Insurtechs: desvendando a revolução tecnológica nos seguros brasileiros
Adoção de novas tecnologias está não apenas transformando a experiência do consumidor, mas também redefinindo a gestão de riscos e a precificação de seguros no país
José Marciano da Silva Neto e Lucas Pettine Maximino
O Brasil, conhecido por sua capacidade empreendedora, tem visto um novo fenômeno emergir com força: as insurtechs, cujo termo é uma combinação das palavras "insurance" (seguro, em inglês) e "technology" (tecnologia). Essas novas empresas de tecnologia no setor de seguros estão mudando a forma como lidamos com algo tão tradicional e importante em nossas vidas: a proteção dos nossos bens e da nossa saúde.
Neste cenário, as insurtechs, combinando inovação tecnológica com seguros, propõem soluções mais ágeis, personalizadas e, muitas vezes, mais econômicas que as oferecidas pelas seguradoras tradicionais. Elas estão desafiando os gigantes do mercado e, ao fazer isso, estão modificando não apenas a forma de oferecer seguros, mas também como pensamos sobre eles. Com ferramentas digitais avançadas, elas facilitam desde a contratação de uma apólice até o atendimento de sinistros, tudo com poucos cliques.
Este movimento representa mais do que uma simples onda de inovação. É uma revolução, que está redefinindo expectativas e estabelecendo novos padrões no mercado de seguros brasileiro.
O Brasil destaca-se no cenário global como um ambiente fértil para startups inovadoras, especialmente as insurtechs. Essas empresas estão na vanguarda da transformação tecnológica no setor de seguros, utilizando ferramentas como Big Data, Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) para criar experiências mais eficientes e personalizadas para os usuários.
As insurtechs oferecem produtos personalizados e preços baseados no uso, o que traz uma nova perspectiva para a precificação de seguros. A simplificação do processo, desde a contratação até a resolução de sinistros, desafia a burocracia das seguradoras convencionais, promovendo uma relação mais direta e transparente com o cliente.
As tecnologias empregadas pelas insurtechs estão remodelando a interação entre consumidores e seguradoras, com destaque para:
Personalização de Produtos: Através do uso de Big Data e análise de comportamentos granular e individualizada, as insurtechs conseguem compreender melhor o perfil de risco individual dos clientes. Isso permite que elas ofereçam apólices personalizadas, ultrapassando os modelos tradicionais atuariais, pois com a análise de dados alimenta algoritmos de machine learning, melhorando continuamente a precisão nas estimativas de risco, que não apenas atendem melhor às necessidades do cliente, mas também são mais eficazes em termos de custo.
Preços Baseados no Uso: Seguros que cobram com base no uso real, como os que monitoram a forma como você dirige para calcular o prêmio do seguro de carro, são um exemplo de como a tecnologia está mudando a precificação dos seguros. Isso é positivo para clientes que, por exemplo, dirigem menos e podem, portanto, pagar menos.
Simplificação do Processo: As aplicações móveis e as plataformas online estão tornando mais fácil para os consumidores contratarem seguros e fazer reivindicações. A papelada extensiva e os processos burocráticos estão sendo substituídos por interfaces de usuário intuitivas e processamento de dados em tempo real.
Resolução de Sinistros: A inteligência artificial e o machine learning estão revolucionando o processamento de sinistros no setor de seguros. Algoritmos estão sendo usados para automatizar o processo de sinistros, tornando-o mais rápido e eficiente. Isso inclui desde a notificação automática de um sinistro até a avaliação de danos usando imagens, e até mesmo o pagamento automatizado de sinistros.
Prevenção de Fraudes: As tecnologias de insurtechs permitem identificar padrões que podem indicar fraude, ajudando as seguradoras a economizar grandes somas de dinheiro e, por sua vez, a manter os prêmios de seguro mais baixos para consumidores honestos.
Produtos Inovadores: As insurtechs estão introduzindo novos tipos de seguros, como microsseguros (que oferecem cobertura por curtos períodos de tempo ou para eventos específicos) e seguros on-demand (que o cliente pode ativar e desativar conforme necessário).
Engajamento do Cliente: Com a ajuda de tecnologia, as seguradoras estão melhorando a comunicação com seus clientes, oferecendo recomendações personalizadas e mantendo-os informados sobre produtos e serviços que podem ser do seu interesse.
Internet das Coisas (IoT): Dispositivos conectados, como wearables e sensores domésticos, podem monitorar a saúde e o bem-estar do cliente ou a segurança de sua casa, fornecendo dados em tempo real para as seguradoras. Isso pode levar a prêmios de seguro reduzidos para clientes que demonstram comportamentos seguros ou saudáveis.
