Cresce o roubo de cargas no Nordeste: como combater a criminalidade?
por Anderson Hoelbriegel e Alírio Rodrigues *
A segurança logística no Nordeste do Brasil enfrenta desafios cada vez mais complexos, impulsionados por fatores sociais, econômicos e estruturais. Dados da pesquisa ‘Panorama de Roubo de Carga na Cadeia Logística na Região Nordeste’ indicam que Pernambuco e Bahia se destacam como os estados mais impactados por roubos de cargas entre 2022 e o primeiro quadrimestre de 2024. Outras regiões, como Ceará e Maranhão, também têm alternado posições na série histórica do estudo, evidenciando a disseminação do problema na região.
O crescimento do roubo de cargas no Nordeste está ligado à movimentação econômica e geográfica. Estados como Pernambuco e Bahia possuem características que os tornam estratégicos para operações logísticas, como portos, aeroportos e rodovias que conectam a outras regiões do país, além de grande fluxo de turistas e comércio intenso. Essas vantagens, somadas à menor presença do Estado e à infraestrutura de segurança deficitária, configuram um ambiente fértil para organizações criminosas prosperarem em seus “negócios”.
Além disso, há uma migração de grupos criminosos que anteriormente operavam em regiões, como Sul e Sudeste. Esses grupos adaptaram suas operações, trocando assaltos a bancos e carros-fortes pelos roubos de cargas, devido à maior liquidez e menores riscos associados a esse tipo de crime.
Segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o transporte rodoviário é responsável pelo deslocamento de 65% das cargas no Brasil e a vulnerabilidade no Nordeste também é amplificada pela precariedade dessas estradas. As más condições aumentam o tempo de viagem e expõem as cargas a maiores riscos. Adicionalmente, a desigualdade social e a ausência de políticas públicas efetivas contribuem para a expansão dessas práticas criminosas na região.
Para enfrentar esses desafios, é essencial adotar uma abordagem integrada e tecnológica, que combine esforços da segurança pública e privada, além das áreas de inteligência das empresas. Algumas medidas fundamentais incluem:
- Investimento em tecnologia: soluções como rastreamento avançado, monitoramento por satélite e dispositivos de segurança embarcados têm demonstrado eficácia na mitigação de riscos.
- Fortalecimento da comunicação: a troca de informações entre empresas privadas e órgãos públicos é crucial. Relatórios consolidados e análises de risco conjuntas podem antecipar e prevenir crimes de forma mais eficiente.
- Educação e treinamento: profissionais da área de segurança logística precisam deter conhecimento ampliado, ou seja, que vá além de aspectos técnicos e abarque fatores econômicos, sociais e estruturais das regiões onde operam.
- Sensibilização da sociedade: o roubo de cargas persiste porque há mercado para produtos ilegais. Campanhas de conscientização, direcionadas à população, podem ajudar a reduzir o número de compradores de produtos roubados.
- Aprimoramento da infraestrutura: investimentos, principalmente nas rodovias, para que elas se tornem mais seguras, são indispensáveis para melhorar a eficiência da logística e conter o avanço dos roubos de cargas.
A segurança logística no Nordeste enfrenta uma junção de desafios que exigem soluções estruturais e imediatas. Mais do que apenas medidas reativas, o combate ao roubo de cargas requer planejamento integrado, tecnologia e a colaboração das empresas de logística, governos e a sociedade civil.
Todo esse elo deve unir forças para mitigar riscos e criar um ambiente mais seguro e eficiente para o transporte de mercadorias. Somente com uma abordagem sistêmica e comprometida será possível reverter a crescente ameaça à segurança logística na região.
*Anderson Hoelbriegel é diretor de negócios da ICTS Security, consultoria reconhecida pela excelência em inteligência e gestão integrada de segurança.
*Alírio Rodrigues é business security regional lead da Bayer.
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