Uma travessia virtuosa para a capitalização
Confira o artigo do professor sênior da FEA/USP e coordenador do Projeto Salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn, publicado no Estadão
Parece que desta vez teremos uma reforma de grande alcance na Previdência Social. Haverá mudanças mais ou menos esperadas, por exemplo a introdução de idade mínima no INSS, bem como algumas novidades, entre elas a criação de um pilar de capitalização para os novos trabalhadores.
A Previdência Social brasileira opera no regime de repartição, no qual os trabalhadores de hoje pagam os benefícios dos aposentados, sob a promessa de que, quando se aposentarem, os futuros trabalhadores pagarão as suas aposentadorias. É a lógica do pacto intergeracional e da solidariedade.
O que mudaria com a capitalização? Nesse regime, os trabalhadores depositam as contribuições em contas individuais que rendem juros (contas capitalizadas) e usam os montantes acumulados para se aposentar. É a lógica da individualidade, que, se adotada, mudaria a tradição do nosso sistema.
Os dois sistemas têm vantagens e desvantagens. No de repartição, o governo, que administra o fundo comum, pode praticar uma política redistributiva em favor dos trabalhadores mais vulneráveis à informalidade e ao desemprego, garantindo-lhes benefícios mínimos. Já no sistema de capitalização, como as contas são individuais, não há espaço para políticas redistributivas. Por outro lado, o sistema de capitalização incentiva os participantes a contribuírem mais e a adiarem sua aposentadoria, para aumentar o montante acumulado e usufruir benefícios maiores na inatividade. No sistema de repartição, os incentivos operam na direção oposta: como o fundo é comum, as pessoas se aposentam mais cedo para usufruírem individualmente dos recursos coletivos, que são dissipados precocemente, reduzindo a formação de poupança social.
No Brasil, infelizmente, a possibilidade de redistribuir a renda previdenciária não tem sido usada exclusivamente para favorecer os mais pobres. Pelo contrário, a redistribuição tem favorecido segmentos de renda superior, que se valem da proximidade do poder para introduzir regras que os favorecem na repartição. Por essa razão, a Fipe propõe a redução drástica do teto de benefícios no pilar de repartição, dos atuais R$ 5.800 para R$ 2.200, que é o valor da renda média dos trabalhadores. O objetivo da Fipe é garantir aos mais pobres a reposição integral da renda na aposentadoria. Com o teto reduzido e valendo para todos (inclusive funcionários públicos e militares), não seria mais possível extrair do fundo comum aposentadorias de grande magnitude. Para complementar a aposentadoria dos que ganham mais, a Fipe propõe um pilar de acumulação.
A criação de um pilar de capitalização tem sido criticada porque desviaria recursos que hoje financiam o sistema antigo, para as contas individuais. Criaria o chamado custo de transição, cuja magnitude dependeria do tamanho que se quisesse dar ao pilar de capitalização. Se o novo sistema fosse exclusivamente de capitalização, todos os recursos do sistema antigo teriam que fluir para as contas individuais e o Tesouro teria que arcar com a imensa conta. Isso foi feito em único país, o Chile, sob a ditadura de Pinochet. Num regime democrático, uma reforma com esse desenho seria impensável. Por essa razão, as propostas de reforma mantêm o pilar de repartição e criam um pilar complementar, de capitalização, para o qual a necessidade de recursos seria menor. Ainda assim, haveria um custo de transição.
Mas na proposta da Fipe o custo da transição praticamente desapareceria. O pilar de capitalização seria formado por meio das contribuições que hoje vão para as contas vinculadas do FGTS. Os novos trabalhadores usariam seu FGTS para adquirir planos de aposentadoria capitalizada no mercado. Teriam uma remuneração justa para seu FGTS e o utilizariam para uma finalidade mais nobre, a criação de um mercado de poupanças de longo prazo.
Os recursos que financiam os benefícios de repartição não seriam tocados. À medida que o sistema velho fosse desaparecendo (com a morte dos seus aposentados e pensionistas), as alíquotas de contribuição seriam gradualmente reduzidas, diminuindo a tributação sobre a folha de salários dos novos trabalhadores, favorecendo a formalização e a criação de empregos. E mais: transformado em poupança de aposentadoria, o FGTS deixaria de incentivar a rotatividade.
A proposta da Fipe combina as vantagens dos regimes de repartição e de capitalização e oferece um caminho seguro e virtuoso para a transição.
Hélio Zylberstajn é professor sênior da FEA/USP e coordenador do Projeto Salariômetro da Fipe
Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
https://www.facebook.com/groups/portalnacional/
<::::::::::::::::::::>
IMPORTANTE.: Voce pode replicar este artigo. desde que respeite a Autoria integralmente e a Fonte... www.segs.com.br
<::::::::::::::::::::>
No Segs, sempre todos tem seu direito de resposta, basta nos contatar e sera atendido. - Importante sobre Autoria ou Fonte..: - O Segs atua como intermediario na divulgacao de resumos de noticias (Clipping), atraves de materias, artigos, entrevistas e opinioes. - O conteudo aqui divulgado de forma gratuita, decorrem de informacoes advindas das fontes mencionadas, jamais cabera a responsabilidade pelo seu conteudo ao Segs, tudo que e divulgado e de exclusiva responsabilidade do autor e ou da fonte redatora. - "Acredito que a palavra existe para ser usada em favor do bem. E a inteligencia para nos permitir interpretar os fatos, sem paixao". (Autoria de Lucio Araujo da Cunha) - O Segs, jamais assumira responsabilidade pelo teor, exatidao ou veracidade do conteudo do material divulgado. pois trata-se de uma opiniao exclusiva do autor ou fonte mencionada. - Em caso de controversia, as partes elegem o Foro da Comarca de Santos-SP-Brasil, local oficial da empresa proprietaria do Segs e desde ja renunciam expressamente qualquer outro Foro, por mais privilegiado que seja. O Segs trata-se de uma Ferramenta automatizada e controlada por IP. - "Leia e use esta ferramenta, somente se concordar com todos os TERMOS E CONDICOES DE USO".
<::::::::::::::::::::>
Itens relacionados::
- Mercado de títulos de capitalização cresce quase 10% em janeiro
- Faturamento da Capitalização atinge R$12,3 bilhões na Região Sudeste
- Em abril, novos títulos de Capitalização no mercado
- Setor de Capitalização Arrecada R$ 21 Bi em 2018
- Reforma da previdência conta com sistema de capitalização
- CAPITALIZANDO: Título de Capitalização da Modalidade Popular
- Transição será principal desafio do modelo de capitalização da previdência, diz especialista
- Capitalização, vida e previdência são temas do segundo dia do 12º Corretor Nova Geração
- Setor privado espera viabilizar modelo de capitalização
- Com receitas e reservas em alta, Capitalização projeta crescimento maior para 2019
- Vice-presidente da FenaCap destaca a importância do Marco Regulatório da Capitalização
- Faturamento da Brasilcap cresce com venda de títulos de capitalização
Adicionar comentário