O Descortino da Desigualdade
Hoje, 14 de julho, portanto, há 231 anos, em 1.789, ocorreu a queda da Bastilha, pretenso símbolo e ícone do poder absoluto do Estado no qual se aprisionavam revolucionários políticos, inimigos do rei Luis XVI.
No famoso “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” proferido em 1.755 por Jean Jacques Rousseau, situação na qual se estabeleceu uma ruptura definitiva de amizade com Voltaire (François Marie Arouet), parece que aquele pensador já antevia o que estamos vivenciando nos dias de hoje.
Portanto, quando Rousseau já preconizava 34 anos antes da Revolução Francesa a extrema desigualdade entre os homens, tenho para mim que ele descortinava o que fatalmente iria acontecer alguns anos depois.
Em certo trecho de seu discurso enfatiza: “os alimentos muito requintados dos ricos, com sucos apimentados lhes causam indigestões, a má- alimentação dos pobres, que muitas vezes falta e os leva, quando possível, a sobrecarregar avidamente o estômago, as vigílias, os excessos de todo o tipo, as fadigas, ouso a afirmar que o estado de reflexão é um estado antinatural e que o homem que medita é um animal depravado. ” (Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Tradução de Paulo Neves, L&PM Pocket, pág. 52).
Será que nestes tempos de pandemia não estamos enfrentando um estado antinatural semelhante aos tempos por ele preconizado?
Quando se toma conhecimento de inúmeras disparidades sociais e econômicas, que grassam em nossa sociedade não se pode pensar numa avassaladora desigualdade?
As notícias dão conta de que certos segmentos de nossa sociedade, além de exacerbados privilégios inerentes à função recebem proventos sob o rótulo de “penduricalhos” que se tornam digno de escárnio aos nossos iguais. Não se pode invocar o que queria dizer Goethe quando afirmava que sempre os homens procuram seus iguais numa visão elitista, mas, creio eu, jamais depravada frente ao que atualmente estamos passando.
Como se poderá então buscar novas formas de seguro de vida individual para proteção da família, quando só a avidez toma conta de empresários inescrupulosos? Como preconizar que o homem busque proteção, quando “espertos” se utilizam de expedientes e artimanhas para satisfação pessoal?
O próprio seguro saúde já ultrapassa às raias do bom senso, quando gestores de grandes entidades não cedem aos apelos populares de uma proteção mais acessível aos dias atuais.
É preciso meditar, e, muito! É urgente e imperiosa a necessidade de uma reforma drástica de costume e de hábitos para que não se entorne o cálice, que poderá gerar um amargor fruto de uma angústia ou aflição que ninguém, em um futuro próximo, possa prever.
A previsibilidade do evento, que dá cobertura ao risco assumido pelo segurador, poderá estar comprometida com estamentos que desestruturam pilares que sempre foram objeto de cálculos matemáticos determinantes das somas aportadas por aqueles que buscam sua proteção, assim como de todos os seus familiares.
Todavia, a ânsia atabalhoada em querer o império ditado pelo egoísmo gerará incertezas que ninguém quer, deseja e preconiza.
Tenho certeza de que uma reflexão mais profunda no que se passou ao longo da história poderá ser um verdadeiro caminho a ser trilhado por todos aqueles que cogitam que o homem é um ser bom por natureza, mas, que demonizado trará consequências imprevisíveis por parte de seus iguais.
Deixo, aqui, o registro de uma breve reflexão e um convite a todos nós para meditarmos um pouco, sem pretender jamais um estado onírico que só nos será outorgado quando atingirmos nosso fim existencial.
Porto Alegre, 14/07/2020
Voltaire Marensi - Advogado e Professor
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