Engenharia de autenticidade: um negócio do presente
Por Vitor Aveiro Gomes, gerente de marketing de produto senior na Adobe (Latam)
Um designer sai da agência de publicidade onde trabalha. Ele está cansado porque precisou ficar até tarde. Mais um pedido que veio com prazo curto. Ele entra na estação Fradique da linha amarela, coloca um fone de ouvido e pretende relaxar um pouco, antes de descer no ponto próximo de casa. Eis que ele vê uma imagem em uma mídia out of home, a qual presume ser feita com inteligência artificial. Mas como ter certeza? E como acessar a ficha técnica? Mais importante ainda: como ter a certificação de que, se foi feito com IA, aquela criação estará protegida?
São inúmeras as perguntas e, certamente, qualquer um que trabalhe com comunicação - seja essa escrita ou visual - deve estar se questionando sobre o futuro do nosso mercado com a ascensão da IA para inúmeros fins: criação de texto, vídeo, arte visual e até mesmo composição de música. Antes de quaisquer teorias fatalistas, posso dizer que, na condição de profissional da indústria criativa, a IA não vai substituir nenhum talento, da mesma forma que a televisão não aniquilou a rádio, a Netflix não fechou os cinemas de rua ou shopping, a internet não desempregou jornalistas, entre outros receios da humanidade.
Acabo de retornar de um congresso em Miami (EUA), o qual me trouxe alguns insights bem valiosos sobre o tema. Em uma palestra, a audiência foi apresentada a nove soluções de Content Authenticity - ou autenticidade de conteúdo - que, resumindo em poucas palavras, visa mostrar quem é o rosto criativo por trás de cada arte desenvolvida. E como estamos navegando em águas até então inexploradas, é muito natural que haja receio, mas é justamente nesta fase, digamos embrionária, que começamos a falar de registro, verificação e segurança de dados.
Vejo que esta será uma curva ascendente em 2025, um ano em que a IA vai trilhar caminhos valiosos, como a produção de vídeo. Na prática, essa expertise de Content Authenticity funcionará da seguinte forma: por exemplo, um designer finaliza uma peça gráfica - usando inteligência artificial ou não. Em seguida, ele ou ela registra essa produção em uma plataforma, com seu nome, perfis de redes sociais, softwares utilizados e demais informações de uma ficha técnica habitual.
Na outra ponta, um consumidor está com um produto na mão, que pode ser uma garrafa de água mineral, uma revista, um livro, uma caneca ou outro item. Ao ver uma estampa, essa pessoa fica cativada e, por mera curiosidade, deseja saber mais sobre quem está por trás. Com a câmera do celular, em poucos segundos, aquela curiosidade é sanada com um link que o/a direciona para uma página com a respectiva ficha técnica - e obviamente, os devidos créditos e registros de propriedade intelectual.
Com isso, podemos dizer que os direitos autorais e o mérito pelo reconhecimento de um trabalho também migram para a plataforma online e passam a atuar no mesmo lado do balcão com a inteligência artificial - para muitos, ainda vista como algoz da criatividade ou da preservação intelectual. O que estamos testemunhando é mais do que a mudança de uma era: é a regulamentação em tempo real de todas essas transformações.
Desembarco em São Paulo, minha cidade, com a cabeça cheia de pensamentos e ideias. Nossa indústria criativa é mesmo dinâmica, inquieta e não para um minuto sequer. Não consigo negar a satisfação sentida por mim por fazer parte dessa história e desse tempo de transição, que a meu ver, vem repleto de otimismo e atualizações necessárias.
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