Os contratos de publicidade das seguradoras podem desrespeitar os acionistas?
Sabemos que a intenção por trás dos contratos de publicidade e patrocínio também é proteger a marca. No entanto, essa proteção pode ocultar daqueles que investem na empresa a realidade de sua gestão.
Para ilustrar essa possibilidade, vamos considerar um caso hipotético e exagerado - não corresponde à realidade e não é baseado em fatos concretos:
Em um país chamado Despreparo, cuja moeda local era o Despreparo Real (DR$), havia seguradoras que anunciavam em diversas mídias. Porém, havia uma cláusula específica nos contratos que proibia as mídias de falar qualquer coisa que pudesse levar a uma piora na imagem da empresa anunciante, mesmo se fosse uma verdade.
Por consequência, mesmo jornalistas renomados que escreviam muito bem e recebiam vários prêmios eram contratualmente impedidos de ter uma percepção crítica da empresa - eles só poderiam falar bem dela. Com o tempo, os valores dos anúncios pagos começaram a diminuir gradativamente e as empresas corriam o risco de falência. No entanto, o contrato tinha moldado as mídias sociais para serem apenas propagandistas das empresas do país fictício.
Alguns tiveram que se unir em uma única empresa para sobreviver, pois ninguém lia mais nenhuma dessas fantásticas e bem escritas mídias, já que suas vozes não podiam apresentar um contraponto. E o que sobrava em Descontrole? O leilão de preços! Realmente, não havia mais nada além disso. Era a velha história de ganhar para perder!
De fato, como já mencionado, nada disso acontece em nosso país, e acredita-se que isso não aconteça em nenhum lugar do mundo. No entanto, esse exemplo fictício é útil para discutir um tema importante: será que a verdadeira natureza da empresa deve ser apresentada ao acionista, que investe seus recursos para ter lucro e conhecer totalmente seu investimento?
Então, por que uma empresa de Descontrole quer que a mídia fale ou escreva apenas coisas positivas, varrendo seus problemas para debaixo do tapete?
Todos os acionistas concordam que os mecanismos de proteção devem ser ativados para não difamar uma empresa, mas quando a questão é de administração ou problemas recorrentes, a companhia não deveria mostrar a verdade ao acionista?
Será que as empresas que tiveram outras intenções em Descontrole não queriam simplesmente comprar ou corromper a mídia local para evitar expor seus problemas? Às vezes pagando muito caro? Às vezes é muito barato? Às vezes, de graça? Se isso aconteceu em Descontrole, quem sofreu o maior prejuízo lá?
Não seria melhor ter incluído uma cláusula que exigisse que a empresa revelasse os problemas antecipadamente, dando um pequeno prazo para que ela os solucionasse de forma didática? Em Descontrole, infelizmente, as seguradoras tinham muito medo de serem coagidas e pagavam muito para não se expor. Será que o acionista sabia disso tudo?
A minha preocupação tem um fundamento único: o prejuízo ao bolso do acionista. Por isso, mesmo reconhecendo que este é um caso hipotético e hiperbólico, sem conotação com a realidade, pode ser mais um motivo para que os controles das empresas em geral e precisamente as seguradoras se aperfeiçoem, principalmente nos contratos e conceitos de publicidade, para tapar, antes mesmo que se inicie, algum sintoma que prejudique o acionista no mundo real.
Armando L. Francisco
Jornalista e Corretor de Seguros
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