Autovistoria de seguros: Será mesmo uma autovistoria, ou um trabalho transferido para outro fazer, sem remuneração?
Se houver corretor que ache ruim a autovistoria, considero que será uma parcela menor de corretores. E boa parte dos segurados ainda está se adaptando ao método. Realmente, esse sistema também diminuiu radicalmente os vistoriadores presenciais, infelizmente. Portanto, não há que se falar em volta ao modelo antigo, não é mesmo?
Porém, o termo autovistoria é impreciso. A vistoria é realizada por um ser humano, ela não se conclui sem esse atributo ou por meio robótico, no automático. O que existe é a transferência de responsabilidade ou função de trabalho para alguém, onde se transmuta para o segurado ou para o corretor, a tarefa não remunerada de se fazer a vistoria para um terceirizado, com função exígua de agir nisso em que presta serviços ou para uma seguradora.
Mas, entre a necessidade e a perfeição há uma lacuna muito grande. O modelo atual tem sido muito criticado, tanto do ponto de vista da própria modernização, como do ponto de vista ético e prático.
Vou dar exemplo:
O corretor transmite a proposta e a seguradora envia o link para o segurado fazer a vistoria. Em contrapartida, o segurado precisa de um celular com boa câmera e internet. Depois, seguir os passos e modelos apresentados no programa da seguradora. Finalmente, concluir a vistoria. Observe, quase sempre que isso acontece, o corretor se envolve de alguma maneira, portanto, sem remuneração sobre este serviço. Lembre-se: o corretor vende seguros, mas a tarefa de fazer a vistoria não é dele, por isso existe uma empresa que cuida desse detalhe e ganha para fazer isso.
Nesse espaço de tarefas, linkado no programa, o mesmo não pode cair. Caso a internet fique lenta ou sem conexão, o programa volta ao início. Caso a foto não seja boa, tem que se tirar mais e mais fotos. Inclusive, entrar debaixo dos bancos para fotos do chassi, muitas vezes ou sujar-se de graxa quando está próximo ao motor. Na última etapa o programa cai e é necessário reiniciar toda a tarefa, em alguns programas.
Focando no exemplo, ainda nesta semana um cliente não conseguiu fazer a vistoria porque o programa da empresa que faz a vistoria estava cheia de bugs. Então, no último dia, uma pessoa do nosso escritório saiu para fazer essa "autovistoria". Sim, ainda bem que foi lá, senão a proposta seria devolvida, gerando a própria devolução da proposta; a devolução do prêmio pago, retrabalho, insatisfação etc.
Mas qual foi a experiência da pessoa que trabalha nesta corretora? Horrível! Precisou pelo menos refazer as fotos seis vezes de cada parte. O tempo tomado foi de aproximadamente 45 minutos. O segurado, entretanto, ainda que paciente, ficou sem sair do local por causa disso.
Mas isso não é o pior! Em contato direto por telefone e humanizado com a empresa responsável pela vistoria (lembre-se: a responsabilidade da vistoria não é do segurado e nem do corretor), este foi informado que todas as fotos tinham sido salvas anteriormente. Então, vamos começar com a primeira sensação: o programa parou no tempo? e na sua criação de suas próprias virtudes evolutivas?. Pense, se as fotos foram salvas, porque as fotos salvas continuaram a ser solicitadas? Com IA e o programa bem escrito e desenhado, aquela parte da vistoria seria informada como salva e não seria mais necessária, ou estou enganado? Assim, voltaria apenas para o que faltasse, mas com menos solicitações. Porém, por que não foi feito isso, já que esse tipo de sistema já tem alguns anos, incentivado pela pandemia? Parou no tempo? Não evoluiu? O quê? Sendo que milhões de segurados procedem com esse tipo de vistoria? Porém, as seguradoras pagam por este serviço, que deveria evoluir constantemente. Novamente, por que dois ou três anos depois, um simples detalhe como este continua sendo ignorado?
Ainda mais, que tal incluir SMS, novidades, um mapa mais informativo, simplificação, respeito ao consumidor, respeito ao corretor? Nessas horas o corretor sofre danos de tudo o que existe de material, moral e consequente responsabilidade na terra.
Quero deixar bem claro que não faço crítica individual a qualquer empresa que presta serviços nessa área, pois considero que todas fizeram esta indústria evoluir, mas simplesmente visa o crescimento e a competência de cada qual nesta área. Afinal, tudo deve ser feito para o bem do consumidor, nosso verdadeiro alvo de satisfação, mas o que está acontecendo pode ser encarado como certo prejuízo para alguns segurados.
Entretanto, a questão ética vai ser tratada em um outro momento e já adianto: os corretores de seguros e segurados estão se tornando como escravos funcionais da autovistoria, como foram as décadas de venda do custo de apólice, sem qualquer ressarcimento financeiro de seu trabalho ao corretor. Por óbvio, o segurado também! Então, vou tratar inclusive de questões trabalhistas, já que houve um disparo para execução de tarefa por outrem, opino, que deve haver o dever da compensação financeira!
Armando Luís Francisco
Jornalista e Corretor de Seguros
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