Demissões de CEOs aumentam: quais os motivos?
Ricardo-Haag
Por Ricardo Haag
A fundamentalidade do CEO para uma empresa vai muito além da sua contribuição técnica. Essa é uma cadeira que, quando qualificadamente ocupada, é capaz de inspirar os times, direcionando-os em prol de seu melhor desempenho possível e os engajando em suas funções. Contudo, uma onda crescente de demissões destes profissionais está sendo notada, o que, caso permaneça sendo registrada, pode ocasionar em impactos severos para todos os membros do negócio.
Em dados divulgados pela pesquisa Challenger, Gray & Christmas, mais de 1.400 executivos deixaram seus postos ao longo deste ano. Pode parecer uma quantia pouco significativa, mas o total representa um aumento de quase 50% em relação a 2022, o mais alto desde que esse índice começou a ser monitorado em 2002. Ainda, foi constatado que o motivo da saída de quase 1/3 destes talentos foi a aposentadoria – em um ponto que também merece ser melhor compreendido.
Todos nós, em algum momento de nossa trajetória, iremos nos aposentar. Mas, é importante destacar que, normalmente, essa é uma decisão tomada em comum acordo entre as partes, uma vez que, caso o executivo não deseje se aposentar, ele pode continuar trabalhando em outras frentes. Isso fez com que, ainda segundo o estudo, 17% dos CEOs tenham se movimentado para posições maiores como, por exemplo, para conselhos de administração.
É complexo atrelar o motivo desta rotatividade a um único fator. Contudo, em um mercado extremamente dinâmico como o do nosso país, muito pode ser relacionado a esses dados o desafio destes executivos em se manterem atualizados e oxigenados em suas áreas de atuação. Afinal, essa é uma cadeira que demanda muita energia de realização e enfrenta pressões enormes diariamente visando a conquista dos resultados estipulados.
Muito sempre é esperado de um CEO em termos de direcionamento, inspiração, proximidade e domínio de mercado – o que, com certeza, torna essa cadeira exaustiva. Então, é “compreensível” observarmos este aumento de pedidos de desligamentos destes executivos no mercado, seja por parte deste profissional ou pela empresa, o que também pode ser completamente comum de ser visto e, inclusive, vem sendo significativamente notado nos últimos anos.
No Brasil, vimos, recentemente, uma série de turbulências em empresas nacionais em questão de ética e compliance, o que, inevitavelmente, contribui para que o CEO acabe ficando muito vulnerável e, geralmente, sendo demitido – seja ele culpado ou não. Isso porque, em teoria, ele é o responsável pelo que ocorre internamente e deveria acompanhar ou evitar que algo de errado acontecesse.
Seja por questões ideológicas, de conduta, método ou de resultados, a qualidade e desempenho deste executivo vem sendo acompanhada com a crescente transparência e proximidade nos últimos anos, em uma quebra de privacidade que nos permite ter uma maior clareza dos motivos que podem justificar essa rotatividade registrada no mercado.
Por mais justificáveis que certos pedidos de desligamento possam ser, este é um tema que deve ser devidamente analisado para que as empresas consigam ter um melhor alinhamento das expectativas com estes profissionais e, com isso, “segurar” bons CEOs em seu time.
É claro que todo negócio sempre irá cobrar seus profissionais em termos de resultados. Por sua vez, também é importante lembrar que essa urgência pode fragilizar a relação entre as partes. E, além de metas financeiras, as empresas devem sempre se lembrar que estes talentos são seres humanos, os quais possuem suas fraquezas, inseguranças e que também merece apoio em sua rotina corporativa.
Este é um olhar crucial para a retenção destes executivos, mantendo um alinhamento claro quanto ao que é esperado e conversas cada vez mais construtivas em prol de relações mais longevas. Todos esses fatores, quando prezados desde o recrutamento deste profissional, tornará este processo mais assertivo em termos de valores, comportamento, estilo de pensamento, visão de negócio e de vida.
Não há como negar a importância desta cadeira para o bom funcionamento de qualquer negócio. Portanto, uma análise criteriosa dos momentos de entrada, execução e saída de um CEO, é possível ter uma visão bem completa e um diagnóstico mais acurado das razões que podem levar ao seu desligamento e, com isso, adotar ações antecipadas que contribuam para sua retenção, felicidade e produtividade na empresa.
Ricardo Haag é sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.
Sobre a Wide
Com mais de 30 anos somados de recrutamento especializado e mais de 20 mil entrevistas realizadas, o propósito da Wide, empresa de recrutamento e seleção de alta gerência, é construir legados, seja o das empresas contratantes, o dos candidatos e o seu próprio.
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