Blockchain: Alguns projetos de insurtech estão explorando o uso da tecnologia blockchain para criar uma forma segura, transparente e eficiente de registrar e verificar transações no campo dos seguros, o que pode reduzir a fraude e melhorar a confiança entre todas as partes envolvidas.
Conforme o relatório da Liga Ventures, o Startup Landscape: Insurtechs, em parceria com entidades do setor, o Brasil conta atualmente com 117 insurtechs ativas, divididas em categorias que vão desde infraestrutura tecnológica até seguros saúde. Essa variedade demonstra a capacidade das insurtechs de permearem todos os nichos do mercado, prometendo uma contínua e profunda transformação no panorama dos seguros no país.
Estas são as categorias técnicas das Insurtechs, elencadas por ordem decrescente de percentual nos grupos com mais startups ativas:
Infraestrutura Tecnológica: Desenvolvimento de APIs robustas e plataformas baseadas em cloud para otimizar operações.
Plataformas de Contratação: Algoritmos para comparar ofertas e personalizar apólices.
Seguros Corporativos: Soluções integradas para gestão de riscos empresariais.
Segurança de Dados: Aplicação de criptografia e outras tecnologias de segurança para proteger dados sensíveis.
Análise de Dados: Soluções inovadoras de análise de dados, oferecendo as ferramentas necessárias para tomar decisões mais inteligentes, personalizadas e lucrativas.
Insurance as a Service - IaaS (Seguro sob Medida): Através de APIs e uma interface amigável, permite que empresas de qualquer porte integrem facilmente soluções de seguro personalizadas em seus produtos e serviços, sem a necessidade de investir em infraestrutura própria ou expertise técnica em seguros.
Seguro Automotivo: Opção inovadora e vantajosa para todos os tipos de motoristas. Com preços personalizados, soluções tecnológicas e foco no cliente, oferece uma experiência de seguro auto completa e satisfatória.
Um dado relevante trazido pelo relatório, embora uma startup possa ter mais de um público-alvo, é que 54% das startups mapeadas tem o mercado B2B como público-alvo.
Análise feita com base no acompanhamento do número de funcionários das startups mapeadas no LinkedIn, revela que a categoria de Infraestrutura Tecnológica é a que mais emprega, seguida das categorias de Insurance as a Service - IaaS, Segurança de Dados, Seguro Automotivo e Seguro de Vida.
Já dentre as 5 tecnologias mais aplicadas, embora uma startup possa aplicar mais de uma tecnologia em sua solução, aparecem: Data Analytics, API, Bando de Dados, Big Data e Machine Learning.
A partir da análise quantitativa da evolução das insurtechs, incluindo crescimento, distribuição geográfica e categorias emergentes, observa-se um aumento de foco no B2B e a crescente adoção de IA e IoT.
Análise feita com base no acompanhamento de deals declarados publicamente, o montante total investido em 2022 foi de 358 milhões de reais para um total de 13 deals, dos quais 49% foram direcionados para a categoria de Insurance as a Service – IaaS, 12% Seguro Automotivo, 10% Infraestrutura Tecnológica, 10% Seguros Corporativos e 8% Seguro de Vida.
Em 2023, a análise feita considerando apenas deals até novembro, registrou 169milhões de reais investidos para um total de 4 deals.
Utilizando a classificação da Liga Ventures, uma análise da maturidade das startups insurtech oferece insights sobre a estabilidade e potencial de crescimento do setor: 38% são Emergentes (já estabelecidas no mercado em busca de expansão), 27% são Estáveis (já estão por um tempo considerável no mercado e que estão com suas operações estáveis), 17% são Disruptores (startups lançadas a pouco tempo no mercado com soluções e/ou produtos capazes de alterar o status quo), 18% são Nascentes (startups lançadas recentemente e que não conseguiram alavancar seus produtos/serviços).
Esse cenário viabiliza a discussão sobre as projeções futuras, e revela o mercado com foco em inovações emergentes e potencial de expansão global.
Em conclusão, a revolução das insurtechs no Brasil é um fenômeno que reflete a crescente combinação entre tecnologia e serviços financeiros, com implicações profundas para o mercado de seguros tradicional. Como vimos, as insurtechs têm impulsionado inovações significativas, oferecendo soluções mais ágeis, personalizadas e econômicas, que desafiam as práticas estabelecidas e promovem uma maior eficiência operacional. A adoção de tecnologias emergentes está não apenas transformando a experiência do consumidor, mas também redefinindo a gestão de riscos e a precificação de seguros.
A revolução das insurtechs está apenas começando, e seu potencial para remodelar o mercado de seguros brasileiro é imenso. À medida que o setor avança, é fundamental que as empresas, reguladores e consumidores colaborem para garantir que a inovação seja equilibrada com a segurança, a equidade e a sustentabilidade.
*José Marciano da Silva Neto é advogado, sócio no Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica. Lucas Pettine Maximino é advogado.
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