Epilepsia refratária: quando o tratamento não controla a convulsão
Neurologista explica o que é a doença e o porquê acontece
Movimentos involuntários e estereotipados, salivação excessiva e olhos virando para cima: esses são os sintomas mais conhecidos de uma convulsão. Quadro que é recorrente em pacientes diagnosticados com epilepsia, o que representa 2% dos brasileiros segundo a Organização Mundial da Saúde, ou seja, quase 3 milhões de pessoas.
Diferente das convulsões causadas por alguma condição médica, como infecção, insuficiência renal ou abstinência de álcool, por exemplo, as convulsões da epilepsia são recorrentes e não precisam de gatilhos. Já que essa é uma doença crônica causada por desajustes na atividade elétrica cerebral.
Segundo a médica neurologista pela Santa Casa de São Paulo e neurofisiologista pelo HCFMUSP, Dra. Natália Longo, as crises epilépticas podem variar para cada paciente de acordo com a região do cérebro afetada, mesmo assim, é muito difícil a convivência com qualquer tipo de convulsão.
“Além dos abalos e movimentos involuntários, a realização de movimentos de forma automática e a perda de consciência temporária são sintomas que tornam as crises ainda mais complicadas para o paciente e sua família. Por isso, uma pessoa epiléptica precisa fazer o uso contínuo de medicações anticonvulsivantes para, assim, poder conquistar uma boa qualidade de vida. Sem o medo constante de ter crise”, explicou.
Já a epilepsia refratária acontece quando o paciente faz o uso correto dos medicamentos anticonvulsivantes e, mesmo assim, o organismo não responde à medicação. Outros fatores que temos que observar para descartar e dizer que o paciente tem epilepsia refratária é verificar se o medicamento é o adequado para aquele tipo específico de convulsão, a dosagem está adequada e se o paciente está dormindo e se alimentando bem.
“Antes de diagnosticar uma epilepsia refratária é necessário levar em consideração alguns aspectos importantes, como: quantos medicamentos anticonvulsivantes este paciente já fez, os medicamentos são adequados para o tipo de crise, a dose do medicamento está adequada para aquela pessoa, pois em alguns pacientes as doses precisam ser bem mais altas do que em outros. Tudo isso precisa ser avaliado e, infelizmente, pode levar um tempo até chegarmos ao tratamento ideal”, elucidou.
Outro ponto relevante para evitar convulsões é fugir de algumas condições que podem estimular a recorrência como: ingestão de bebida alcoólica ou qualquer tipo de droga, medicamentos não autorizados pelo médico, mudança no padrão de sono, lugares com luzes piscando e às vezes até a prática de alguns exercícios físicos que alteram a frequência respiratória
Depois de avaliar todos esses pontos e confirmar que o tratamento não conseguiu impedir o surgimento das convulsões, pode-se concluir que a pessoa sofre com epilepsia refratária. Então, assim que diagnosticada, o médico tem que ir ajustando os medicamentos anticonvulsivantes de acordo com a resposta do paciente e verificar outras alternativas de tratamentos como dieta cetogênica e cirurgias, dentre elas a estimulação do Nervo Vago (VNS). Tudo com o objetivo de proporcionar uma melhor qualidade de vida para o paciente, mais saudável e segura.
Dra. Natália Longo – médica neurologista e neurofisiologista graduada em medicina pela Universidade Federal do Pará. Residência médica de neurologia clínica na Santa Casa de São Paulo. Título de especialista em Neurofisiologia pela Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). Fellowship no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) em neurofisiologia com ênfase em epilepsia, eletroencefalograma e videoeletroencefalograma.
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