entendimento das causas do que está sendo mostrado. Chuvas assustadoras e enchentes nunca vistas antes? Incêndios devastadores na Austrália, na Califórnia ou na Amazônia? Crises econômicas e sociais? Aquele meteoro perigoso que estaria vindo por aí? E a avalanche de notícias falsas que estariam a encher as mídias sociais? É preciso discernir entre o que é fato e o que é mentira, bem como captar o significado para a vida deles.
Da mesma forma, pode-se afirmar que eles devem ser preparados para reconhecer o que é relevante para a construção das competências de que carecem (e de que precisarão) para dirigir suas vidas e a vida do grupo social em que inseridos. Sócrates propôs, há quase três mil anos, que a vida exige que nós passemos tudo por três peneiras: “as peneiras da sabedoria”. Cada ser humano tem o desafio de estar em busca de três valores fundamentais. Para tanto, basta responder se o que você diz, faz, ou aprende está baseado, de modo correto, na verdade, na bondade e na utilidade.
Instituições de ensino reconhecidamente bem sucedidos já se deram conta do desafio atual de mudança e inovação e estão caminhando voltadas para essa nova direção. Diversas escolas no mundo e no Brasil estão criando hoje essa nova realidade. Avaliações indicam que já há colheita de consequências benéficas para os aprendizes, no relacionamento interpessoal, na autoconfiança, no respeito à diversidade, e na atitude de autonomia aliada à de pertencimento. Além da já tradicional excelência na construção de conhecimentos e habilidades, têm sido ampliadas as condições para que eles desenvolvam atitudes virtuosas, conquistando competências amplificadas.
Na sociedade atual, em que assumimos diferentes papéis e em que se exige a convivência e a cultura do diálogo, é fundamental que a escola e os professores possam permitir que os aprendizes dialoguem, questionem, duvidem, tenham atitudes e posicionamentos. A nova geração, com maior facilidade de acesso às informações e de contato com outras culturas, deve ser desafiada e orientada ao livre questionar, criar e participar. Afinal, é ela a autora da aprendizagem e construção ativa do exercício de cidadania. A escola tem o dever de assegurar que isso ocorra de modo efetivo.
* Eduardo Emmerick é professor de Filosofia e Sociologia do Colégio Positivo. Jeff Freitas é professor de Literatura e Arte do Ensino Médio do Colégio Positivo.
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